Suzy Rêgo, de ‘Todas As Flores’, revela doença pela magreza quando era modelo e alerta depressão ainda hoje em jovens


A atriz, que aguarda também a estreia de série que atuou na Amazon Prime, fala sobre a preocupação do retorno da tendência de corpos magros nas passarelas internacionais e lembra da hipoglicemia provocada por uma dieta para manter o corpo segundo a ditadura do padrão no passado. Ela pontua ainda: “Hoje, há uma loucura dos jovens que ainda se influenciam com essa mentira que tem na rede social, onde aquela pessoa que ela vê perfeita é muito manipulada. De vez em quando vemos pessoas que ficam perturbadas por que têm muitas influenciadoras que mentem descaradamente sobre produtos milagrosos que você sabe que nem elas tomam, nem eles funcionam”

* Por Carlos Lima Costa

Corpos magérrimos dominaram as passarelas da moda nos anos de 1990. Muitas foram as críticas e o cenário deu uma modificada. Mas a antiga tendência voltou em algumas semanas de moda. Miss Pernambuco, em 1984, quando ficou em 2º lugar no Miss Brasil, e que trabalhou como modelo antes de ser atriz, Suzy Rêgo, a Patsy, da novela “Todas As Flores”, do Globoplay, percebe a volta da tendência e relembra dietas e uso de remédios que as modelos faziam para se manter no padrão, que nunca representou de fato a grande maioria das mulheres fora daquele universo. “Vejo que realmente voltaram os corpos mais magros. Mas, nas ruas, vemos mulheres de todos os manequins, com protuberâncias em algumas áreas, ombros maiores, peito maior, ou quadril, coxa. Essa beleza da individualidade é que é bacana. Na minha época, tinha muita busca pelo corpo esquelético, mas era nociva. Nossa, era remédio, uma, loucura, comia um tiquinho só por dia, descuidava da saúde ao querer exigir algo de um corpo, às vezes, com uma compleição física diferente, por conta da própria estrutura óssea. Então, tinha essa insanidade de gente que adoecia, que adquiria bulimia, anorexia por tentar métodos sem nenhum acompanhamento”, enfatiza ela, que este ano concluiu as gravações da inédita série “Novela”, da Amazon Prime.

Suzy não escapou a regra e passou por um momento difícil. “Na época em que eu era modelo, tinha as dietas malucas. Eu fiz um monte, porque determinada pessoa tinha experimentado e em uma semana secou. Cheguei a tomar somente um suco de laranja pela manhã. Resultado: meu corpo tremia quando ia fazer um ensaio fotográfico. Ficava horas sem comer. Fazia as dietas que apareciam nas revistas. Algumas funcionavam, outras soltavam o intestino, davam tremedeira, distonia. Nossa, fiz uma quando eu já era atriz, que me deu uma hipoglicemia e eu estava no palco”, lembra.

Estava atuando em um espetáculo, em Porto Alegre, quando achei ter visto a  aura do Fúlvio Stefanini. Pensei: ‘Meu Deus, agora tenho mediunidade’. E comecei a ter também umas ausências de audição. Várias vezes, alguém falava comigo e eu não escutava – Suzy Rêgo

Ela concluiu a apresentação com uma forte palpitação. No dia seguinte, sem ninguém saber, a produtora a levou para fazer um exame, quando foi constatada a hipoglicemia. “Meu médico disse para eu comer um prato de macarrão, senão eu ia desmaiar. Então, muitas coisas que fizemos eram completamente infundadas. Eu nunca fiz, mas tinha muitas amigas que comiam todo tipo de lanche, de fast food, de qualquer coisa e depois botavam pra fora, ficavam com bulimia. Isso tinha muito a ver com a possibilidade de fechar uma campanha. Às vezes, queríamos ficar na noitada, aí dormíamos pouquíssimo, acordávamos para ir trabalhar, enfim, irresponsabilidades que fazem parte também desse processo da juventude. Agora, eu nunca usei nada ilícito, não tem a ver comigo. Mas nunca julguei ninguém por isso”, acrescenta ela, lembrando que, evidentemente, haviam modelos que tinham alimentação regrada orientada por um médico.

MENTIRAS EM REDE SOCIAL

Atualmente, Suzy percebe que muitas modelos contam com essa assessoria nutricional, com um programa de atividade física, onde buscam esculpir o corpo com acompanhamento sério. “Há uma loucura dos jovens que ainda se influenciam com essa mentira que tem na rede social, onde aquela pessoa que ela vê perfeita é muito manipulada. De vez em quando vemos pessoas que ficam perturbadas por que têm muitas influenciadoras que mentem descaradamente sobre produtos milagrosos que você sabe que nem elas tomam, nem eles funcionam. E nem aquele corpo que está ali exposto no Instagram, é daquele jeito na vida real”, crítica.

