Tainá Müller fecha ciclo com ‘Bom Dia, Verônica’, avalia transformações, produz documentário e pensa maternidade


Protagonista de ‘Bom Dia, Verônica – A Caçada Final’, que estreou anteontem sua terceira (e última) temporada, a atriz revisita seu percurso com a bem-sucedida série e celebra o fechamento da história que chega ao público. Procurando escolher seus projetos pelo prisma do impacto social, Tainá dirigiu e produziu o documentário ‘Apolo’, que trata sobre a maternidade na comunidade LGBTQIAP+ e está em fase de finalização. Nesta entrevista, ela fala sobre como a série da Netflix mudou sua vida, além de compartilhar sua visão na criação do filho Martim, de 7 anos, pensando em um mundo melhor para ele e para o feminino ao redor. “Tento dar uma educação que vá desconstruindo esse masculino que pode ser tão tóxico. Não quero que meu filho sofra as consequências do machismo. Ele ainda é pequeno, mas já está introduzido em consciência de raça, de gênero, já sabe que o mundo para as mulheres é um pouco mais difícil. Eu falo que ele será um homem incrível”. Sobre a possibilidade de ter mais filhos, ela diz: “Acho que vamos ficar no Martin. Mas ainda não tem um ‘martelo batido’ quanto a isso, me dei até os 45 anos para decidir, congelei óvulos. Só que acho que está muito complexo hoje ter mais um filho e administrar toda essa loucura do mundo. Além da profissão estar em um momento muito legal que não queria deixar de aproveitar”

*Por Brunna Condini

Verônica is back! Ou melhor, Tainá Müller está de volta na pele da personagem central da série ‘Bom Dia, Verônica – A Caçada Final‘, que tem a estreia da sua terceira (e última) temporada no no próximo dia 14. Na produção que entra em breve no catálogo da Netflix, Tainá continua sua saga como Verônica Torres, escrivã que sonha se tornar investigadora e se vê forçada a embarcar em uma jornada à margem do sistema para solucionar crimes em que se vê envolvida. A atual temporada conta com nomes como Rodrigo Santoro e Maitê Proença, além de Reynaldo Gianecchini e Klara de Castanho que seguem no elenco. “Em 2019 quando fui convidada para este trabalho me apaixonei pela Verônica, mas não imaginei a repercussão toda que a série teria. Acabou meu contrato com a Globo e decidi fazer a aposta nessa personagem, já tendo a certeza que ali tinha uma coisa muito preciosa”, lembra a atriz, que foi premiada recentemente por sua performance na segunda temporada com o título de melhor atriz da América no ‘Septimius Awards’, em Amsterdã, na Holanda.

Em entrevista ao site, Tainá admite que o trabalho que aborda importantes temas como a violência contra a mulher, entre suas tramas, é o tal divisor de águas em sua carreira:

A Verônica mudou a minha vida. Nunca havia tido a oportunidade de viver um protagonista forte assim na TV. Veio um reconhecimento forte do público, recebo também muitas mensagens de fora do Brasil. E me deixa particularmente satisfeita quando mulheres do mundo todo, até do Irã, me escrevem dizendo o quanto assistir à série foi importante para elas porque ajudou em um despertar do ciclo da violência, por exemplo. Isso pra mim é muito satisfatório. É saber que um produto brasileiro tem a potência e a qualidade para ser entendido, curtido, por culturas tão diferentes da nossa – Tainá Müller

Tainá Müller fala da terceira e última temporada de 'Bom Dia, Verônica', do documentário que finaliza e da maternidade (Foto: Gustavo Zylbersztajn)

Tainá Müller fala da terceira e última temporada de ‘Bom Dia, Verônica’, do documentário que finaliza e da maternidade (Foto: Gustavo Zylbersztajn)

Arte transformadora de realidades

A atriz de 41 anos aprecia o exercício artístico na frente e atrás das câmeras. Pensando nisso,  dirigiu e produziu o documentário ‘Apolo’, que trata sobre a maternidade na comunidade LGBTQIAP+. “Dirigi com a Fabiana Winits, está quase finalizado. É um projeto em que eu investi dinheiro do próprio bolso, as produtoras parceiras também, porque acreditamos muito. Neste filme acompanhamos a história de uma casal trans que tem um bebê, até o nascimento do seu filho, Apolo. Agora é aquela coisa clássica do cinema nacional de aguardar o dinheiro sair para a finalização”, revela Tainá.

