Tati Infante, de ‘Família é tudo’, é atriz há 20 anos, mas portas no audiovisual só foram abertas ao estourar na web


Atriz com mais de duas décadas de carreira, Tati encontrou nas redes sociais o palco que buscava há anos. Ela migrou para o digital e se destacou, conseguindo papéis importantes, como na novela “Família é Tudo”, onde interpreta uma presidiária, e o longa de Mauro Farias, que conta com roteiro de Heloisa Périssé . Tati enfatiza que a visibilidade online foi crucial, mas lembra de manter sua carreira pautada por valores sólidos, recusando trabalhos como divulgar jogos. Ela própria é formada há anos, mas só conseguiu visibilidade a partir da exposição oriunda das redes sociais. “O digital me deu uma visibilidade que eu não tinha. Acho que o teatro é a melhor forma de o artista mostrar o seu trabalho, mas passei anos fazendo peças, correndo atrás dos produtores de elenco, dos autores, indo atrás, batendo na porta das emissoras, pedindo para que vissem meu material e pedindo oportunidades”, afirma

*por Vítor Antunes

Se antes os atores se revelavam no teatro ou na televisão, hoje eles vêm de outras plataformas. E no caso de Tati Infante, as redes sociais efetivamente fizeram revelar anos de um trabalho dedicado à profissão de atriz. A pandemia, que tirou os artistas do palco, colocou a atriz no lugar que ela já objetivava conquistar: o do coração do público. Sucesso nas redes sociais, Tati, de mais de 20 anos de carreira, revela-se como uma presidiária malvada em “Família é Tudo” e tem como função ser a antagonista da vilã da trama, a mimada Jéssica (Rafa Kalimann). “Eu queria tanto fazer um papel desafiador, que recebi uma presidiária, uma pessoa má, que recebi e adoro, me divirto, acho maravilhoso”.

As gravações da atual trama das 19h já encerraram, porém se houve uma coisa, além do próprio sucesso que a novela de Daniel Ortiz gerou, foi discussão pelo fato de, teoricamente, influencers ocuparem o espaço de atrizes formadas. Ela própria é formada há anos, mas só conseguiu visibilidade a partir da exposição oriunda das redes sociais. “O digital foi maravilhoso e me deu uma visibilidade que eu não tinha. Acho que o teatro é a melhor forma de o artista mostrar o seu trabalho, mas passei anos fazendo peças, correndo atrás dos produtores de elenco, dos autores, indo atrás, batendo na porta das emissoras, pedindo para que vissem meu material e pedindo oportunidades. O Fred Mayrink, diretor de “Família é Tudo” conheceu meu trabalho pela internet. Então para mim foi muito bom me deu uma visibilidade um espaço que eu não tinha e me colocou numa vitrine, as pessoas entram ali e veem que eu sou atriz”.

Inclusive, em razão desta fala, Tati aproveita para exaltar Rafa Kalimann, que resistiu bravamente às críticas em um personagem de destaque. “Rafa é muito estudiosa, ela está correndo muito atrás, faz coaching, é batalhadora, uma menina do bem, que não optou por, diante de um convite para fazer novela, entregar tudo de qualquer jeito. Pelo contrário. Ela é comprometida com a profissão”.

Já pensando na temporada 2025, a atriz antecipa sua participação no longa de Mauro Farias, que conta com roteiro de Heloisa Périssé, e que, além de Tati, tem Ary Fontoura, Jonas Bloch, Patricya Travassos e Luís Miranda. O filme tem o nome provisório de “Loloucas”, o mesmo da peça de Périssé. “Para este filme, o convite também veio através do Instagram e nele eu vivo uma policial”. Conta-nos a atriz que até mesmo Ary Fontoura ganhou uma lufada de novidade em sua carreira por conta do Instagram, no qual o ator passou a ingressar durante a pandemia. Para ela, o que se vive hoje é uma revolução de linguagem.

