Jacqueline Sato comemora a conquista da sede da sua House of Cats, que resgata gatos abandonados


A atriz vibra com a primeira sede da sua ONG, conta da recente experiência em Los Angeles, e sobre a possibilidade de uma carreira internacional, e exalta a importância da diversidade nas produções: “Somos minoria, mas somos muitos. Se falarmos apenas em nipo-descendentes somos cerca de 1.3 milhões só em São Paulo, e mais de 2 milhões se formos contar o restante dos estados. E a falta de representatividade é negativa para todas estas pessoas que não se veem nos conteúdos que assistem ou folheiam. Ao longo dos anos tenho observado melhora, e mantenho a fé e a esperança que essa mudança só cresça”

*Por Brunna Condini

Essa moça está diferente. Depois de uma temporada em Los Angeles, com o objetivo de se aprimorar como atriz, e também de olho nas possibilidades de uma carreira como roteirista, Jacqueline Sato, voltou ao Brasil celebrando mais uma conquista. Mas desta vez, fruto do seu engajamento em prol da causa animal.

Jacqueline vibra com a conquista da sede da sua ONG: “Foi um dos melhores presentes que já recebi” (Foto: Patrícia Simões)

Ao lado da mãe, Magali, a atriz é criadora da House of Cats, que resgata gatos abandonados e em situação de maus-tratos, cuidando deles até que sejam adotados, comemorou a recente conquista da primeira sede da ONG. “Foi uma das melhores surpresas e presentes que já recebi. Estava viajando e meu pai contou que havia alugado um espaço para gente. Vixe, aí a emoção tomou conta. O fato de ser uma doação do meu pai, também demonstra o quanto ele apoia e incentiva o nosso trabalho”, vibra. “Aliás, ele sempre apoiou muito, afinal os animais ficavam bastante tempo lá em casa, e a verba sempre foi da nossa família. Até hoje nunca tivemos apoio ou patrocínio de nenhuma marca. Apenas de algumas voluntárias que fazem doações, com a Dra. Priscila Tenuto Guedes, que não nos cobra a consulta dos animais resgatados e dá um desconto em procedimentos necessários. Mas uma doação deste porte, eu jamais poderia imaginar. Meu Deus, agradeço até hoje. Sabe quando você fica tão, tão feliz, que seu peito parece que vai explodir, como se seu coração estivesse tão inchado que não coubesse mais ali e quisesse te levar para dar uma volta voando por aí? Foi tipo isso, me senti flutuando”, tenta traduzir, eufórica.

Ao lado da mãe, Magali, a atriz vibra: “Com a sede, vamos ampliar o número de doações, isto é o principal” (Foto: Patrícia Simões)

Desde criança, Jacqueline experimenta o amor pelos animais, mas a House of Cats começou de forma despretensiosa e na casa da atriz. Ainda assim, a iniciativa resgatou desde 2011, quase 1200 gatos. “Com a sede, vamos ampliar o número de doações, isto é o principal. Queremos fechar parcerias com produtos para gatos, e também lançar os nossos, com o intuito de reverter o lucro para a causa. Tudo com os personagens da nossa logo, que são desenhos de gatinhos super fofos: Shiro, Kuro, Kiiro, que criamos juntos. Tem um pouco da mão do meu irmão Anderson Sato, um pouco da mão do meu irmão Victor Sato, e muito pitaco meu e da minha mãe. Estamos muito felizes”, conta Jacque. “O próximo passo é transformar a sede em realidade. Lá em casa ninguém fica de fora neste processo. Eu comecei tudo, mas esse projeto só cresceu porque cada um foi colaborando, doando. Com os trabalhos como atriz, a correria da carreira, e principalmente, as mudanças de endereço que fazem parte desta profissão, a House of Cats jamais teria conseguido crescer se não fosse pelo esforço de todos da família e das voluntárias que se uniram a nós. Aproveito aqui, para agradecer muito mesmo, por tudo”.

