* Por Carlos Lima Costa
Thais Müller cresceu sob os holofotes, em tramas como O Quinto dos Infernos e Kubancan. Às vésperas de celebrar 30 anos, ela tem a oportunidade de rever a novela que marcou sua estreia na televisão, aos 7 anos. Em sua quinta exibição, O Cravo e a Rosa (2000/2001) é um sucesso nas tardes da Globo. “Estou me sentindo tão bem comigo mesma. A maturidade traz isso. Ando realizada com a profissão, com a minha carreira, com tudo que eu já fiz. Sou privilegiada de sobreviver do que eu amo fazer. Mas tenho muito ainda para aprender”, frisa.
Na vida de Thais não existe espaço para preconceitos. “Eu acho que a gente já está cansada de ver o mundo só de um ponto de vista. Tem muitas questões aí que a sociedade ficou cega durante muito tempo e não dá mais. Basta de machismo, racismo, LGBTQIfobia”, pontua ela neste que é o mês do Orgulho LGBTQIA+.
No momento, a atriz vive na ponte aérea Rio/São Paulo, onde no último domingo, dia 5, encerrou temporada da peça Zoológico de Vidro, de Tennessee Williams (1911-1983), que deve retornar aos palcos, no final de julho, ainda na capital paulista. Com o espetáculo, além de atuar, ela estreou na função de produtora teatral.
Na trama, gravada em 2000/2001, a atriz deu vida a Fátima, filha da lavadeira Joana (Tássia Camargo) com o banqueiro Nicanor Batista (Luís Melo), que mantinha vida dupla com duas famílias e para elas, ele era o vendedor Manoel. Ela era irmã bastarda das personagens de Adriana Esteves e Leandra Leal. Duas décadas depois, Thais é uma mulher atenta às questões feministas, conquistas das mulheres, que, por exemplo, nos anos de 1920, época em que se passava a trama de O Cravo e a Rosa, eram, em geral, submissas aos homens. “A todo momento, passamos por situações machistas na vida, no cotidiano, na profissão. São opiniões, comentários. Se alguma mulher disse que nunca passou, ela não sabe, mas ela passou. Nessa questão, vemos um processo lento, mas juntas, nós mulheres, somos mais fortes. Hoje, temos que ter mais lugar de fala e espaço, profissionalmente, financeiramente e politicamente falando”, observa.
O encontro com os artistas que interpretaram os pais de sua personagem foi essencial em sua trajetória. “Eu fui privilegiada de estrear na TV em um projeto como esse, principalmente nesse núcleo. Fui muito bem abraçada e recebida. Outro dia, falei com Tássia, através da rede social, fiquei de ir visitá-la, em Portugal. O Luís eu também já encontrei. Devo muito a essas pessoas, às nossas trocas. O que absorvi deles me fez de fato continuar nessa profissão. Enfim, foi uma experiência maravilhosa”, enfatiza ela, que estreou como atriz no teatro, aos três anos, no espetáculo infantil A Dama e o Vagabundo.
O emagrecimento da atriz ao longo do tempo se deu sem cobrança externa. “Na pré-adolescência, quando estava gravando Kubanacan, fui vendo que para mim o estético era menos importante do que me sentir bem comigo mesma, fazer meu corpo funcionar, dormir bem e ter disposição. O se alimentar bem e se exercitar fazem parte de você estar bem com o corpo, enquanto engrenagem. Quando entendi isso, o externo veio como uma consequência. Amo muito o meu corpo e cuido muito dele. Agora, nas redes sociais, dizem que a minha carinha continua a mesma”, conta.
No horário da reprise, ela não costuma estar em casa, mas vive recebendo suas cenas, enviadas pelos fãs, através do Instagram e do Twitter. “A maioria das cenas eu tenho visto assim, porque muita gente me marca por dia. É doido como O Cravo e a Rosa é sucesso sempre, é atual, tão bem escrita. O Walcyr (Carrasco) realmente escreveu uma obra prima e o elenco, nossa, era um melhor do que o outro”, analisa a novela inspirada em A Megera Domada, de William Shakespeare (1564-1616). Na época, Thais adorava estar também com Eduardo Moscovis e Adriana Esteves, os protagonistas da história. “Eles eram amigos dos meus pais (os atores Anderson Müller e Marcella Muniz), frequentavam a minha casa, então, me sentia confortável ali com eles. São pessoas que eu amo encontrar”, explica.