Conhecida na internet, Tati Infante está fazendo uma viagem de retorno à televisão, onde estreou no início dos Anos 2000 (Foto: Priscila Nicheli)

MUDANÇA DOS VENTOS

Obviamente já existiam os influenciadores digitais anteriormente à crise sanitária imposta pelo coronavírus. No entanto, a falta de horizontes que a crise provocou na classe artística fez com que os artistas tivessem de se reinventar. Foi assim que, despretensiosamente, Tati Infante acabou aparecendo neste cenário. “No início a gente nem sabia se ia dar certo, estava ali brincando. Nunca pensei em trabalhar com digital. Estava aí na estrada, como atriz. A minha primeira participação num projeto da TV foi em 2005, em “A Grande Família“. Eu sempre estive fazendo muito teatro, e na pandemia, desempregada, comecei a gravar videozinhos do cotidiano, falando de maternidade, de relacionamento, de brincadeiras com as crianças e a coisa foi ficando séria. Da noite para o dia acordei com 80 mil seguidores no TikTok, com empresas entrando em contato comigo e eu não sabia nem precificar os posts”, relembra.

A comunicadora segue dizendo que num primeiro momento gravava mais sozinha, e depois os filhos foram aparecendo, bem como o marido. E tanto a entrada das crianças como do cônjuge acabaram exigindo um pensamento maior, um cuidado, tanto dela, como dele, o deputado federal Pedro Paulo (PSD-RJ). “Claro que havia uma preocupação nossa em estar expondo ou apresentar detalhes da nossa rotina, ou posts com eles. Mas sempre foi uma coisa conversada. Até por que conta de o nosso conteúdo ser uma grande novelinha, um grande reality. E é interessante que as pessoas vejam esse outro lado do Pedro, para além do político engravatadao, técnico, mas de forma mais humanizada. Mas sempre tomando um cuidado redobrado, sem tocar em assuntos polêmicos ou controversos”.

Tati Infante usa das redes sociais como uma forma divertida de falar do cotidiano (Foto: Priscila Nicheli)

Tati Infante recentemente comentou sobre sua decisão de não promover jogos de azar, como o popular “Jogo do Tigrinho”, que tem causado endividamento e afetado negativamente a reputação de muitos influenciadores. Ela explicou sua escolha com transparência: “Já chegou para mim uma proposta. Eu falei pronto, vou comprar minha casa agora com um post. Mas sou bem assessorada e me disseram que isso era furada, e que não valeria a pena, a não ser que seja um desejo de viver disso, só de público de joguinho.” Tati destacou que, apesar da grande oferta financeira, a longo prazo, esse tipo de parceria pode prejudicar a carreira: “Você vai ganhar uma boa grana, mas nenhuma empresa mais vai querer trabalhar com você, porque as empresas bacanas não querem influenciadores que estão divulgando esse tipo de jogo, esse tipo de conteúdo.”

Ela também enfatizou que sua abordagem profissional se baseia em princípios sólidos e na credibilidade: “Eu não aceito qualquer coisa, eu abraço as empresas e os clientes que têm a ver comigo ou produtos que eu acredito que eu uso realmente. Não vou fazer propaganda de uma coisa que eu não gosto, que eu não acredito, que não tem a ver com o meu dia a dia por causa de dinheiro.” Tati deixou claro que essa postura faz parte da construção de uma carreira sólida e respeitada: “Eu acho que é assim que eu vou construir, sabe, uma carreira sólida que passa credibilidade, que as pessoas confiam em mim naquilo que eu falo.”

Tati Infante entrou na novela “Família é Tudo” na reta final da trama das 19h, interpretando uma detenta que vai infernizar a vida de Jéssica, personagem de Rafa Kalimann. Sobre seu papel, a atriz explica como sua personagem: “Quando a Jéssica chega na prisão, ela se depara comigo. Ela chega lá se achando a ‘rainha da cocada’, poderosa, achando que vai ter regalias e tal, cheia de marra, e eu coloco ela no lugar dela”. Para construir sua personagem, Infante revela seu processo de preparação: “Eu fico buscando vídeos, referências no YouTube, documentários. Tento conversar com pessoas que acho que têm a ver, faço esse estudo. Mas, como atriz, a gente busca bagagens dentro da gente”

Todos temos um pouco de tudo. Temos nosso lado mocinha, nosso lado cruel. Dentro de nós há um vilão. Quando a gente quer ser ruim, é. Então, eu, como atriz, consigo acessar essas gavetas e essas energias através de técnicas, através de muito estudo – Tati Infante

Ao falar sobre sua entrada na novela em uma fase avançada, Tati Infante reflete sobre o desafio de se integrar ao elenco: “Eu fiquei assistindo bastante à novela para entender, porque é delicado fazer uma participação e cair de paraquedas em um elenco, né? Em uma trama onde todo mundo já está muito quente, muito entrosado, já tem uma temperatura, uma linguagem. Então, fiquei assistindo, maratonando. O Daniel Ortiz tem um texto maravilhoso, com muito humor, mas também, na hora que entra no drama, é muito bom. Enfim, os personagens são muito bem construídos, muito bem escritos”