“Eu comecei tudo, mas esse projeto só cresceu porque cada um foi colaborando, doando” (Foto: Patrícia Simões)

Ela equilibra seu engajamento, inclusive nas causas ambientais, e o trabalho como atriz, com a mesma dedicação. No elenco da série “Os Ausentes”, da TNT, que a cada episódio contará o caso de uma pessoa que procura a agência para solucionar um desaparecimento, com estreia prevista para o primeiro semestre, ela interpretará Ayumi. “Ela é surpreendente. Tem muitas camadas, que fogem do óbvio, e personagens assim, dão mais prazer de investigar e trabalhar. Mas sobre ela, só posso dizer que tem uma relação extremamente complicada com a mãe, interpretada pela atriz Cristina Sano”, detalha. “Essas tensões vão se agravando ao longo da trama. E com o desaparecimento do sobrinho, a mãe passa a culpá-la. Mas Ayumi ama o sobrinho como se fosse seu filho, sofre muito, e faria qualquer coisa para vê-lo bem. Aqui, o caso vai muito além de um sequestro comum”.

Jacqueline, na série do TNT, “Os Ausentes”, ao lado de Maria Flor e Erom Cordeiro (Divulgação)

Este é um tema importante no país, já que todos os anos, há registros de mais de 200 mil pessoas desaparecidas. E embora a trama da série seja ficção, ela reflete um recorte importante da realidade. Você sentiu essa responsabilidade quando topou o trabalho? “Infelizmente o Brasil sofre muito com a falta de segurança. E a ineficiência ou lentidão das investigações são problemas graves presentes na realidade de muita gente. Acho que uma obra ficcional pode jogar luz sobre a realidade, para aumentar o diálogo e a discussão sobre a questão, podendo resultar em ações que tenham efeitos positivos. Também promove a empatia daqueles, que mesmo não tendo sofrido algo semelhante, podem entender melhor o lugar do outro”, reflete. “Em todo papel que escolho, penso em como o trabalho irá provocar quem assiste, e a reverberação disso na sociedade ou em um microcosmo. É inevitável. Nunca passei por nada semelhante, mas busquei dar vida a esta situação da melhor forma possível”, completa ela, que também estará no longa “10 Horas para o Natal“, dirigido por Cris D’Amato.

“Conheci muita gente e entendi mais como funciona o mercado lá. Algumas sementes vem sendo plantadas” (Foto: Gigi Kassis)

Depois de uma temporada de três meses em Los Angeles, mergulhada em treinamentos de interpretação e cursos, Jacqueline já consegue enxergar uma carreira internacional.“E quero mais. Os atores lá estão sempre em treinamento. Encaixam o estudo, mesmo durante os períodos de trabalho. Me identifiquei com isso, também sou assim, gosto desta constante investigação”, comenta. “O nível tanto de técnica, quanto de repertório são surpreendentes. É motivante demais. Durante esta temporada não estava em busca de projetos, e sim imersa nos estudos dia e noite. Mas, conheci muita gente, e entendi melhor como funciona o mercado lá. Algumas sementes vem sendo plantadas. Cheguei a fazer teste para uma produção americana. Mas tenho consciência de que muitos “nãos” ainda virão até que aconteça o “sim”. Isso vale para qualquer mercado. E enquanto isso, vou me aperfeiçoando como atriz e trabalhando meu sotaque. Busco bons papéis, que me desafiem como atriz, não importa o local de origem do projeto. O que quero é construir uma carreira sólida e viver daquilo que escolhi”.

“Cheguei a fazer teste para uma produção americana. Mas tenho consciência de que muitos “nãos” ainda virão até que aconteça o “sim” (Foto: Gigi Kassis)

Tanto investimento, é para estar preparada quando as oportunidades acontecerem. “Fiz aula com um dos melhores professores de redução de sotaque, o Jon Sperry (professor de nomes como Russell Crowe, Harvey Keitel, Gael Garcia Bernal, Liam Neeson, Rodrigo Santoro, Catherine Zeta Jones, entre outros), e fiquei feliz quando durante minha estadia em Los Angeles, ele me disse que eu já estava apta a fazer testes por lá”, revela. “Não sou de meter os pés pelas mãos. Sei que tudo leva tempo, preparo e dedicação para acontecer. Para alguns poucos acontece tudo de uma vez, mas para a grande maioria, não. Há uma longa estrada de estudo e persistência”.