Quando foi aprovada para seu début na TV, os pais de Thais lhe disseram que se em algum momento ela não quisesse mais aquilo era para avisá-los. E a escola não poderia ficar em segundo plano. “Estava tão feliz participando da novela, que foi o ano onde tirei as melhores notas, dez o ano todo. Eu levava tudo a sério. Ali eu decidi que iria mesmo ser atriz. Mas como tinha dois exemplos em casa, sempre tive os pés no chão, sabia que a profissão era uma montanha russa. Talvez isso tenha sido decisivo para eu fazer uma faculdade diferente e ter uma carreira paralela, porque gosto de ter segurança, estabilidade”, explica ela, que se formou em Design de Moda.
Estilista, Thais tem duas grifes, a camisaria Ladotê Ateliê e a Fito, de blusas de malha de algodão sustentável. A primeira chegou a ter loja física em São Paulo, mas fechou na pandemia. No momento, toda a venda é online. Mas ela planeja abrir um ponto físico, no Rio, reunindo as duas marcas.
Na televisão, não tem nenhum trabalho previsto. Mas lembra com carinho de Gênesis, sua mais recente aparição na TV, em 2021, onde viveu experiência inédita. Ela e a mãe interpretaram a mesma personagem. “Minha mãe viu muitas cenas minhas sendo gravadas no estúdio. Na verdade, eu fiquei no melhor dos mundos, ela que precisou correr atrás. Eu só tinha que ajudá-la nessa passada de bastão da melhor maneira possível. Temos uma forma de atuar parecida e minha mãe fez brilhantemente a continuidade da Maresca, que eu amei interpretar. Foi um momento marcante, que talvez nunca mais aconteça”, ressalta.Em 27 anos de carreira, Thais contracenou com a mãe somente na peça Rebeldes – Sobre A Raiva, dirigida por Rodrigo Nogueira, há dez anos. Com o pai, esse encontro artístico ainda não aconteceu. Mas os dois andam conversando sobre essa possibilidade. E com naturalidade, com o coração aberto e liberta de qualquer preconceito ela agiu quando Anderson lhe revelou que estava se relacionando com um homem. “Meu pai nunca deixou de ser quem é por namorar um homem. Isso não faz a menor diferença na nossa vida. Eu era nova quando estava entendendo isso, mas a partir do momento que eu descobri que o meu pai estava feliz com quem estava do lado dele, que eu vi meu pai feliz, pra mim isso é que importava. Ele é um pai incrível”, ressalta ela, que anda aprendendo cada vez mais com ele sobre produção e carrega a garra e o jeito workaholic da mãe.
Bastante focada em tudo que desenvolve em termos profissionais, Thais vai adiando o desejo da maternidade. “Vontade de ser mãe não falta, mas ainda tenho muito a realizar profissionalmente antes disso”, assegura ela, que há mais de dois anos, namora o ator Bruno Suzano, o filisteu Lessér, da série Reis da Record.
Além da atuação, outra paixão de Thais desde que se entende por gente é o Carnaval. Seu avô paterno, Anísio Abraão David, é presidente de honra da Escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis. Quando criança, ela já desfilava na agremiação, com a camisa da escola, na diretoria. “Em 2020, desfilei pela primeira vez como destaque de chão da Beija-Flor. Eu vim na frente do abre-alas, foi a realização de um sonho”, explica ela, que, claro, já havia passado pela Marquês de Sapucaí, em cima de um carro alegórico. “Esse momento é levado muito a sério, é a melhor época do ano. Eu me sinto em casa no Carnaval. Sempre peço ao carnavalesco para me explicar a história do desfile, vou aos ensaios na quadra, vejo ensaio da Comissão de Frente”, finaliza Thais.
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