Thainá Duarte está em séries no streaming, incluindo “Cangaço Novo”, top 10 em 49 países, e fala do boom ‘nordestern’


Ela se destaca em “Cangaço novo”, do Prime Video, e acaba de gravar ‘Maria Bonita’, para o Star+, ao lado de Isis Valverde e Julio Andrade. A atriz que começou na profissão aos 13 anos, e já pensou que não servia para ela, tem feito do audiovisual brasileiro sua praia, e também integra o elenco do filme “Barba ensopada de sangue”, adaptação para o cinema da obra de Daniel Galera, na qual interpreta uma caiçara e faz par com Gabriel Leone. Sobre o bom momento para as produções inspiradas no cangaço ou no chamado ‘bangue-bangue’ (‘nordestern’) do sertão e a representatividade que isso oferece aos artistas nordestinos, Thainá observa: “A inclusão no audiovisual e em quaisquer âmbitos da sociedade, tem se tornado uma demanda cada vez mais latente. As pessoas querem se enxergar nas histórias, querem se ver representadas nas telas, nas propagandas, nos espaços de poder, nos espaços legislativos e por aí vai. Como profissional e pessoa, é um privilégio participar desse momento de retomada e saber que represento também muitas mulheres negras que desejam se ver desgarradas de estereótipos e representadas em personagens profundas e duais”

*Por Brunna Condini

Destaque no elenco de “Cangaço Novo‘, série do Amazon Prime Video que se tornou sucesso ao redor do mundo, entrando para o Top 10 das mais assistidas da plataforma em 49 países, Thainá Duarte fala do momento no audiovisual brasileiro, que vem deixando para trás a representação de um Nordeste somente associado à seca, pobreza e exploração. Sabendo que ‘Cangaço Novo’ amplia esse recorte trazendo uma narrativa diferenciada com cenas de ação inéditas por aqui, a atriz que grava no momento ‘Maria Bonita‘, nova série Star+, reflete sobre o momento em que estão na ‘crista da onda’ produções inspiradas no cangaço ou no chamado ‘bangue-bangue’ (‘nordestern’) do sertão. Tendo até uma novela com o tema – ‘Guerreiros do Sol‘ (Globoplay) prevista para 2025 . “Acredito que essa leva de produções vem de uma demanda natural do público por remontar histórias que se passem no Nordeste, para que o povo se sinta representado pela obra e pelos personagens. O gênero é por si cativante e não à toa se reinventa mais uma vez mostrando sua potência com o sucesso da série”, diz Thainá, nesta entrevista ao site, ilustrada por fotos exclusivas de Fábio Audi.

Ela também aponta a importância da representatividade de atores e atrizes nordestinos nestes trabalhos. “A escolha de um elenco majoritarimente nordestino foi o que trouxe um traço autêntico e forte pra trama de ‘Cangaço Novo‘. O que eu pude testemunhar durante as preparações e em cena com o elenco foi um repertório extremamente vasto, que traz novas nuances para as interpretações e deve ser explorado. Nesta série, também contamos com a presença do Thales Junqueira, diretor de arte e Pernambucano, durante toda concepção do projeto. Quanto mais plural forem os profissionais a tomarem decisões, sejam nas obras como na direção dos streamings, saímos ganhando, porque estaremos nos abrindo para novas perspectivas de Brasil e mundo”, analisa a atriz, que tem origem paulistana. “Meu pai era Baiano, mas faleceu quando eu tinha 4 anos e minha mãe é mineira, no entanto sou adotada por uma família de São Paulo”.

Thainá Duarte brilha no streaming com narrativas que colocam o Nordeste em foco e fala do momento no audiovisual (Foto: Fábio Audi)

Thainá Duarte brilha no streaming com narrativas que colocam o Nordeste em foco e fala do momento no audiovisual (Foto: Fábio Audi)

Observando o tema da diversidade de existências no audiovisual, que tem sido pauta constante e objetivo de muitas produções, Thainá conclui: “A inclusão no audiovisual e em quaisquer âmbitos da sociedade, tem se tornado uma demanda cada vez mais latente. As pessoas querem se enxergar nas histórias, querem se ver representadas nas telas, nas propagandas, nos espaços de poder, nos espaços legislativos e por aí vai”.

E celebra:

Como profissional e pessoa, é um privilégio participar desse momento de retomada e saber que represento também muitas mulheres negras que desejam se ver desgarradas de estereótipos e representadas em personagens profundas e duais – Thainá Duarte

"Essa leva de produções vem de uma demanda natural do público por remontar histórias que se passem no Nordeste, para que o povo se sinta representado" (Foto: Fábio Audi)

“Essa leva de produções vem de uma demanda natural do público por remontar histórias que se passem no Nordeste, para que o povo se sinta representado” (Foto: Fábio Audi)

Aos 28 anos, ela faz questão de honrar sua trajetória até aqui. “Me tornei atriz por curiosidade ao ofício de interpretar outros seres e também por consagração do mesmo, porque em todas as vezes que cogitei desistir da profissão por falta de trabalho, ela me puxou de volta, assim como uma mestra que te deixa distante tempo suficiente para que você aprenda uma nova lição e depois te resgata. Hoje o que tenho conquistado vem do meu trabalho e é muito gratificante sentir o retorno do esforço colocado”, vibra.