“Não sou de meter os pés pelas mãos. Sei que tudo leva tempo, preparo e dedicação para acontecer” (Foto: Gigi Kassis!)

E completa: “Tenho ido para lá com frequência e esse momento é favorável já que a diversidade étnica e a representatividade só têm crescido nos últimos anos. E espero que isto seja só o começo, que muito mais venha a acontecer. Por exemplo, em 2018, a Sandra Oh foi a primeira atriz asiática a ganhar o Golden Globes de melhor atriz em Série Dramática. E este ano a Awkwafina foi também a primeira americana asiática a ganhar o prêmio de melhor atriz no Golden Globes pelo filme “The Farewell”. Obviamente pelo talento e trabalho delas, mas também pelas oportunidades de bons papéis que vem surgindo. Elas ajudam a abrir caminhos, ao se tornarem referências. Com isso, também acabam surgindo mais oportunidades para novos talentos que fazem parte de uma minoria. É isto que espero e torço para que aconteça, tenho fé de que estas pioneiras farão a mudança reverberar no mercado mundial”.

“A diversidade étnica e a representatividade só têm crescido nos últimos anos. E espero que isto seja só o começo” (Foto: Pupin&Deleu)

Apesar do “phisique” – Jacqueline é descendente de alemães, espanhóis, japoneses, portugueses e indígenas – ela conta que as características étnicas não foram uma questão determinante, na maior parte dos seus trabalhos. “Consegui ir além disso. Mas tenho consciência de que já existiram oportunidades, em que sequer pensaram em mim para determinado teste, porque ainda não conseguem imaginar que a personagem possa sim ter traços orientais e isto não ser uma questão ou algo a ser explicado”, desabafa.  “Tenho também consciência que faço parte de uma minoria no Brasil e pouco, ou mal representada nas produções e na mídia em geral, e tenho buscado que isto mude para melhor, seja através de entrevistas como esta ou do meu trabalho. Somos minoria, mas somos muitos. Se falarmos apenas em nipo-descendentes somos cerca de 1.3 milhões só em São Paulo, e mais de 2 milhões se formos contar o restante dos estados. E a falta de representatividade é negativa para todas estas pessoas que não se veem nos conteúdos que assistem ou folheiam. Ao longo dos anos tenho observado melhora, e mantenho a fé e a esperança que a mudança só cresça”.

“Tenho consciência de que já sequer pensaram em mim para determinado teste, porque ainda não conseguem imaginar que a personagem possa ter traços orientais e isto não ser algo a ser explicado” (Foto: Pupin&Deleu)

Já pensou em escrever sobre isso? “Sim. Sobre este tema, e sobre outros como a crise ambiental também. Mas sei que tenho um longo caminho pela frente até que alguma destas ideias se tornem realidade. O que fiz nos últimos anos foi estudar a técnica de roteiro. Fui inclusive para Nova Iorque e Los Angeles estudar com Robert McKee, autor do livro “Story”, que já deu aulas a muitos indicados e vencedores do Oscar, deste e de anos anteriores. Como ele mesmo diz, “Leva 10 anos para você dominar o seu ofício”. Então, estou bem no comecinho desta jornada. Mas prometo não demorar tanto para dar à luz ao meu primeiro projeto (risos). Vou fazer o meu melhor, pode ser que eu erre, e continuarei seguindo, estudando e tentando outra vez. Seja como atriz, ou como esta futura roteirista que está germinando aqui dentro de mim e em breve vai brotar”.

“Vou fazer o meu melhor. Seja como atriz ou como esta futura roteirista que está germinando aqui dentro de mim e em breve vai brotar” (Foto: Gigi Kassis)