Suzy ressalta que como intérpretes, atores e atrizes não sofrem com essa exigência do mercado de moda. Mas se cuidar é sempre importante. “Vou dar um exemplo de uma atriz que está na minha novela, a Heloísa Honein. Essa menina é de uma beleza. Primeiro, como ser humano. E é linda de rosto, tem um corpo incrível e não é esquelética, nem tem essas maluquices. É uma menina consciente, sabedora do seu potencial como atriz e do seu vigor dos 20 e poucos anos. Saudável na totalidade da palavra”, aponta Suzy que vem sentindo necessidade de voltar para seus treinos.

“Muitas coisas aconteceram agora de abril pra cá no âmbito pessoal, ficou uma meia onda que te leva e vai rolando, mas independentemente do tamanho, do manequim, se uso 40, 42, 44, 46, eu gosto de estar vigorosa, com tônus, com força para gravar de maneira bacana, de salto alto ou descalça para estar no palco e ter a potência de fazer uma peça de duas horas com viço e energia”, reflete a atriz, desencanada com a questão da idade.

Suzy Rêgo, de Todas As Flores, fala da tendência de corpos magros na moda e recorda quando passou mal por conta de dieta (Foto: Globo/Estevam Avellar)

“Eu tenho 55 anos. Quero estar feliz, forte, potente, vigorosa, saudável para esta idade. Eu tomei um susto, minha grande amiga sofreu um AVC isquêmico, em abril, com 70 anos, foi devastador, ela ficou completamente dependente com um lado paralisado. Numa força tarefa das poucas amigas que ela tem, tentamos fazer tudo para ela ter muita dignidade. Uma mulher potente, independente, maravilhosa, teve muito comprometimento cognitivo, físico e foi um abalo entre tantos outros. Eu gravo contente, feliz, me sinto resistente, renovada, consigo dormir bem, convivo bem com os meus colegas, sei sempre o meu texto, o dia é uma bênção. Lógico que tenho que cuidar da alimentação e da atividade física, sem dúvida, mas quero continuar a cultivar essa energia vital. Tivemos dois anos desafiadores, principalmente para nós artistas dentro de casa. Então, me alimento com essa retomada profissional, com esse dinamismo”, aponta.

Com relação às redes sociais, além da questão física, muitas pessoas mostram uma vida perfeita, que muitas vezes não condiz com a realidade, mas seguidores idealizam aquilo. Não faltam casos de depressão entre os jovens. “Isso acontece muito, é uma situação mundial. Tem muita série sobre a aceitação nas redes, o bullying de internet. Basta assistir qualquer reality show de convivência, para ver como as pessoas são amedrontadas, pequenas, agressivas. É esse constante temor do cancelamento. Agora, tem tanta gente que trabalha e nem tem rede social, não está cancelado com ninguém, vive a sua vida”, analisa.

Situação que não é a padrão, como ela mesmo relata. “Às vezes, estou em um ambiente, que está todo mundo esperando e tem oito pessoas. É curioso, poderíamos estar conversando, mas está todo mundo com seus celulares. Quando é uma pessoa bem amiga eu freio, digo: ‘Esse encontro é nosso, não é para você vir fazendo stories, falando ‘olha quem estou encontrando aqui’. No final do encontro, quer fazer um stories, dizer que foi gostoso encontrar? Beleza, mas essa coisa de se gravar o tempo inteiro é muito chato. Primeiro que compromete a espontaneidade das pessoas, tira um pouco a liberdade de todo mundo. Essa escravidão da rede social, às vezes, ela é nociva sim, invasiva, desagradável, porque parece um vício constante”, lamenta.

