*Por Brunna Condini
Na pele de do advogado Leandro, um dos vilões da novela “Amor sem Igual”, na Record, Gabriel Gracindo fala do personagem, um vilão mais comum, mais vida real, segundo seu intérprete. “Ele é o tipo de pessoa que só olha para si mesmo e vê as pessoas como objetos para alcançar seus objetivos. É um cara sem escrúpulos, totalmente focado em subir na vida e ter poder. Vive naquele mundo de aparências, dos ternos bem cortados e carros de luxo. E é também um mulherengo, vivendo sempre rodeado de garotas de programa e qualquer barra de saia que apareça pela frente”, detalha Gabriel, que, ao lado de Tobias (Thiago Rodrigues) e Bernardo (Heitor Martinez), compõe a trinca de vilões da trama de Cristianne Fridman. “Na composição de um personagem me apoio no que tenho à mão. O figurino me ajudou muito nessa novela. Cada gravata, relógio, terno bem cortado, foram me levando a não ver mais o Gabriel no espelho e, sim, o Leandro. E o texto foi fundamental também. Ele fala cada barbaridade, sem nem alterar a voz (risos). Quis trazer humor para ele e coloquei pitadas de sarcasmo e cinismo para dar uma cor”, completa o ator que está na emissora há 16 anos.
Gabriel vibra ao falar de trabalho. Se paixão se herda, não temos certeza, mas vindo de uma família de grandes atores, sendo filho de Gracindo Júnior e neto de Paulo Gracindo (1911-1995), a atração pelo ofício era inevitável. Em papo exclusivo ao site Heloisa Tolipan, o ator fala da família, da carreira, da vida pessoal e de sonhos.
Acredita que uma família pode ter um legado em determinada profissão, que influencia, quase que de forma absoluta, a escolha da atividade profissional dos seus descendentes? “Acho que um pouco, sim. É como ser filho de sapateiro e entender a paixão pelo ofício. Você vê o brilho nos olhos do seu pai e quer aquele brilho nos seus olhos também, você entende a profissão”, analisa. “Tenho muito orgulho de ser a terceira geração desse nome nessa profissão, mas nunca me senti forçado a seguir o mesmo caminho. Pelo contrário. Meu pai, por saber que essa profissão exige muito mais que talento, nunca me estimulou muito. Ele me deixou voar com minhas próprias asas, sempre me escorando com orgulho, mas me deixando cair e levantar”.
Aos 42 anos, contabilizando 24 de carreira, Gabriel compartilha suas memórias de infância, ao lado do pai e do avô. “O teatro sempre fez parte do meu dia a dia. Camarim, coxia, esperar meu pai na plateia depois do espetáculo. Sempre desenhei na parte de trás das folhas de script de novela”, recorda, com carinho. “Lembro de ver meu pai e meu avô na TV e achar a coisa mais comum do mundo. E ao mesmo tempo, ter noção que essa profissão era muito séria, competitiva e instável. Cresci tendo muito respeito pelo trabalho de ator”.
Da infância ainda, ele fala dos ensinamentos que recebeu do avô, Paulo Gracindo, e que levou para a vida. “Ele era um exemplo de homem e de artista. Um apaixonado pelo que fazia, pelo palco. Até o fim da vida dele, já bem velhinho, protagonizava espetáculos com maestria e segurança. E nunca parou de trabalhar. Tem uma frase dele que ficou em mim: “Vivi no palco e atuei na vida.”
Acha que se parece com ele? “A genética dos Gracindo é muito forte, muito presente. Fisicamente somos bem parecidos. Tem uma questão da voz também ser parecida. Às vezes me vejo em cena e me surpreendo com a semelhança com meu pai e meu avô. E é claro que isso me deixa muito feliz e honrado, eles são meus mestres.”.
Gabriel comenta sobre o momento da escolha da mesma profissão do pai e do avô. “Na verdade, não foi uma decisão, aconteceu. Sempre fui aquele menino que inventa personagens para si mesmo, que escreve histórias. Sempre gostei muito de ler. E na adolescência fui sentindo a necessidade de expressar mais isso”, conta. “O momento marcante foi quando fui convidado por um amigo para entrar no elenco do espetáculo “Hoje é Dia de Rock”, que ia se apresentar em um festival de teatro amador. A partir daí nunca mais parei. Entrei para escola de teatro do Tablado e tive a sorte de emendar um trabalho depois do outro”.
O carioca também construiu sua própria família. É casado com a atriz Rayana Carvalho desde 2013, com quem tem o pequeno Leon, de 2 anos. “Tenho também o João, de 22. Eu e Rayana pensamos em termos mais um filho, para fechar essa família linda”, revela, e entrega o que o faz feliz atualmente: “Me realizo com os dias bem vividos, com um momento de meditação, exercício físico, uma boa alimentação. Estudo e família. Sou um “gerente” de mim mesmo e tento fazer meus dias serem harmônicos e produtivos. Mas nem sempre é possível né?”.
O desejo de dar mais irmãos aos filhos pode ser inspirado em sua própria experiência. Gabriel é irmão da também atriz Daniela Duarte, do ator Pedro Gracindo, e de Yan Gracindo. Sobre as memórias da família, ele divide inclusive, a recordação do espetáculo que fizeram em homenagem a Paulo Gracindo, há alguns anos, em que no palco estavam ele, seu pai, Gracindo Júnior, e os filhos Daniela e Pedro. E se emociona ao lembrar de um trecho do do poema de José Régio, “Cantigo Negro”, encenado pelo avô e pelo pai, em outros espetáculos e na ocasião: “A peça também falava do ofício de ser ator. Gosto muito do início: “Vem por aqui, dizem-me alguns com olhos doces, estendendo-me os braços e seguros de que seria bom que eu os ouvisse quando me dizem “Vem por aqui””.
Gabriel afirma se realizar como ator, no entanto, diz que a escrita é outra paixão. “Adoro escrever. Tentaria ir por esse caminho. Mas não é para qualquer um, né? Tem que ter muito talento e vocação”, conta, modesto, e já se aventurando no campo da escrita. O ator escreveu “Perdido”, montada no final do ano passado. “Foi uma temporada de apenas um mês, por conta de estar fazendo a novela também. Quero continuar com esse projeto, viajar com a peça e depois voltar mais uma vez para o Rio. É um texto no qual eu acredito muito, quero levar ele a mais pessoas”.
Falando de cultura, ele aproveita para comentar o atual cenário para a do país. “É um momento perigoso, pois a arte tem que ser livre, tem que ser plural e abrangente. Não podemos andar para trás e flertar mais uma vez com a censura. Estamos enfrentando dificuldades com pautas em espaços e verbas públicas por conta de ideologias divergentes. Mas acredito que os movimentos da vida são cíclicos e que tudo o que está acontecendo vai colocar um espelho diante de todos e a mudança virá para melhor”, observa.
É engajado em algum tipo de movimento cultural ou social? “Sou engajado com a justiça e o respeito. Acredito nas visões diferentes de cada um, no diálogo que isso gera. Tento me expressar e comunicar com o que escrevo para o Teatro. E me esforço para no dia a dia, nos pequenos contatos humanos e sociais, em cada pensamento que tenho, contribuir com uma energia harmônica e limpa”.
E como ano que começa é época de planejar e jogar sonhos para o universo, Gabriel Gracindo não perde tempo. “Quero concluir o roteiro do meu longa-metragem e conseguir produzi-lo”, anuncia. “Sonho também em um dia ter a minha casinha no meio do mato e uma vida mais calma”.
Artigos relacionados