Tainá Müller está de volta na pele da personagem central da série 'Bom Dia, Verônica - A Caçada Final.', que tem a estreia da sua terceira (e última) temporada no no próximo dia 14 (Divulgação)

Tainá Müller está de volta na pele da personagem central da série ‘Bom Dia, Verônica – A Caçada Final.’, que tem a estreia da sua terceira (e última) temporada no no próximo dia 14 (Divulgação)

Esse filme é sobre um tema muito pertinente, fala das novas famílias, são muitas possíveis. Tanto se fala em nome da família neste país, da tradição, pelo respeito, e ao mesmo tempo, isso é tão contraditório, já que tantos formatos familiares ainda sofrem preconceito. É sobre o direito de existir que falamos em ‘Apolo’ – Tainá Müller

Ela também comenta sobre o compromisso com a escolha dos temas nos projetos em que se envolve. “Tenho formação de jornalista, cheguei a exercer a profissão por três anos, porque a realidade sempre me tocou muito. Decidi migrar para a arte porque ela sempre esteve dentro de mim desde criança, tocava piano, dançava. E também, porque identifiquei que falar da realidade através da notícia era frio demais. A contemporaneidade é muito sobre anestesia, somos anestesiados o tempo todo, existem até estudos sobre isso. As coisas já não nos impactam tanto. Por isso sempre me atraiu poder falar da realidade emoldurada pela ficção, porque acho que aí conseguimos nos envolver afetivamente com essas histórias e questões. Procuro escolher os projetos pelo prisma do impacto social. Para mim esses são os melhores trabalhos, mas nem sempre temos a oportunidade de estar neles”.

"As coisas já não nos impactam tanto. Por isso sempre me atraiu poder falar da realidade emoldurada pela ficção" (Foto: Gustavo Zylbersztajn)

“As coisas já não nos impactam tanto. Por isso sempre me atraiu poder falar da realidade emoldurada pela ficção” (Foto: Gustavo Zylbersztajn)

Criando para um novo mundo

Casada com o diretor Henrique Sauer e mãe de Martin, 7, Tainá vem de uma família de mulheres potentes: é irmã da apresentadora Titi Müller e da atriz Tuti Müller, e diz que cria o filho pensando em mundo melhor para ele e para o feminino ao redor. “Cada vez mais descubro que educar é inspirar filho. É muito mais sobre o que a gente faz do que sobre o que discursamos. Então o exemplo que ele tem aqui em casa é de um pai que cuida de tudo junto comigo, dividimos tudo. Quando um está trabalhando, o outro segura mais a onda do outro lado. O Martin, como toda criança, muitas vezes não queria que eu fosse trabalhar, e eu dizia que ia porque amo o que faço, me faz bem. E ele foi entendendo. Agora que ele cresceu mais, digo que também trabalho porque as mulheres precisam ser independentes. Tento dar uma educação que vá desconstruindo esse masculino que pode ser tão tóxico. Não quero que meu filho sofra as consequências do machismo”.

Meu filho ainda é pequeno, mas já está introduzido em consciência de raça, de gênero, já sabe que o mundo para as mulheres é um pouco mais difícil. Eu falo que ele será um homem incrível. Sempre digo que quando ele crescer o mundo será diferente, porque essa é a esperança que eu tenho. Crio ele pra isso, para uma nova Terra. Porque se não esperançarmos nessa nova Terra, para onde vamos? – Tainá Müller

Sobre a possibilidade de ter mais filhos, a atriz divide. “Acho que vamos ficar no Martin. Mas ainda não tem um ‘martelo batido’ quanto a isso, me dei até os 45 anos para decidir, congelei óvulos. Só que acho que está muito complexo hoje ter mais um filho e administrar toda essa loucura do mundo. Além da profissão estar em um momento muito legal que não queria deixar de aproveitar”, diz.

Tainá Müller e o filho Martin, de 7 anos (Foto: Reprodução/ Instagram)

Tainá Müller e o filho Martin, de 7 anos (Foto: Reprodução/ Instagram)

Um ciclo que se fecha

Se ‘Bom dia, Verônica: A Caçada Final’ é o desfecho de uma jornada em que a personagem principal pode não sair viva, para Tainá Müller é um fim de um ciclo esperado pelo público e idealizado por seus criadores. “É motivo de muita satisfação chegar até aqui. Mesmo ainda lidando com temas muito pesados na narrativa, havia um clima de celebração no set de podermos concluir essa história tão bem”, analisa. “Experimentei com a Verônica uma coisa que não imaginei no streaming, que foi esse retorno das pessoas. A série tem um publico fiel, sedento de acompanhar. Então, poder dar esse desfecho agora é uma vitória, sabemos que muitas séries acabam ficando pelo caminho”, afirma, sobre a terceira temporada deve ter apenas três episódios, produzidos para concluir a série. “Esse trabalho furou muitos bolhas desde sua primeira temporada, quero muito continuar fazendo projetos que alcancem isso”.

"A Verônica mudou a minha vida. Nunca havia tido a oportunidade de viver um protagonista forte assim na TV" (Foto: Gustavo Zylbersztajn)

“A Verônica mudou a minha vida. Nunca havia tido a oportunidade de viver um protagonista forte assim na TV” (Foto: Gustavo Zylbersztajn)

Na final season, Verônica fará de tudo para descobrir quem é Doúm (Rodrigo Santoro), criminoso por trás da organização de Matias (Reynaldo Gianecchini )e Brandão (Eduardo Moscovis). A trama derradeira e o formato compacto do desfecho prometem oferecer momentos intensos e emocionantes. Vamos aguardar.