“Novela representa Brasil inteiro, então temos que mostrá-lo com todos os seus volumes e texturas”, diz Juliana Alves


Na expectativa para o lançamento da nova trama das 19h, na próxima segunda-feira (27), a atriz bate um papo com o site sobre aceitação e representatividade, carnaval e a maternidade tão desejada: “Acho que o interessante é entendermos que o padrão eurocêntrico não é o único bom. Entendermos que o bom é quando não nos limitamos. Acho que esse é o caminho, as coisas estão indo por aí, cada vez mais. As pessoas estão assumindo o que são e tem que ser acolhidas pela televisão também”

*Por Brunna Condini

Juliana Alves se prepara para estrear, no próximo dia 27, a nova trama das 19h da Globo, “Salve-se quem puder”, na pele de Renatinha, secretária executiva da empresa Labrador e uma ex-namorada, digamos, obcecada, de Rafael, vivido por Bruno Ferrari na história de Daniel Ortiz. “Quando a Kyra (Vitória Strada) é dada como morta, a Renatinha acha que o caminho vai ficar livre para ela, que é apaixonada pelo Rafael e não é de desistir”, diz Juliana.

Juliana Alves fala da nova personagem: “Ela não é de desistir” (Foto: Globo/João Miguel Junior)

A atriz está mais cacheada e com os fios mais volumosos do que nunca, e com orgulho, para viver a personagem que vai dar o que falar no folhetim dirigido por Fred Mayrink. Acho saudável a gente estar sempre repensando. Porque não podemos mostrar a natureza das pessoas nas novelas? Podemos trazê-las na trama também mostrando que são belas, podem estar elegantes, respeitando a sua identidade”, opina, e acrescenta sobre a questão da representatividade: “Claro que quando faço isso, também penso no quanto deve ser angustiante você assistir personagens que ama e perceber que são tão diferentes de você. Deve passar pela cabeça algo do tipo: será que tem algo errado comigo? É esse pensamento que sempre tento trazer para o trabalho: entender que uma novela representa o Brasil inteiro, então temos, que na medida do possível, mostrá-lo com todos os seus volumes, com todos as suas texturas. Isso para gente de cacho, com cabelo afro, e sem cacho também. É ótimo ver essa diversidade representada”.

Juliana, ao lado de Bruno Ferrari, nas gravações da nova trama das 19h (Divulgação)

Ela fala do início da trajetória, quando a questão da representatividade não era tão valorizada. “Quando comecei, não tinha isso na mídia, mas tinha na minha vida particular. Então, desde muito nova, percebia que tinha alguma coisa errada com a mídia e não comigo, com as pessoas fora daquele padrão”, lembra. “Olha, já alisei o cabelo também. E não tenho muito essa preocupação em mudar o visual dele. Se o personagem pedir para alisar, faço de novo. Representamos pessoas reais, que muitas vezes se sentem mais aceitas se alisam o cabelo. Existe essa personagem. Acho que o interessante é entendermos que o padrão eurocêntrico não é o único bom. Entendermos que o bom é quando não nos limitamos. Acho que esse é o caminho, as coisas estão indo por aí, cada vez mais. As pessoas estão assumindo o que são e tem que ser acolhidas pela televisão também”.

“Uma novela representa o Brasil, então temos que representá-lo com todos os seus volumes, com todas as suas texturas” (Foto: Globo/Reginaldo Teixeira)

Mãe de Yolanda, de 2 anos, do relacionamento com o diretor de TV Ernani Nunes, a carioca que já fez festinha para a filha com tema “Princesas da resistência”, em que bonecas negras faziam parte da decoração – e salienta a importância da representatividade desde cedo. Embora, isso ainda não seja exatamente um tema para conversar com a pequena. “Não falo, mas ela vê. Outro dia mesmo, tinham duas personagens em um desenho, uma branca e uma negra. E a Yolanda é minha filha e de um pai branco. Nós nunca dissemos que ela é isso ou aquilo, ela tem 2 anos e pode ser o que quiser. Mas Yolanda tem muitas referências de bonecas, personagens negros também, assim como os brancos. E vendo esse desenho, a personagem negra tinha o cabelo parecido com o dela, então, ela apontou e disse: “A Yolanda”. Mesmo o tom de pele da personagem sendo mais escuro que o dela. E eu pensei: “Está tudo bem, ela não está achando que aquela personagem não se aplica à identidade dela”. Acho que estamos fazendo um bom trabalho”.

