Tiago Abravanel e a gordofobia: ‘Passo por isso e, muitas vezes, também de forma velada só por ser alguém conhecido’


O ator e apresentador fala de LGBTfobia, gordofobia, homenageia Fausto Silva e dos planos: “Quero focar na minha carreira como apresentador, comunicador. É isso que acho que tem me dado muita vontade de fazer, de me colocar à disposição, de trazer alegria para as pessoas, informação com leveza, emoção’

*Por Brunna Condini

No último domingo (20), no Super Dança dos Famosos, Tiago Abravanel deu seu recado. Tanto na dança – mesmo indo para ‘repescagem’, o ator arrasou e arrancou elogios dos jurados – , e também no discurso, sempre potente, afetuoso e consciente. Tiago apareceu em um dos ensaios usando uma bermuda nas cores da bandeira do arco-íris, símbolo do movimento LGBTQIA+, e aproveitou para falar sobre preconceitos. “É bom a gente lutar pela causa. É um recado para o Brasil. A gente precisa entender que todos nós merecemos amor e espaço. Eu, como um homem gordo também estou aqui no ‘Dança’. Me sinto lisonjeado de mostrar que a gente pode dançar sim, dar pinta sim, que não tem problema nenhum. A gente vai ser muito feliz assim”, disse ele, que recentemente comentou em sua rede social uma fala homofóbica da tia Patrícia Abravanel.

"É bom a gente lutar pela causa. É um recado para o Brasil. A gente precisa entender que todos nós merecemos amor e espaço. Eu, como um homem, gordo também estou aqui no 'Dança'" (Reprodução)

“É bom a gente lutar pela causa. É um recado para o Brasil. A gente precisa entender que todos nós merecemos amor e espaço. Eu, como um homem, gordo também estou aqui no ‘Dança'” (Reprodução)

Para ele, no mês do Orgulho LGBTQIA+, é bom lembrar que respeito é fundamental e todo mundo gosta. O que as pessoas precisam entender definitivamente sobre isso? “Que é um luta por aquilo que não deveríamos nem lutar, porque é o direito de toda e qualquer pessoa: respeito e amor. Por ser quem se é. E eu te respeito e te amo do jeito que é. Foi assim que os grandes sábios ensinaram. Está na Bíblia, no livro de Buda, nas religiões africanas, aliás, está em todo tipo de religião, de cultura: respeitar quem cada um é, independente de onde a pessoa venha, de qual orientação e cultura ela tenha”.

Sua experiência influencia muitas pessoas e você tem consciência disso, tanto que tem se posicionado cada vez mais nas redes. É exaustivo? “Não é fácil. Mas é exaustivo não por que temos que falar, e sim, porque não deveríamos ter que falar. A luta contra LGBTfobia é constante, diária. Quando a gente vai a algum lugar e olham diferente pra gente, por exemplo. Quando vemos pessoas morrendo por causa disso. É exaustivo, mas necessário. Precisamos falar, alertar, mostrar que somos normais, tão especiais quanto pessoas héteros. Somos felizes assim e temos esse direito, como todos. Por isso, vamos continuar lutando, falando, mas as pessoas precisam aprender, precisam querer aprender”.

Tiago reforça ainda, que sua família convive bem com seu marido, o produtor Fernando Poli, com quem está há cinco anos. “O Fernando faz parte da minha família, assim como eu faço da dele, com amor, respeito, carinho. Sempre fomos bem aceitos um na família do outro. As pessoas que conhecem a gente de verdade, sabem quem a gente é, e nos respeitam assim”.

"O Fernando faz parte da minha família, assim como eu faço da dele, com amor, respeito, carinho. Sempre fomos bem aceitos um na família do outro" (Reprodução)

“O Fernando faz parte da minha família, assim como eu faço da dele, com amor, respeito, carinho. Sempre fomos bem aceitos um na família do outro” (Reprodução)

O ator também fala de gordofobia e afirma que lida com esse tipo de preconceito até hoje. “Passo por isso e, muitas vezes, de forma velada, por eu ser alguém conhecido. Já passei por situações de gordofobia com colegas de trabalho, dentro das empresas que trabalhei, é muito difícil. E é uma luta constante também. A cobrança por padrões de beleza está incrustada na sociedade. A gordura para esses padrões está ligada a não produtividade, à preguiça, a não saúde. E não é sobre isso, cada um tem o direito de viver e ser respeitado como é. É sobre isso. Sempre”.