Por mais que seja atriz há muitos anos, Tati se revelou nas redes sociais, tal como a vilã da trama, Rafa Kalimann (Foto: Priscila Nicheli)

Além disso, a atriz compartilha sua perspectiva sobre resiliência, tanto na vida pessoal quanto na carreira: “Eu tenho uma coisa resiliente, de sempre ver as coisas pelo lado positivo. Isso é uma coisa minha. Se eu tomo um ‘não’, eu penso: ‘Nossa, queria tanto aquele personagem maravilhoso’. E aí não deu certo, eu agradeço. Falo: ‘Foi o melhor para mim, não ia ser bom, não ia fazer bem, ou não ia ser um projeto de sucesso’. Sempre acredito que coisas melhores virão. Se a gente faz tudo certo e somos pessoas do bem, acho que vamos colher isso. Sempre tento ver o lado cheio do copo, por mais clichê que seja. Sou assim na minha vida, tenho essa visão positiva de tudo.”

Sobre o futuro da televisão aberta, Tati expressa seu espanto com as mudanças na forma como o público consome conteúdo, mencionando o crescimento do streaming: “Fico um pouco espantada com o futuro da TV aberta. Não sei como vai ser o futuro da televisão, né. Eu acho que, cada vez mais, a minha rede é uma conversa. As pessoas não assistem mais à TV de maneira linear, consomem mais através da Globoplay ou algo assim, para poder ver na hora que podem, né, ou pelo celular, onde elas estiverem.” Ela acredita que a conexão direta com o público e o acesso sob demanda estão moldando o futuro: “Acho que o streaming está cada vez mais forte e, nossa, é até assustador parar para pensar nisso, nessa transformação. Hoje, tem que fazer essa conexão, sabe? É o futuro. As pessoas estão o tempo todo conectadas.”

MATERNIDADE

Tati Infante reflete sobre os desafios da maternidade, abordando como transformou suas dificuldades em uma forma de terapia ao compartilhar suas experiências online: “Então, acho que eu consigo passar muito isso. O caos da maternidade para mim virou uma terapia, essa coisa da internet. Eu pego um problema que estou tendo, uma questão que estou enlouquecida em casa, transformo isso em um conteúdo, em um vídeo, boto ali, e as mulheres começam a se identificar: ‘Meu Deus, que bom, não tô sozinha, isso acontece com você também!’.”

Ela destaca a conexão forte com suas seguidoras e como esse compartilhamento a ajuda a lidar com os desafios diários: “Tem uma grande terapia ali, no grupo com as minhas seguidoras, com quem eu tenho muita conexão. Converso estilo meia hora do meu dia, vou para o Direct, respondo, converso, mando áudio. Temos esse canal assim, aberto, com as minhas seguidoras. Isso me salva, sabe? E vira um propósito.” Tati também enfatiza o quanto a maternidade é difícil e caótica, com desafios inesperados.

Ninguém falou para mim que a amamentação dói, que a maternidade é muito difícil, que é muito caos e que a gente perde a paciência, a gente se desespera. Especialmente no contexto da internet, saber colocar limites, monitorar, e reconhecer que a criança não pode ficar isolada – Tati Infante

Tati Infante e os filhos (Foto: Reprodução)

Falando sobre o saldo positivo de sua carreira como influenciadora, Tati destaca o que mais a emociona: “O que enche meus olhos e me toca é o feedback que recebo no Direct, nas mensagens no Instagram, porque eu faço uma coisa tão simples, sabe? Tão espontânea, orgânica, meu conteúdo.” Ela guarda com carinho os depoimentos que recebe, em especial aqueles que mostram o impacto que seu conteúdo tem nas vidas de outras pessoas: “Mulheres, homens, situações de doença, câncer… Eles dizem: ‘Você traz alegria para minha vida, eu consigo acordar e sorrir quando vejo um vídeo seu, seus Stories mudam minha energia’. Mulheres que estão em relacionamentos abusivos, tóxicos, dizem: ‘Você me dá força para sair desse relacionamento com suas palavras’. Mães que estão no puerpério, acabaram de parir, naquele caos — às vezes mães solo, sabe, sem rede de apoio nenhuma — falam que meus vídeos dão força a elas. Isso me faz perceber que estou no caminho certo.”