“Tocar o coração das pessoas é muito difícil hoje em dia”, diz Marcélia Cartaxo


Ganhadora do Kikito de Melhor Atriz na 47ª edição do Festival de Cinema de Gramado pela atuação em “Pacarrete”, ela, agora, se prepara para lançar seu primeiro trabalho como diretora de longas: “Eu Vou Tirar Você desse Lugar”, cujo roteiro, escrito pelo ator Paulo Roque, sobre amores improváveis entre pessoas que enfrentam a marginalidade e crises sociais

Marcélia Cartaxo, a Melhor Atriz de Longa-Metragem na 47ª edição do Festival de Cinema de Gramado (Foto: Edison Vara/Agência Pressphoto)

*Com Thaissa Barzellai

Márcelia Cartaxo. Foi esse o nome comentado por todos os que passaram pelo Festival de Cinema de Gramado, mesmo dias após a sessão de exibição do longa-metragem “Pacarrete”, que conta com a direção de Allan Deberton. Sua interpretação no filme nordestino foi de uma sensibilidade e grandiosidade inigualáveis. Ela emocionou e arrebatou o coração dos espectadores e do júri ali presentes e, portanto, só havia um desfecho digno para essa história que ficou para o legado dessa grande festa cinematográfica: o Kikito de Melhor Atriz. E assim foi. Ovacionada, a atriz e diretora subiu ao palco para receber o prêmio. “É uma gratidão muito grande. Tocar o coração das pessoas é muito difícil hoje em dia”, disse. 

Com oito Kikitos na bagagem, entre eles o de Melhor Filme pelo Júri Popular e Oficial e Melhor Roteiro, a obra é uma grande homenagem à trajetória dessa artista nordestina. Bailarina e professora de dança aposentada, Pacarrete, interpretada por Marcélia, retorna à cidade natal no interior do Ceará com apenas um desejo: se apresentar para a população que sempre fez parte da sua vida. O que ela não esperava é que seria rejeitada pelos conterrâneos. Assim como a sua personagem, a atriz sabe muito bem o que é retornar a um lugar quando o destino se transforma em um caminho repleto de obstáculos. 

Mesmo ganhadora de grandes prêmios internacionais, como o Urso de Prata em Berlim por sua brilhante performance no longa-metragem “A Hora das Estrelas”, direção de Suzana Amaral, um dos títulos que consagrou a atriz no cenário audiovisual, Marcélia Cartaxo se viu sem ter para onde seguir: oportunidades de trabalho cessaram e, radicada no Rio de Janeiro, decidiu que era hora de voltar para casa – não para desistir, mas para encontrar outros caminhos na arte como a Pacarrete que sempre foi. “A Pacarrete é uma artista de exemplo e resistência, igual a mim. Ela é dança, cinema e, acima de tudo, arte. Ela abriu grandes portas para a gente na história de hoje”, declara em entrevista exclusiva ao site Heloisa Tolipan

A alegria estampada no rosto da atriz no 47º Festival de Cinema de Gramado (Foto: Edison Vara/Agência Pressphoto)

Em meio a tantos filmes incríveis apresentados na Mostra Competitiva, “Pacarrete”, pela sua força de elenco e de narrativa,  foi como uma luz no fim do túnel para o cinema nordestino ao ser consagrado como um dos grandes vencedores da noite. Como gestora cultural na Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope), Marcélia entende bem as dificuldades que o cinema nordestino passa para ser feito e efetivamente reconhecido, mesmo sendo uma das regiões que mais representa o cinema brasileiro mundo afora. No palco do Palácio dos Festivais, em Gramado, na Serra Gaúcha, no maior festival da América Latina, Marcélia ressaltou: “O Nordeste sempre teve grandes momentos na história do cinema, então ter esse espaço e esse reconhecimento no Festival de Gramado só nos engrandece e fortalece tudo aquilo que já estamos trilhando. Tudo isso vai ser importante para nós continuarmos  contando as nossas histórias ”. 

Agora, com uma força fullgás pós-Festival de Cinema de Gramado, Marcélia retorna à cidade natal, Cajazeiras, exatamente como a “Pacarrete”: com um desejo maior do que ela de fazer arte. Com três curtas-metragens no currículo, como o “Tempo de Ira”, a grande vencedora do Kikito se prepara para lançar seu primeiro trabalho como diretora de longas: “Eu Vou Tirar Você desse Lugar”, cujo roteiro, escrito pelo ator Paulo Roque, é uma grande amostra do que é a presença alagoana e paraibana por meio de um melodrama sobre amores improváveis entre pessoas que enfrentam a marginalidade e crises sociais. Sempre à frente da expansão da arte nordestina, Marcélia também lança esse ano mais três produções feitas na região que comanda sua trajetória: o documentário “Seu Amor de Volta” (Bertrand Lira), e o filme “Ambiente Familiar” (Torquato Joel) – além, claro, do grandioso “Pacarrete“, que chega em circuito nacional em 2020 após percorrer outros festivais. Pelo visto, o futuro de Marcélia vai ser do jeito que ela sempre quis. “Esse ano é nosso! Viva o Nordeste”.