*Por Brunna Condini
Tati Villela está cheia de primeiras vezes emocionantes na carreira. Aos 35 anos, atriz e dramaturga há 10, este ano ela montou seu texto de estreia no teatro ao lado da namorada, Mariana Nunes, o espetáculo ‘Amor e Outras Revoluções’; também levou o Troféu Redentor na 23ª edição do Festival do Rio na categoria melhor atriz por seu desempenho no filme ‘Mundo Novo’, de Álvaro Campos; e já grava sua primeira novela ‘Vai na Fé’, próxima trama das 19h na TV Globo, com roteiro de Rosane Svartman. “Muitas coisas maravilhosas acontecem na minha vida. Me sinto privilegiada, do tipo de pessoa que tudo que deseja, consegue. Quis muito o que está acontecendo hoje. Acredito que conquisto as coisas porque tenho muito foco e canalização de energia. Confio em energia. Então, penso energeticamente e estrategicamente. Além de ter muita fé. Acredito e vou”, diz Tati.
Temos uma urgência de vermos nossas histórias sendo contadas. É fome de arte, história, pertencimento – Tati Vilella, atriz e dramaturga
Peça a duas
Discreta em relação à vida pessoal, Tati comenta sobre seu namoro com Mariana Nunes. “Não gosto de falar da intimidade por um misto de coisas. Sou um pouco tímida, e também não quero que nossa relação fique midiática, sabe? A gente sendo discreta já passa por situações bem chatas. Então, optamos por resguardar algo que é muito nosso. Estamos aprendendo a fazer isso de uma forma que a gente se sinta bem, sem ficarmos tão expostas. Acho que futuramente vamos estar mais abertas, mas agora estamos nos fortalecendo juntas. Tudo no seu tempo. Na verdade, nunca gostei de ficar expondo minha vida amorosa, prefiro falar sobre outras coisas”, afirma.
“Fizemos uma peça onde colocávamos no centro da cena um casal de mulheres, expondo seu amor, inquietações, conflitos. Já era muita exposição (risos). Foi uma experiência maravilhosa e lindo esse movimento em volta. Foi um sucesso, tanto que pretendemos voltar com o espetáculo ano que vem, entre o primeiro e o segundo semestre”, conclui Tati, sobre a montagem que provoca a reflexão do público a respeito dos obstáculos que esse amor encontra na sociedade diante das interferências do racismo e da homofobia, e como isso reverbera no relacionamento dessas mulheres.
O chamado e o caminho
Nascida e criada em Niterói, no bairro do Cubango, ela recorda o trajeto até se render à inquietação artística. “É um bairro periférico, de um lado é muito pobre e de outro, muito rico. Cresci em um família preta linda, com meu pai, mãe e irmão. E já haviam artistas na família, sambistas, compositores, escritores. Só que nem todos puderam exercer plenamente sua arte, já que precisavam de outra atividade para se manter. Eu sou das que consegue viver como artista. Tenho tias que cantavam lindamente, mas precisaram buscar outros caminhos, como empregadas domésticas, funcionárias públicas”, conta.
Muitas coisas maravilhosas acontecem na minha vida. Me sinto privilegiada, do tipo de pessoa que tudo que deseja, consegue – Tati Vilella, atriz e dramaturga
“Venho de uma família muito bem estruturada. Meus pais sempre prezaram pelos meus estudos. Meu pai hoje é funcionário público aposentado e minha mãe enfermeira aposentada. Eles sempre acreditaram no poder da educação. Eu lembro que desejava ser atriz desde pequena, fiz teatro na escola, na UFF. Fazia testes também para ser modelo, porque sempre fui magra e alta. Comecei a fazer alguns desfiles, mas a coisa não engatava. Hoje entendo muitos dos porquês: tinha o cabelo que não gostavam; era magra, mas tinha bunda. Acabei ficando no teatro, fiz algumas peças adolescentes em Niterói e quando chegou a hora de escolher a faculdade, aos 19 anos, não dava para escolher o teatro, não dava para ser pobre, precisava mudar a trajetória da galera da minha família. Decidi então fazer Química e fui estudar na faculdade Rural, em Seropédica. Gostava da matéria. Só que chegou lá e comecei a fazer parte dos grupos de teatro da faculdade (risos). Mas acabei me formando”, recorda.
Eu e Mariana optamos por resguardar algo que é muito nosso. Não quero que nossa relação fique midiática, sabe? – Tati Vilella, atriz e dramaturga
“Antes de me formar, eu havia passado para uma bolsa de mestrado, era um dinheiro bom. Vim morar no Centro do Rio de Janeiro, estudava e voltei a circular no meio da arte. Depois comecei a fazer a escola de teatro da Martins Pena e acabei o mestrado. Mas nunca mais visitei nada disso. A arte me chamou, precisava ser feliz, afinal temos uma vida só. Tenho essa fome de viver, de ser múltipla artisticamente, de interpretar, escrever, dar aulas, oficinas. Chegou um momento da minha vida que realmente resolvi apostar em mim e fui de cabeça. Passei por momentos ruins, de trabalhar em bar depois de ter mestrado, de pensar que já poderia estar estabilizada. Mas depois encontrei a minha galera artística. Na Confraria do Impossível e no Grupo Dembaia (família na língua da etnia Susu), que são empresas de arte, venho desenvolvendo meu ofício de escrita, dramaturgia e comecei a produzir muito. Também me formei em roteiro, conquistei um conhecimento amplo de cinema e fui me potencializando através dos encontros. Por isso, tanto no audiovisual, quanto na TV, quero estar na frente e atrás das câmeras. Temos uma urgência de vermos nossas histórias sendo contadas. É fome de arte, história, pertencimento”.
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