"É um privilégio participar desse momento de retomada e saber que represento também muitas mulheres negras que desejam se ver desgarradas de esteriótipos e representadas em personagens profundas e duais" (Foto: Fábio Audi)

“É um privilégio participar desse momento de retomada e saber que represento também muitas mulheres negras que desejam se ver desgarradas de esteriótipos e representadas em personagens profundas e duais” (Foto: Fábio Audi)

“Comecei a estudar atuação aos 13 anos fazendo teatro infantil, na mesma época em que fazia trabalhos de modelo para catálogos de roupa. Aos 15, já fazia testes para conteúdo, e aos 17, quando chegou a época do vestibular, como não tinha sido aprovada em nenhum teste como atriz pensei que não levava jeito. Resolvi então tentar uma carreira que pudesse me dar dinheiro (risos), já que a profissão que me brilhava os olhos naquele momento não parecia para mim. Prestei vestibular para Engenharia e passei na Federal de São Paulo. No segundo mês cursando, fiz o que seria meu último teste como atriz para o longa ‘Mundo Cão’ (de 2014, em trabalhou ao lado de Lázaro Ramos ), do diretor Marcos Jorge e acabei pegando o papel. Desde então venho afinando minha relação com o ofício”, conta Thainá, que se destacou em ‘Aruanas’, série do Globoplay, ao lado de Débora Falabella, Taís Araujo, Camila Pitanga e Leandra Leal.

Daqui pra frente

Conhecida como ‘Roliúde Nordestina‘, Cabaceiras, no Cariri paraibano, é cenário da série ‘Maria Bonita‘, do Star+, gravada no município, que tem Thainá no elenco como Lurdes e traz Isis Valverde como Maria Bonita e Júlio Andrade como Lampião. Depois da Dilvânia de ‘Cangaço Novo‘, a série tem sido mais uma imersão neste universo para a atriz. “Lurdes é uma personagem densa e cativante. Filmar na caatinga tem suas peculiaridades e desafios. O mais impactante é a vegetação que muda drasticamente com a pouca água que vem da chuva. Quando chegamos no meio de agosto, ela estava toda verdinha porque esse foi um ano atípico de muita chuva, após 10 anos de seca. E já no final das filmagens a vegetação estava ocre e pastel e com os galhos das árvores aparentes. É emocionante assistir a essas mudanças e também filmar em circunstâncias de calor excessivo, a equipe toda se empenhando pelo resultado da obra”, divide.

Me tornei atriz por curiosidade ao ofício de interpretar e também por consagração do mesmo, porque em todas as vezes que cogitei desistir da profissão por falta de trabalho, ela me puxou de volta – Thainá Duarte

Thainá Duarte, Alice Carvalho e Allan Souza Lima são irmãos na série 'Cangaço Novo' (Divulgação)

Thainá Duarte, Alice Carvalho e Allan Souza Lima são irmãos na série ‘Cangaço Novo’ (Divulgação)

E completa, sobre a imersão para realizar esse tipo de trabalho: “Agora estou de volta a São Paulo. Dessa vez fiquei na Paraíba por dois meses, foi um processo mais rápido em comparação com ‘Cangaço Novo’, que ficamos oito meses entre pré produção e filmagens. É sempre um esforço coletivo com a equipe percorrer longas distâncias para retratar cenários peculiares pelo país seja por períodos mais longos ou mais curtos. E nos períodos mais demorados a saudade da minha família aperta, sinto falta”.

Mas nada disso é uma questão para Thainá, que pretende viver da profissão durante toda sua vida e antecipa. “Ano que vem também está previsto o lançamento de “Barba ensopada de sangue“, adaptação para o cinema da obra de Daniel Galera, dirigido por Aly Muritiba. Vivo uma caiçara que faz par com o Gabriel Leone, uma junção das personagens femininas escritas por Galera, que foram adaptadas por Aly. E foi a partir do estudo da obra e do roteiro que tracei minha relação com a personagem. Assim como o livro nos convida a um mergulho profundo na cidade litorânea, Jasmine é também uma representação dessa imersão a partir da chegada de Gabriel”. E como nem só de sonhos profissionais a vida da atriz é feita, ela projeta:

Meus planos hoje envolvem ter minha casa e continuar cuidando da minha saúde pra poder trabalhar bem e cada vez mais – Thainá Duarte

“Me tornei atriz por curiosidade e também por consagração ao ofício, porque em todas as vezes que cogitei desistir da profissão por falta de trabalho, ela me puxou de volta" (Foto: Fábio Audi)

“Me tornei atriz por curiosidade e também por consagração ao ofício, porque em todas as vezes que cogitei desistir da profissão por falta de trabalho, ela me puxou de volta” (Foto: Fábio Audi)

Créditos

Foto: Fábio Audi
Stylist: Jeff Ferrari
Make: Leila Turgante