“Tá no ar”: programa idealizado por Marcius Melhem e Marcelo Adnet é sopro de inteligência na tevê!


Tem humor politicamente incorreto, tem metalinguagem, tem a capacidade de rir de si mesmo, tem criatividade, tem talento de sobra e tem, antes de qualquer coisa, coragem

* Por Junior de Paula

Depois de duas semanas, a gente já pode dizer que o Tá no Ar”, novo programa humorístico da TV Globo, transmitido às quintas-feiras, idealizado por Marcius Melhem e Marcelo Adnet, é mais do que um sopro de inteligência na televisão. “Tá no Ar” é um pouco do muito que falta para uma revitalização da programação brasileira na tevê aberta.

Ali tem humor politicamente incorreto, tem metalinguagem, tem a capacidade de rir de si mesmo, tem criatividade, tem talento de sobra e tem, antes de qualquer coisa, coragem. Sem medo de zoar rivais – como a imitação de Silvio Santos e de Marcelo Rezende, ou a própria Globo, com quadros que parodiam programas da emissora, como um “Amor e Sexo” temático da fazenda, com direito a zoofilia e piadas de duplo sentido, ou o guerrilheiro que interrompe a programação para fazer críticas em tons de comédia à programação da emissora -, cabe tudo neste caldeirão de referências e estilos de humor. 

É claro que nem todos os quadros são engraçados, alguns exageram, outros são sem graça e alguns perdem o timing logo nos primeiros minutos, mas de uma coisa a gente não culpá-los, de não estarem tentando fazer algo diferente e dando um passo à frente em suas carreiras já consolidadas.

Lembra “TV Pirata” e “Casseta e Planeta”? Um pouco, principalmente nos momentos mais nonsense, como o quadro “A Sexy Indecisa”, que zoava “Sex and the City”, ou outros mais políticos como o “Fiança Esperança”, no qual os presos do mensalão lideram uma campanha de doações para sair da cadeia. Apesar de lembrar, o “Tá no Ar” foge das inspirações, reinventa os programa de humor e permite aos próprios atores se reinventarem.

É só lembrar que há algum tempo contratado pela Globo, Marcelo Adnet ainda não tinha mostrado a que veio, com quadros no “Fantástico” que estavam muito aquém do seu talento, ou sua participação no seriado “Dentista Mascarado”, que também não foi sucesso nem de público e muito menos de crítica.

Agora, Adnet tem nas mãos a oportunidade de sua vida profissional na emissora dos Marinho e, esperto que é, não tem deixado pedra sobre pedra. Que a temporada seja longa e que eles consigam se manter fieis ao espírito que vem se descortinando nestes dois primeiros programas.

E, mais do que isso, que a necessidade de incentivar programas que subvertam certas lógicas virem uma constante e que outros bobos e rasteiros, como “Zorra Total” e “Divertics”, que, apesar de empregar e dar oportunidade a inúmeros talentos maravilhosos, bebam de outras fontes e também se reinventem. Palmas, aqui, para todo o elenco nomeado: Carol Portes, Danton Mello, Georgiana Góes, Luana Martau, Márcio Vito, Maurício Rizo, Renata Gaspar, Verônica Debom e Walder Rodrigues.

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Marcelo Adnet e Marcius Melhem em “Tá no ar” (foto: Divulgação/TV Globo)

* Junior de Paula é jornalista, trabalhou com alguns dos maiores nomes do jornalismo de moda e cultura do Brasil, como Joyce Pascowitch e Erika Palomino, e foi editor da coluna de Heloisa Tolipan, no Jornal do Brasil. Apaixonado por viagens, é dono do site Viajante Aleatório, e, mais recentemente, vem se dedicando à dramaturgia teatral e à literatura.