Um enredo dramático e com fortes construções psicológicas resume a narrativa da nova minissérie da Globo, Treze Dias Longe do Sol


A trama fala sobre o desabamento de um prédio que foi construido de forma irregular. A partir deste momento, existe um paralelo constante entre o estado de natureza e a sociedade civilizada. Com esta discussão, o público consegue passear pelos sentimentos mais profundos das pessoas

Elenco durante a coletiva de imprensa assistindo, pela primeira vez, ao episódio (Foto: AGNEWS)

“Acho que nós pegamos influências das séries americanas e inglesas, mas temos o nosso jeito de fazer. Mas não achamos nenhuma referência, estrangeira ou nacional, sobre a história que criamos. Acho que é uma trama bastante original que não tem nenhuma outra que possa ser comparada no mercado, principalmente, porque não é uma série catástrofe”, afirmou o diretor e roteirista de Treze Dias Longe do Sol, Luciano Moura. A nova minissérie da Globo traz uma trama surpreendente que fica dividida entre dois núcleos narrativos. O enredo de Luciano e Elena Soarez começa com o desabamento de um prédio que havia sido construído com mão de obra barata e materiais inadequados visando lucrar com o projeto. O engenheiro que manipulou a construção, vivido por Selton Mello, estava no local no momento do acidente junto de sua ex-namorada e filha do empresário que pagou pela obra, interpretada por Carolina Dieckmann. Os dois juntos de alguns trabalhadores ficam presos na garagem do edifício sem qualquer perspectiva de vida ou previsão de quando sairão do local. Enquanto isso, o filho do dono da construtora, papel de Paulo Vilhena, e a engenheira que também comandava a obra, vivida por Débora Bloch, enfrentam a mídia e a sociedade que insiste em saber qual foi a falha que resultou no desastre. “Tudo se intensifica muito para quem está lá embaixo: sentimentos, frustrações, a possibilidade da morte e dores. Ao mesmo tempo, eles precisam se unir para tentar ver a luz do sol”, contou o protagonista Selton Mello.

Carolina e Debora são as duas protagonistas femininas do elenco (Foto: AGNEWS)

Enquanto existe uma turma que foi, literalmente, soterrada pelos escombros do prédio, quem continuou na civilização também recebe uma avalanche de questionamentos que tornarão a vida de todos um pesadelo. Existe uma brincadeira constante entre o mundo do lado de fora e o mundo do lado de dentro. “A queda do prédio é apenas a chave para falar sobre a natureza das pessoas. No início, quem fica lá dentro faz parte da barbárie e lá fora é a civilização. No final da série, os papéis se invertem”, contou o diretor e escritor. Segundo Luciano, a cena mais emocionante falava exatamente deste universo dúbio onde um grupo que vivia em constante estado de natureza de repente se une em uma única causa. “Teve uma cena que ninguém esperou que fosse emocionante, mas todos ficaram os olhos cheios de lágrimas. Foi a primeira vez que as pessoas que estavam soterradas receberam um sinal das equipes de busca. Naquele momento, todos se conectaram e se tornaram um grupo”, relembrou.

A personagem de Carolina já possuia uma história mal resolvida com o papel de Selton (Foto: AGNEWS)

Apesar do foco central não ser o desabamento do edifício, o acontecimento relembra algumas tragédias que ocorreram no Brasil como a queda do metrô de São Paulo e o Palace 2, um edifício no Rio de Janeiro que havia sido construído com materiais adulterados. “Quando falamos da adulteração de materiais estamos falando de algo que não foi visto e foi feito por baixo dos panos. Para que isso seja feito, as regras precisam ser quebradas. Este não é o assunto principal, mas acho importante que esta corrupção esteja lá. Existe coisas que escrevemos e que estamos vendo acontecer nesta novela brasileira que não acaba”, lamentou o diretor.

Paulo Vilhena ao lado de Fabrício Boliveira que será o bombeiro responsável por tirar as pessoas do local do acidente (Foto: AGNEWS)

As críticas não param por ai. A série questionaria a indiferença da sociedade frente alguns acontecimentos terríveis que não são relembrados e discutidos. “Essa série tem um clima muito tenso e as tragédias são coisas que estão muito próximas de nós se a gente pensar que acontecem o tempo todo em qualquer lugar. Este tipo de leviandade e ganância trazem a falta de responsabilidade com o outro, de compromisso e de ética. Tudo isto está sendo representado nesta série. Este comportamento parece estar enraizado no Brasil e temos que lutar conta isso. Já vimos muitos prédios desabando no Brasil”, lamentou a atriz Débora Bloch. A série possui um personagem que representa esta indiferença da sociedade que é encarnado pelo ator Paulo Vilhena. “A maior crítica do personagem é o desdém quanto a tragédia, algo que acontece diariamente no nosso país e acreditamos ser algo normal. Estamos acostumados com estas coisas ruins e não paramos para pensar no que está errado. Invertemos os valores. Não existe uma compaixão”, pontuou o ator que faz um filhinho de papai desinteressado com a empresa o qual é dono e deveria gerenciar.

Elenco reunido para assistir ao primeiro episódio da série (Foto: AGNEWS)

Ao mesmo tempo que a série conta com um grande elenco como Selton, Carolina, Paulo e Débora, o diretor resolveu trazer atores desconhecidos do Ceará, do Recife e da Bahia. “Queríamos ser críveis, então a galera que fica soterrada junto com os principais são do nordeste. Isto de importar mão de obra mais barata acontece até hoje. A nossa intenção era que estes trabalhadores tivessem sotaque e vivencias nordestinas. Por isso procurei atores referenciais de cada estado, alguns que eu já conhecia e outros que me apresentaram”, explicou Luciano. A ideia era que os trabalhadores da construção do prédio fizessem jus ao nordeste já que muitas empresas convidam cidadãos de outros estados para baratear a produção. Um grande exemplo deste fato foi a criação de Brasília ou, mais recente, as obras realizadas em prol da Copa do Mundo e das Olimpíadas no Rio de Janeiro.

As gravações foram feitas no estúdio da O2 Filmes, em São Paulo, portanto a minissérie Treze Dias Longe do Sol é o produto de uma parceria da emissora com a produtora. “Acho que as parcerias ajudam a dar uma cara bacana para empresa e com a Globo não foi diferente. Tivemos a total liberdade de produção nesta série”, relatou o diretor. O elenco precisou passar um bom tempo na capital paulistana se dedicando às gravações, já que o tempo no set é superior ao da produção de um filme. “O cinema tem menos tempo de filmagens, mas é um produto menor o que faz a gente entrar mais na história. Apesar da série ter ganchos, segurar o público, temos dramas narrativos muito consistentes que acredito que irão mexer com telespectador. Queremos que cada cena tenha um motivo”, sugeriu Luciano. A maturação das gravações, logo, é superior a da produção de uma novela. Mas a extensão do período não impede que o resultado final não ganhe uma característica singela de novela. No entanto, devido ao nível de profundidade de cada personagem, o diretor consegue classificar o resultado final como algo que passeia por estes dois gêneros. “Para mim uma minisérie é uma história destrinchada em dez capítulos, cada um acrescenta algo na trama contribuindo para o resultado final. Os personagens começam de um jeito e acabam em outro. É um longa comprido”, concluiu.