“Único ganho com as UPPs foi territorialista e não social”, diz Bianca Comparato, que vive policial em longa


“Digo isso pelo olhar de uma carioca e como alguém que viveu uma policial na ficção. Ter a polícia que mais mata e a que mais morre não deveria orgulhar ninguém. Sem uma política focada em educação, saneamento básico, emprego e saúde não vamos melhorar. A situação do Rio espelha um problema nacional. A desigualdade discrepante econômica gera violência e a política de segurança pública atual é feita para manter tudo como está e não melhorar o que estamos vivendo”, pontua a atriz que é protagonista em ‘Intervenção’

*Por Domênica Soares

O cenário da violência no Rio de Janeiro está constantemente em pauta e, baseado nisso, o longa “Intervenção” vem ganhando destaque. Com sua primeira exibição no Festival do Rio, o filme com roteiro de Rodrigo Pimentel, direção de Caio Cobra e produção Media Bridge, é baseado em histórias reais sobre a rotina dos policiais nas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). Além disso, aborda também o convívio desses profissionais com os cidadãos que são reféns do tráfico e da milícia nas comunidades. Com Marcos Palmeira representando Major Douglas e Bianca Comparato no papel da soldado Larissa, “Intervenção” ainda conta com grandes nomes no elenco, como Zezé Motta, Rainer Cadete, Dandara Mariana, Juliana Araújo, Rafael Losso, Babu Santana, Antonio Grassi, entre outros.

Conversamos com Bianca Comparato, que interpreta a protagonista, e ela conta que sua personagem é uma mulher regrada e focada que acredita na disciplina e no trabalho. Ela sustenta sua avó e irmã e sempre teve o sonho em ser policial com o intuito de acabar com a violência em sua cidade. Acreditou no projeto das UPPs e entrou para a Polícia Militar. “Durante sua trajetória é fácil perceber que a realidade se tornou bem diferente do que Larissa sonhava. O filme mostra a mudança que acontece internamente, dentro dela, quando percebe que as UPPs falharam”, comenta. 

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A atriz diz que o filme contém histórias reais e que basicamente tudo na narrativa já fez parte do contexto da vida de alguém. “O retrato é do caos que os cariocas vivem. O longa mostra como o poder público não chegou às comunidades como prometido. O único ganho com as UPPs foi territorialista e não social. Isto é, o estado não investiu em saneamento básico, educação e tampouco segurança”. A atriz conta que o processo de gravação foi extremamente corrido e ela e sua equipe gravaram em apenas um mês. No entanto, Bianca passou por uma preparação forte ao longo de dois meses, com foco em treinamentos físicos. “Fiquei totalmente imersa durante todo o período de preparação e gravação. Foi foco total”, afirma. 

Bianca Comparato durante o Festival do Rio (Foto: Agnews/Wallace Barbosa)

Analisando a atual situação de violência do Rio de Janeiro, ela comenta que segurança pública deveria começar com a real valorização e preparo dos policiais. “Digo isso pelo olhar de uma carioca e como alguém que viveu uma policial na ficção. Ter a polícia que mais mata e a que mais morre não deveria orgulhar ninguém. Sem uma política focada em educação, saneamento básico, emprego e saúde não vamos melhorar. A situação do Rio espelha um problema nacional. A desigualdade discrepante econômica gera violência e a política de segurança pública atual é feita para manter tudo como está e não melhorar o que estamos vivendo”.

O ano de 2019 foi bonito para Bianca. Ela abriu uma empresa de games “Rio Games”, como foco em levar tecnologia para o entretenimento. Além disso, conta que lançou dois filmes “Morto Não Fala” e “Irmã Dulce”. Mas não para por aí. A atriz ainda gravou a última temporada da série nacional da Netflix “3%”. Sempre ligada à cultura, ela analisa o atual cenário. “Em momentos de crise temos que buscar a reinvenção. O que não podemos é parar. Com a entrada das empresas internacionais de streaming aparecem muitas oportunidades. A Globo não para de investir e nossas novelas estão cada vez melhores. Pra quem está começando, meu conselho é: ‘não desista’”.

Bianca vive a soldado Larissa em “Intervenção” (Foto: Agnews/Wallace Barbosa)

Com a carreira intensa e repleta de desafios, Bianca relata que sua paixão pela arte surgiu desde pequena: “Senti uma força no palco inacreditável”. Além disso, explica que sua vida vai muito mais além da correria da profissão. Bianca diz que faz vários trabalhos sociais e que todos os meses ajuda as Obras Sociais de Irmã Dulce. “Além disso, vou para Salvador todo ano visitar o Hospital Santo Antônio e também ajudo os animais sempre que posso”. E sobre seu maior sonho? Bianca dispara: “O maior deles é ser mãe”.