Era noite de sábado e Taís Araújo estava no palco do Teatro Faap, em São Paulo, atuando ao lado no marido Lázaro Ramos na peça “O Topo da Montanha”, um texto sobre Martin Luther King que fala sobre afeto, tolerância e igualdade. Ironia do destino, foi o momento em que sua página oficial no Facebook ficou abarrotada de comentários racistas (“entrou na Globo pelas cotas” e “escuridão” estavam entre alguns). A atriz, que não apagou nenhum comentário ofensivo, e garantiu que “tudo está registrado e será enviado à polícia federal”, disse que faz questão que todos sintam o que ela sentiu: “A vergonha de ainda ter gente covarde e pequena nesse país, além do sentimento de pena dessa gente tão pobre de espírito. Não vou me intimidar, tampouco abaixar a cabeça. Sigo o que sei fazer de melhor: trabalhar. Se a minha imagem ou a imagem da minha família te incomoda, o problema é exclusivamente seu!”.
Não demorou muito para o assunto mais comentado do Brasil no Twitter ser a #SomosTodosTaisAraujo, acompanhada de mensagens de solidariedade. “Agradeço aos milhares que vieram dar apoio, denunciaram comigo esses perfis e mostraram ao mundo que qualquer forma de preconceito é cafona e criminosa. E quero que esse episódio sirva de exemplo: sempre que você encontrar qualquer forma de discriminação, denuncie. Não se cale, mostre que você não tem vergonha de ser o que é e continue incomodando os covardes. Só assim vamos construir um Brasil mais civilizado. A minha única resposta pra isso é o amor!”, escreveu ela, que ainda ironizou com os preconceituosos: “Aproveito para convidar você, pequeno covarde, a ver e ouvir o que temos a dizer (na peça sobre King). Acho que você está mesmo precisando ouvir algumas coisinhas sobre amor”.
Na turma do bem que inflamou a corrente de apoio estava a também atriz Cacau Protásio, no ar com o “Vai que cola”, do Multishow. “Ô invejoso olha para Taís Araujo e chora!!! Aceita… ela é diva é linda, talentosa, tem luz própria mulher iluminada. Tais e Lazaro Ramos parabéns pela belíssima série! Sucesso sempre para nós”, escreveu, acompanhada da cantora Ivete Sangalo: “E muitas belezas se encontram nessa mulher ! A beleza do talento, da força, da personalidade, da mãe, da mulher linda de viver! Thais, o amor, em muitas pessoas , ainda está em modo pause . Uma pena e um grande equívoco. Ensinemos pois! Te amo”. Luana Piovani, em casa cuidado dos seus gêmeos Bem e Liz, chegou a dizer que esse “pensamento primitivo e racista” a assusta. “Gente isso é preocupante, pleno século XXI e a cor ou jeito do cabelo ainda são motivos de preconceitos!”, escreveu.
E não só: Mariana Belém, Paloma Bernardi, Emanuelle Araújo, Mariana Xavier e Thaissa Carvalho esbravejaram contra o racismo. A colega de profissão Alinne Moraes, aliás, deu uma pausa nos trabalhos na novela das 18h “Além do tempo” para dizer que estava com Taís. “A Tais é linda, maravilhosa, talentosa, e nenhum comentário racista irá mudar essa realidade”, falou, seguida da repórter do “Vídeo Show” Giovanna Ewbank. “Taís Araújo, linda, talentosa, inteligente.. .sempre fui fã!! É inacreditável em pleno 2015, termos que vivenciar uma situação ridícula como essa, de desrespeito e falta de amor ao próximo!! Racismo é crime, é feio, é uma grande ignorância!! @taisdeverdade nós também lutamos contra o racismo, e estamos junto com vc sua linda!!”, enviou para a atriz.
https://twitter.com/eumassafera/status/660782918814580736?lang=pt
A atriz Grazi Massafera, de férias, chegou a dizer, via Twitter, que tem “nojo dessa gente que faz comentários ofensivos só para virar notícia”. “O mundo evoluiu, que tal vocês evoluírem também?”, perguntou a loura. A jornalista Rosana Jatobá, por sua vez, fez questão de lembrar quando conheceu Taís há dois anos e destacar seu amor e admiração. “Se a via judicial é o caminho certo para combater a ação dos infames, o nosso exercício diário de repreensão ao racismo nos pequenos detalhes, é a unica forma de exterminar esse flagelo”, disse. Na corrente #SomosTodosTaisAraujo, ainda teve a apresentadora do “A tarde é sua”, Sonia Abraao, dizendo que tem vergonha do Brasil. Comentários esses que HT faz eco e assina embaixo. Assim como fomos todos Maju Coutinho, somos Taís Araújo até o fim.
Em tempo: infelizmente, o caso de Taís Araújo não é isolado. Maria Julia Coutinho, garota do tempo do “Jornal Nacional”, passou por situação parecida quando a página do JN na internet postou um vídeo da última previsão apresentada por ela e foi infestada de comentários racistas. A cantora Gaby Amarantos foi outra que já sofreu racismo, mas de forma pior: na infância. “Quando era garota, queria fazer balé e tinha uma escola muito tradicional de balé. A minha mãe foi até lá para tentar me inscrever e rolou uma parada meio de racismo. Não pude participar. Fiquei meio frustrada com isso e triste porque queria muito ser dançarina. Não permitiram que eu me matriculasse por ser negra”, contou certa vez à “Revista Raça”.
E os casos vão além: hoje morando no exterior, Seu Jorge revelou que foi muito discriminado durante a temporada que passou na Itália para filmar o longa “A Vida Marinha com Steve Zissou”; a atriz Thalma de Freitas chegou a ser levada a uma delegacia “por engano” depois de ser abordada saindo, de madrugada, da casa de uma amiga no Rio de Janeiro e a jornalista Gloria Maria foi barrada na porta de um hotel de luxo no Rio de Janeiro no começo de sua carreira na TV Globo, só para citar alguns infelizes casos. A gente, claro, é #TeamTaísAraujo. Sempre.
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