Juliana Alves com o filha Yolanda e o marido, Ernani Nunes: “Acho que estamos fazendo um bom trabalho” (Reprodução Instagram)

E se tem um tema que também empolga Juliana ao falar é sobre a maternidade. “Estou apaixonada. Sonhei com a maternidade muitos anos. Vivo em êxtase desde que a minha filha nasceu”, confessa. “Outro dia, encontrei uma amiga, que acabou de ter bebê e ela se queixou que as amigas só falam da parte boa da maternidade, e quase não mencionam os perrengues. Tive que concordar com ela, porque as vezes esqueço, de verdade. Admito que para mim também é trabalhoso, mas é o trabalho que eu escolhi, curto tudo”.

 No entanto, na sua prática de sororidade, ela se solidariza com outras mulheres que não sentem da mesma forma: “Sei, por exemplo, que a amamentação para algumas mães é muito dolorosa, o parto também. E tem a privação do sono, do tempo, a angústia se a criança está bem mesmo. Os desconfortos com o corpo. Eu encarei tudo com naturalidade, mas não sou muito padrão, é comum isso tudo rolar”.

A atriz com a filha e o marido, quando Yolanda ainda tinha seis meses e teve uma festa com tema “Princesas da resistência” (Reprodução Instagram)

Juliana fala do tipo de mãe que é e pretende ser também. “Cuido muito. Mas procuro não mimar, não superproteger, para ela se confrontar com o ‘não”, porque a vida é cheia deles. Mostro que o “não” existe e ele pode ser bom, você pode reinventar outras coisas, a partir dele. E dou muito carinho, agrado sempre que posso, mas procuro ter um equilíbrio”, compartilha. “Puxo a orelha do pai. As vezes ele tem medo de dizer o ‘não” e ela sofrer. Eu digo que vai sofrer um pouquinho, mas esquece rápido. A gente é que lembra mais do ela”.

E já que a vivência da maternidade tem tido mais prós, será que a atriz já pensa em mais filhos? “Não descarto a possibilidade. Mas em 2020 tem muito trabalho. Vamos um passo de cada vez”.

“Não descarto a possibilidade de mais filhos. Mas em 2020 tem muito trabalho. Vamos um passo de cada vez” (Divulgação)

A atriz também comentou sobre sua volta ao carnaval, após seu afastamento, segundo ela na época, “contra a sua vontade”, da escola do coração, a Unidos da Tijuca, por onde foi madrinha de bateria durante seis anos. Em 2019, quem assumiu o posto foi Elaine Azevedo, que faz parte do programa “Donos da Bola”, da Band.

Discreta, Juliana informou que este ano estará de volta, só que mais “devagar”.  “Amo o Carnaval. É uma coisa meio inevitável na minha vida. Me obriguei a não me envolver antes da estreia da novela. Depois, vai ser da maneira mais simples possível, para que eu tenha o conforto no meu coração de estar no meu lugar, na escola que amo. E isso não vai mudar”, conta. “Recebi convites de outras escolas. Mas vamos com calma. Ano passado foi uma espécie de luto para mim, uma paixão e dedicação muito grandes, e de repente, você se vê privada daquilo. Claro que foi uma escolha não estar, saudável, respeitando meus sentimentos. Não podia estar ali mentindo que não estava sofrendo com aquilo. Mas vibrei, torci, da mesma maneira que antes. Este ano estou de longe também vibrando com tudo que está acontecendo. Vou participar, nunca mais estive lá. Então, vai ser algo tranquilo, acho que não vai ter envolvimento com mídia, fantasia. E também vou levar minha filha aos bloquinhos, bailinhos”.

“Amo o Carnaval. É uma coisa meio inevitável na minha vida. Me obriguei a não me envolver antes da estreia da novela” (Divulgação)