“Essa escravidão da rede social, às vezes, ela é nociva sim, invasiva, desagradável, porque parece um vício constante”, desabafa a atriz (Foto: TV Globo/Marcio Nunes)

Suzy faz uso de rede social, mas não sente-se obrigada a postar algo todos os dias. “Às vezes, passo dias sem ver absolutamente nada. Eu não fico consumindo a vida especificamente de ninguém, não sento para passar uma hora vendo todas as redes sociais das pessoas, o que elas estão fazendo”. Ela aguarda ansiosa pela estreia da série “Novela”, da Amazon Prime, protagonizada por Monica Iozzi, tendo ainda no elenco nomes como Miguel Falabella e Herson Capri. “É um projeto muito interessante. Fazemos uma novela dentro da série, é bem divertido e existe a promessa da segunda temporada, então, estamos nessa torcida”, conta ela que neste seu primeiro trabalho para Amazon, produzido pelo Porta dos Fundos, interpreta uma atriz que dá vida a uma policial na novela. Para o teatro, nada programado. Mas, desde 2015, ela e Eduardo Martini, de vez em quando montam a comédia ‘Até Que o Casamento Nos Separe’. “Ele administra o Teatro União Cultural, em São Paulo, e vive me perguntando se eu não quero voltar com a peça. É fácil também para viajar com ela, porque somos somente nós dois em cena e poucos adereços.”

PÚBLICO DESEJA “TODAS AS FLORES” NA TV ABERTA

Todas às quartas, o Globoplay disponibiliza cinco novos capítulos de “Todas As Flores”, primeira novela produzida no Brasil por um canal de streaming. A trama escrita por João Emanuel Carneiro vai ter seus primeiros 40 capítulos exibidos até o final deste ano. A outra metade vai ser disponibilizada somente após o término da 23ª edição do “Big Brother Brasil”, em 2023. “Eu sinto que é um esquema extremamente diferente. Mas quem se acostumou a maratonar séries já sabe que funciona desse jeito. Você fica com mais autonomia para assistir nos teus horários, de acordo com os teus compromissos. Eu percebo que muitas pessoas que devoram os cinco episódios de uma vez, ficam sedentas pra próxima semana. Eu, por exemplo, tenho assistido como espectadora. É impressionante. Eu chego a parar, volto para ver várias cenas novamente. Felizmente, a repercussão tem sido a melhor possível, muitas pessoas desejam essa novela na TV aberta”, festeja.

Thalita Carauta, Nilton Bicudo e Suzy Rêgo, em Todas As Flores (Foto: Globo/Estevam Avellar)

Na trama, Patsy, personagem de Suzy, levava vida de luxo, até que o marido Raulzito (Nilton Bicudo), pouco antes de morrer, a exclui de seu testamento deixando a fortuna para Mauritânia, ex-atriz pornô interpretada por Thalita Carauta. “Era um casamento bem esclarecido, num acordo entre os dois. Ele bissexual, mas como um dos herdeiros da Rhodes queria ter uma companheira ao lado. Assim, viajavam o mundo e viviam extremamente bem com riqueza, luxo, glamour esse casamento de fachada. Ele tinha as aventuras dele, ela sempre soube. Ela é uma alpinista, tanto que quando conheceu Raulzito, abandonou o filhinho, bebezinho com o marido Darci (Xande de Pilares), na pobreza e foi ganhar o mundo. Já com doença terminal, Raulzito escuta a mulher falando para o ex-amante Humberto (Fabio Assunção), dizendo que finalmente depois de tanto se dedicar a uma bicha, finalmente vai ficar rica, poderosa e vai fazer dele o presidente das empresas”, conta. Aí o mundo desmorona para Raulzito quando descobre que a mulher em quem confiava é caloteira, oportunista, mentirosa. Nisso, conhece Mauritânia, e em momento de imensa carência dos dois, eles tem paixão tórrida e ele decide deixar tudo para ela, que havia sido expulsa de casa injustamente deixando a filha para ser criada pela mãe. Assim, Patsy vira uma espécie de governanta para Mauritânia. “As duas começam a perceber que tem muitas similaridades. As duas são mães desnaturadas, que não criaram os filhos, são mulheres que tiveram um monte de desacertos amorosos”, diz ela, que estava longe das novelas desde 2016, quando atuou em “Rock Story“. Em 2017 e 2019, esteve nas duas temporadas da série “Juacas”, da Disney.

MATERNIDADE TRANSFORMADORA

Nessa questão de abandono da maternidade, Suzy é o oposto da personagem de “Todas As Flores”. “Quando fui modelo, convivi com outras modelos que tinham filhos e que precisavam deixar com familiares. Mas eram pessoas que nunca estiveram totalmente ausentes, nunca abandonaram os filhos, que sabiam do trabalho da mãe e da necessidade de ficar com os parentes. No caso da Patsy é um abandono mesmo, ela quer esquecer a vida de pobreza que teve. Ela deixou esse passado sobre o qual não gosta de comentar”, relata Suzy, que é mãe dos gêmeos Marco e Massimo, de 13 anos, do casamento com o ator e mímico Fernando Vieira.

