*Por Jeff Lessa
Os fãs da atriz Andréia Horta podem se preparar. Hoje, segunda-feira, dia 26 de agosto, ela retoma “O País do Cinema”, programa de entrevistas sobre cinema brasileiro que volta com uma pegada mais engajada. Esta quarta temporada trata de filmes da safra recente do cinema nacional – mas não só: de acordo com Andréia, a “cara” mais politizada da atração do Canal Brasil vai valorizar a abordagem de temas atuais, mesmo que seja necessário recorrer a películas antigas: “Essa abordagem começa na escolha dos filmes. Para você ter uma ideia, entre os longas que serão apresentados está ‘Leila Diniz’, de Luiz Carlos Lacerda, lançado em 1987. A protagonista Louise Cardoso e o Bigode (Luiz Carlos Lacerda, o diretor) nos deram uma entrevista ótima. Tratamos de assuntos como mulheres que perderam filhos durante a guerra, por exemplo” – conta a atriz-apresentadora. “A curadoria é feita em cima de filmes que tratam de assuntos relevantes hoje. A equipe é 80% feminina, temos filmes com equipes femininas, com temáticas femininas”.
Aos 36 anos, Andréia, que interpretou brilhantemente a cantora Elis Regina (1945-1982) no cinema e na TV, acredita que todas as ações perpetradas pelos seres humanos sejam políticas. “Todas as nossas atitudes são políticas. A atuação do jovem na periferia, a guerra que existe nessa cidade, a mãe que luta para sobreviver, mesmo um certo recorte do filme ‘Hebe – A estrela do Brasil’… tudo é política. E não estou aqui falando de ações do governo”, explica Andreia. “Estamos discutindo distribuição, as condições que são dadas para continuar fazendo cinema no Brasil. Daí termos um mix de muitas entrevistas com jovens cineastas em seus primeiros filmes e diretores e atores veteranos”, acrescenta.
O primeiro episódio de “O País do Cinema” trata de “Benzinho”, retrato carinhoso de uma família de classe média baixa da periferia do Rio, estrelado por Karine Teles e Otávio Muller no ano passado que ganhou quatro Kikitos no Festival de Cinema de Gramado e arrebatou as principais premiações do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro. Como sempre, as entrevistas são ilustradas com cenas das obras e imagens de making of. No quarto ano da atração, a atriz recebe realizadores, diretores e intérpretes, colocando em pauta uma abordagem crítica e informativa sobre a produção nacional. Dirigido por Marcello Ludwig Maia, o programa receberá convidados como Drica Moraes, Camila Morgado, Ítala Nandi e Daniela Thomas, entre outros.
“Uma das minhas curiosidades que eu quis abordar no programa foi sobre como foi filmar a história de uma personalidade tão controvertida como a Leila Diniz em 1987, quando a lei que não permitia que mulheres grávidas usassem biquíni nas praias ainda estava vigente”, revela Andréia. E pensa com positividade sobre a arte de se fazer cinema no Brasil: “Conquistas imensas não serão destruídas. Estamos mais organizados, temos muito mais informação do que nunca e a informação é nossa arma mais preciosa. As conquistas não serão derrubadas. Podemos até demorar a nos mobilizar por conta dessa quantidade gigantesca de informação, mas a sociedade civil está preparada”, acredita a atriz.
Outro trabalho recente de Andreia para o Canal Brasil, ainda sem data definida para estrear, é a série “Colônia”, de André Ristum, sobre o famoso manicômio de Barbacena onde morreram 60 mil pessoas entre a sua fundação, em 1903, e o fim dos anos 1980. A série conta a história de uma jovem grávida internada à força pelo pai, vivida por Fernanda Marques. Andréia interpreta a prostituta Elisa, também internada no manicômio sem apresentar qualquer sintoma de doença mental, que fica muito amiga da protagonista, graças à identificação entre as duas mulheres.
“A série se passa em 1971. A prostituta foi amante do prefeito de uma cidade do interior por cinco anos e é mandada para lá quando não interessa mais. Cerca de 70% dos internos não apresentavam sintomas de doenças mentais. Muitos morreram por causa de fome, frio etc. Essas pessoas eram largadas na instituição e deixadas lá para morrer”, conta a atriz. “Foi muito enriquecedor fazer este trabalho. As pessoas eram levadas de trem, exatamente como foi feito durante o Holocausto”.
Os fãs de Andréia Horta não perdem por esperar. Mesmo. Em outubro, a atriz estreia um espetáculo teatral baseado no filme americano “Foi Apenas Um Sonho”, inspirado no livro “Revolutionary Road”, escrito por Richard Yates em 1961, e estrelado por Leonardo Di Caprio e Kate Winslet em 2008. O livro conta a história de um casal que, nos anos 50, vive com os dois filhos em um subúrbio de Connecticut nos Estados Unidos. Ele tem um bom emprego tedioso, enquanto ela é uma dona de casa que abandonou o sonho de ser atriz. O casal não sabe se corre atrás de seus sonhos ou aceita viver sob o peso do conformismo. “O Fabricio Pietro adaptou o livro para o teatro. Estamos ensaiando e estreamos em outubro”, conta Andreia.
A adaptação para o cinema foi bem recebida pela crítica – tanto que mereceu quatro indicações ao Globo de Ouro por melhor filme (drama), diretor, ator dramático (Leonardo DiCaprio) e atriz dramática (Kate Winslet). Vamos ver como se sai no teatro nacional.
Artigos relacionados