"A gordura para os padrões de beleza está ligada a não produtividade, à preguiça, a não saúde. E não é sobre isso, cada um tem o direito de viver e ser respeitado como é" (Divulgação)

“A gordura para os padrões de beleza está ligada a não produtividade, à preguiça, a não saúde. E não é sobre isso, cada um tem o direito de viver e ser respeitado como é” (Divulgação)

Ele também fez questão de agradecer a Fausto Silva, que deixou de apresentar o programa no último domingo. “Foi muito estranho entrar no palco sem o Faustão. Afinal de contas, estamos lá por ele, para homenageá-lo, por toda história dele”, diz Tiago. “Ele é um cara me inspira e inspira muitos comunicadores. Não só pelo trabalho na comunicação, mas no meu caso, também por ser um homem gordo com um microfone na mão, que comunica do jeito que acredita, que fala com o povo, que transborda alegria, e dá tantas oportunidades para tantos profissionais da arte. Então, tiro meu chapéu para o Faustão e terei sempre muito carinho e gratidão por tudo que ele fez pela minha carreira e pela carreira de todas as pessoas que já passara por lá”.

"Faustão é um cara me inspira e a muitos comunicadores. Não só pelo trabalho na comunicação, mas no meu caso, também por ser um homem gordo com um microfone na mão" (Reprodução)

“Faustão é um cara me inspira e a muitos comunicadores. Não só pelo trabalho na comunicação, mas no meu caso, também por ser um homem gordo com um microfone na mão” (Reprodução)

Fora caixa

Tiago Abravanel também apresenta o programa ‘Sai da Caixa’, direto da sua casa. A atração já está no quarto episódio e contará com 10 no total, sempre transmitido às quartas-feiras, às 11h. Ele gravou com nomes como Naiara  Azevedo, Wanessa, Di Ferrero, Negra Li, Thiaguinho, Péricles, Gloria Groove, Dudu Nobre e Supla. O conta que recebe os convidados que fazem covers de canções que amam, mas muito diferentes de seus estilos profissionais. E aproveita para destacar que canção mais fala à sua memória afetiva: “Acho que na vida temos trilha sonora para todos os momentos, mas uma das músicas que mais marcou e marca minha vida, é ‘Azul da cor do mar’, do Tim Maia. É uma música que sempre lembrei de cantar no karaokê, e depois pude entender sua história, vivê-la no palco, na história do Tim. Então, me toca de forma muito especial”.

Quem ou o quê você acha que deve ‘sair da caixa’ no país e por quê? “Quando usamos a expressão ‘sair da caixa’, queremos dizer que temos que ampliar a visão, sair da zona de conforto. Acho que todo mundo deve viver essa experiência, passar por isso. Mas o que deve sair de fato ‘da caixa’ ou não deveria nem existir, é o preconceito, a intolerância e o desrespeito”.

E que trecho de música elegeria como trilha deste momento que atravessamos no Brasil? “Com certeza ‘Apesar de você’, do Chico Buarque ( e cantarola). Apesar de todas as dificuldades que a gente passa. Apesar de ter o desgosto do desgoverno que temos tido. Apesar de tanta luta que vivemos, ainda temos esperança de que amanhã será melhor. Continuemos lutando”.

Apesar de não poder revelar ainda o que virá, Tiago adianta: “Quero focar na minha carreira como apresentador, comunicador. É isso que acho que tem me dado muita vontade de fazer, de me colocar à disposição, de trazer alegria pras pessoas, informação com leveza, emoção. E espero sempre poder fazer isso através do meu trabalho, como ator, cantor ou apresentador”.