“Durante muito tempo eu priorizei o trabalho, novelas, teatro, cinema, o que quer que fosse, enquanto algumas das minhas amigas estavam tendo filhos aos 21, 22, 23 anos. Eu quis trabalhar, estudar, viajar muito, enfim, vivenciar muitas coisas antes de ser mãe, porque não queria ter filho e empurrar pra babá, pra parente. Queria viver a maternidade de forma intensa e também ter primeiro uma estabilidade financeira. E foi maravilhoso. Fui mãe aos 42 anos e eles foram muito desejados, planejados. Vieram quando eu e o Fernando já estávamos mais maduros, já tínhamos mais estofo. Nos revezamos e somos muito presentes”, explica ela, que retornou ao trabalho quando os meninos estavam com um ano e meio.

O casal Fernando Vieira e Suzy Rêgo (Foto: Reprodução Instagram)

“Eu planejava voltar com seis meses, mas fui atrás de trabalho e não aconteceu. Aí o Fernando dava aula, fazia os espetáculos e os coachs. Durante um ano e meio, ele sustentou nós quatro. Quer dizer, eu tinha umas economias, uma reserva, que eu já tinha deixado pra isso, para poder suprir as contas de casa e a demanda de gêmeos de alimentos, fraldas. Eu e Fernando brincamos que perdemos toda vergonha. Pedimos desconto de tudo pra todo mundo o tempo inteiro. Na escola tem que ser bolsa de estudo, numa recreação tem que ter um desconto porque são dois. Aprendemos que eles crescem rápido que não tem a menor necessidade de ter roupa de grife. Nem eles ligam. Quando estou em casa, em São Paulo, ainda busco fazer um crédito. Pergunto no grupo da escola quem quer mandar filho aqui pra casa no final de semana, aí sempre tem alguém. Quando precisamos, acionamos o grupo e perguntamos com quem podemos deixar nossa dupla. Isso é muito saudável, os meninos tanto gostam de receber os amigos quanto de ir para a casa deles”, diz.

Suzy frisa, que quando os meninos nasceram, ela tirou de letra a questão de lidar com o universo masculino. “Minha mãe fala que eu tinha de ser mãe de menino. Nas brincadeiras do meu marido, o Fernando sempre diz: ‘Você não é mulher, você está presa a esse corpo, você é um moleque’. Minha irmã brinca: ‘Imagina você comprando presilha de cabelo pra menina, você não tem a menor paciência. Ia colocar a primeira camiseta de time nela’. Então, dá certo, eu sou muito prática. Eles também são completamente desencanados. Eu tenho um irmão mais velho. Quando eu era menina brincava muito com os meninos na rua. Então, tenho familiaridade com o universo masculino, fico bem à vontade. Às vezes, dou bronca nas amigas, digo que não existe isso de todo homem é assim. As pessoas são únicas, são singulares e também plurais. Tenho certa antipatia e impaciência, usando a palavra de forma irônica, com mimimi de menina. Fico mais solta entre rapazes do que entre moças. Não tenho paciência com frescura”, assegura.

CASA SEM PRECONCEITO E INTOLERÂNCIA

E ensina os filhos a crescerem sem preconceitos. “Veja bem, é uma casa de artistas. Eles sempre tiveram muito contato com as nossas conversas extremamente abertas sobre a nossa profissão e sobre todas as coisas. Assim, os meninos foram criados. E mais: eles estão em uma escola inclusiva, então, desde pequenos, convivem na própria sala deles com alunos com down, autistas, com dificuldade de locomoção e com outros quadros. Para eles, é natural e corriqueiro conviver com a pluralidade”, comenta.

“É lamentável o aumento da intolerância, da impaciência, da insanidade mental das pessoas. Mas sou muito otimista, esperançosa”, frisa Suzy (Foto: TV Globo/Estevam Avellar)

Assim, lamenta a forma como as pessoas vêm brigando por conta de política. “Eu realmente imaginei que após flagelo tão grande, uma ameaça mundial tão poderosa e invisível como foi e ainda é a Covid, que o ser humano fosse melhorar. Imaginei que fossemos ser mais compreensivos com o outro, mais atentos, tolerantes, amorosos mesmo, porque vimos tantas tragédias, tantas vidas ceifadas, que representaram um abalo muito grande no nosso psicológico. Então, é lamentável o aumento da intolerância, da impaciência, da insanidade mental das pessoas. Mas sou muito otimista, esperançosa”, observa.