“Nós somos dignos e temos uma profissão extraordinária que, para nós, é a melhor do mundo. Podemos não ser prioritários, mas a nossa função é libertária. Os nossos programas de entretenimento e peças de teatro são uma busca constante de ampliação do imaginário e da sensibilidade. Colocar os pés neste palco é um compromisso para sempre”. Estas palavras mais do que sensatas foram proferidas por Fernanda Montenegro durante a cerimônia de premiação do Troféu Domingão – Melhores do Ano, na noite de ontem. Foi difícil desgrudar o olho da TV e não se emocionar enquanto a atriz, baluarte da dramaturgia nacional, fazia este apelo ao grande público pelo fim das acusações e perseguições que a classe artística veem sofrendo constantemente. “Não somos corruptos. Não somos isto que nos acusam de forma tão agressiva e abrupta. Não somos ladrões diante da Lei Rouanet. Procurem os verdadeiros culpados”, pediu uma das maiores intérpretes que o Brasil já conheceu, que levou o título de Melhor Personagem por sua atuação como Mercedes em O Outro Lado do Paraíso.
Com discursos em torno de questões feministas e críticas políticas, o Troféu Domingão deu início ao encerramento do ano de 2018 condecorando os grandes astros e estrelas das telinhas que fizeram história ao longo de cada produto cultural, seja em séries, novelas ou, até mesmo, shows. Com um encerramento emocionante que entregou o título de Melhor Personagem para as atrizes Fernanda Montenegro, Marieta Severo e Adriana Esteves, a cerimônia contou com apresentações ao vivo de Zé Neto e Cristiano, Melim, Vitor Kley e Luan Santana, além de uma coreografia à ‘distância’ com Anitta, que levou para casa o título de Melhor Cantora, mas não pôde participar in loco do evento por ter um compromisso em Goiânia. O site HT acompanhou de pertinho tudo o que rolou nos bastidores. Vem saber de T U D O!
Correria, brilho e gente famosa antes mesmo das 16h já anunciavam que uma grande celebração estava prestes a começar em pleno Estúdios Globo, no Rio de Janeiro. No entanto, somente uma hora depois que tudo começou, com a entrega do primeiro troféu ao pequeno Davi Queiroz, que ganhou o prêmio na categoria Ator Mirim. “Foi muito legal começar a minha carreira com uma novela. Os meus amigos na escola passaram até a me chamar de Badu”, confessou o artista. E a partir desta vitória, o fofo acabou abrindo as portas para as estrelas companheiras de elenco de Segundo Sol. A novela foi a grande campeã da noite com um total de seis Troféus em oito categorias que estava concorrendo. A trama levou os títulos de Melhor Atriz com Giovanna Antonelli, Melhor Ator Coadjuvante com Chay Suede, Melhor Atriz Coadjuvante com Leticia Colin, Ator Revelação com Luis Lobianco, Melhor Personagem com Adriana Esteves -que também dividiu o título com Fernanda Montenegro e Marieta Severo-, além de, claro, o pequeno Davi. Com os ganhadores tendo sido selecionados pelo Voto Popular, o resultado acabou surpreendendo a própria equipe e elenco. “Juro que não estava esperando por isso”, garantiu Giovanna Antonelli.
Mas é claro que a premiação não foi baseada só com momentos de extrema felicidade. Alguns artistas e comunicadores aproveitaram a oportunidade para soltar o verbo sobre a instabilidade e insegurança política, além da crise de polarização que o Brasil sofreu nesta última eleição. “A vida da democracia é respeitar a troca de poder de forma que isto não limite a escolha e o direito alheio”, comentou Faustão, o grande anfitrião da noite. O apresentador instigou o editor-chefe do Jornal Nacional, William Bonner, a comentar sobre tantas informações que o próprio noticiou com relação ao momento atual. Em resposta a tanto ódio, o jornalista trouxe um momento de reflexão para o público. “Se as pessoas fossem mais empáticas, não teríamos festas de final de ano com familiares brigados como ocorrerá neste ano ainda mais por um motivo como este. A cada quatro anos temos eleições”, garantiu William Bonner, que já foi indicado nove vezes ao prêmio Jornalismo do Melhores do Ano. Neste ano, o apresentador do JN acabou perdendo o troféu para Sandra Annenberg, que já ganhou quatro vezes. A queridinha do jornalismo aproveitou o embalo para fazer um apelo: “Temos que nos colocar mais no lugar do outro. Olhar mais para o diferente e saber aceitá-lo”.
A política governamental brasileira acabou saindo de cena por alguns momentos para abrir espaço para a discussão em prol do movimento feminista. A bandeira foi levantada por ninguém menos que Sérgio Guizé e Bella Piero que tiveram papéis esclarecedores e importantíssimos para a compreensão da necessidade da discussão sobre a violência doméstica e o abuso sexual. Ambos atores de O Outro Lado do Paraíso, de Walcyr Carrasco, os dois representaram milhares de casos que acontecem diariamente no Brasil.
“Quero dedicar este prêmio a todas as Lauras que ainda precisam se libertar desta prisão que é a violência doméstica sexual e moral”, afirmou Bella Piero, que ganhou o Troféu de Atriz Revelação. A atriz deu vida a uma mulher que foi constantemente violentada ao longo de sua infância e adolescência dentro de sua própria casa. Estas relações abusivas acabaram traumatizando a personagem ao longo da sua vida adulta transformando momentos de descobertas sexuais da meninas em sinônimo de pânico.
Sérgio Guizé também fez questão de dizer que está junto das mulheres nesta batalha por direitos igualitários e equiparidade de gênero. “A minha luta também é a sua. Fiz este personagem pensando em cada mulher e espero que tenha conseguido mudar alguma coisa nesta sociedade branca, patriarcal e hipócrita”, lamentou o artista que levou o prêmio na categoria Melhor Ator. Ao tocar no assunto, o ator se emocionou de tal forma que precisou parar a entrevista para tomar uma água e se acalmar. O motivo? Diversos relatos que vem recebendo diariamente nas redes sociais de pessoas que estão sofrendo com tais brutalidades e violências domésticas. O ator garantiu estar satisfeito que o número de denúncias tenham aumentado durante a exibição de O Outro Lado do Paraíso. No entanto, ele afirmou querer mais. “Não consigo entender. É muito injusto”, lamentou. O ator interpretou o papel de um homem misógino e machista que colocava todas as suas frustrações em atitudes autoritárias com as parceiras que dizia amar.
A noite ainda contou com lindo gesto de sororidade. Mostrando a união e o poder feminino, Patrícia Pillar dedicou o prêmio de Melhor Atriz de Seriado às outras artistas que competiram junto com ela, Alice Wegmann e Taís Araujo. “Sinto que este prêmio é nosso”, comentou. Para isso, ela convidou as duas para subir ao palco demonstrando a importância da união frente a tantas dificuldades que o gênero sofre cotidianamente. “Ninguém larga a mão de ninguém! O movimento feminista é essencial para as nossas vidas. Estou ao lado de mulheres maravilhosas que também precisam ser reconhecidas”, garantiu Patrícia.
Pois é, o final do ano chegou. Em uma noite premiada e cheia de estrelas, o Troféu Domingão – Melhores do Ano valorizou o trabalho de quem está apenas começado e também quem já é mais que consagrado na teledramaturgia, no jornalismo e na música brasileira.
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