Suzana Pires é paciente oncológica em filme, fala da experiência familiar com a doença e revela susto na preparação


Vivendo há mais de um ano em Los Angeles e atualmente trabalhando em uma série na Amazon americana, a atriz e roteirista acaba de filmar o longa ‘Câncer com ascendente em Virgem’, dirigido por Rosane Svartman, baseado na história da produtora Clélia Bessa, que criou um blog após a descoberta de um câncer, tentando lidar com a realidade da doença sem tabus. Para protagonizar o longa, Suzana raspou o cabelo, lembrou da vivência profunda em relação ao câncer do pai, que está curado hoje; e em plena transformação, fala de uma descoberta inusitada durante a preparação para o trabalho. “Aconteceu uma coisa muito doida. Estava nos ensaios para o filme e comecei a sentir muitas dores na mama. Achei que estava alucinando por estar sentindo isso, influenciada pela história talvez. Sei que comecei a fazer o autoexame e o peito parecia estar cheio de caroços. Fui correndo para o meu médico e até a Rosane foi comigo. Sabe o que estava acontecendo? O meu silicone encapsulou, então vou ter que fazer uma cirurgia na mama semana que vem, olha isso. Vou passar o Ano Novo operada, me recuperando”. Na entrevista a seguir, a artista fala mais sobre o episódio e o que vem por aí em 2024

*Por Brunna Condini

Suzana Pires terminou as gravações do longa ‘Câncer com ascendente em Virgem‘ na semana passada e já consegue perceber como o projeto a transformou. No longa como atriz e roteirista, ela é a protagonista inspirada na produtora de cinema Clélia Bessa, que após a descoberta de um câncer de mama em 2018, criou o blog ‘Estou com câncer, e daí?’, para compartilhar sua história pelo viés do bom humor. “O câncer quando chega traz a morte para a conversa, a percepção da finitude. Então, tudo fica mais profundo, sensível. No meio disso tudo, como na vida, também encontramos do que achar graça. Raspei a cabeça para tentar me aproximar do estado emocional de tantas mulheres que passam por isso durante um tratamento”, diz sobre o filme previsto para ser lançado em 2024. “É preciso tirar o tabu do câncer e trazer esse assunto com mais leveza para a mesa, como a Clélia fez”.

A atriz revela que passou por um susto durante a preparação para o trabalho. “Aconteceu uma coisa muito doida. Estava nos ensaios para o filme e comecei a sentir muitas dores na mama. Achei que estava alucinando por estar sentindo isso, influenciada pela história talvez. Sei que comecei a fazer o autoexame e o peito parecia estar cheio de caroços. Fui correndo para o meu médico e até a Rosane ( Svartman, diretora do longa), foi comigo. Sabe o que estava acontecendo? O meu silicone encapsulou, então vou ter que fazer uma cirurgia na mama semana que vem, olha isso”. E completa:

Vou passar o Ano Novo operada, me recuperando. Vou tirar o silicone, não quero mais. O filme também me trouxe esse entendimento dos tempos da minha própria estética, vaidade. Agora estou querendo ficar original, me deixa com o que eu já tinha (risos). O peito que tenho hoje me trouxe muita alegria, mas está na hora de tirar. Acho isso super simbólico, como raspar a cabeça. É uma renovação – Suzana Pires

Ela lembra que passou por uma experiência em família com a doença. “Meu pai teve câncer (de pulmão), mas agora está bem. Não acredito em coincidências, era realmente para eu me aproximar desse assunto e falar dele para o público. Isso foi entre 2017 e 2019, depois veio a pandemia. Fiquei sem chão com a doença do meu pai, porque é um diagnóstico que ninguém está esperando. Muda tudo na vida de quem tem a doença e na de quem está por perto, mas a vida continua. Os dias passam com suas demandas e é preciso lidar com algo que pode ser mortal. Isso me deixou mais sensível, vendo tudo de forma mais simples”, observa.

Depois desses anos lidando com o câncer do meu pai e depois com a experiência do filme, saio vivendo um novo momento de fato. Entendendo que a vida é menos sobre vaidade, e mais sobre valores, relações honestas, amorosas. Isso passou a ser uma busca ainda maior daqui para frente – Suzana Pires

A artista fala das experiências que a transformaram nos últimos tempos: "Foi uma renovação" (Reprodução/Instagram)

A artista fala das experiências que a transformaram nos últimos tempos: “Foi uma renovação” (Reprodução/Instagram)

No filme, Suzana é a professora de matemática Clara, que faz sucesso como influenciadora educacional na Internet. Gostando de manter o controle sobre sua vida, ela vai precisar lidar com o diagnóstico e o tratamento na busca da sua cura para o câncer.  O roteiro é escrito por Suzana, Martha Mendonça e Pedro Reinato. ‘Câncer com Ascendente em Virgem’ conta ainda com Marieta Severo no elenco como mãe de Clara; e Fabiana Karla como outra paciente oncológica. Além de Ângelo Paes Leme, Yuri Marçal, Julia Konrad, Heitor Martinez e Carla Cristina Cardoso, entre outros. “O convite veio em 2020 através da Clélia e da Rosane e entrei de cabeça neste projeto. Não sei fazer nada se não for assim, se vou, é com tudo.  Fui estudar, ler o blog da Clélia, que é muito humanizado, divertido, dramático e de verdade. Esse filme conta a história de como uma doença dessa impacta a vida de alguém, suas relações, seu dia a dia, mas acima de tudo, fala da vida acontecendo, porque ela não deixa de seguir se você está doente, então aborda como lidar com isso. Aí vem os momentos engraçados, as relações que se transformam. A minha personagem renova a relação com a mãe, a filha, o ex-marido, com ela mesma. Estamos falando de vida”, resume.

E conta uma curiosidade: “Na cena em que Marieta aparece raspando o meu cabelo no filme, tivemos sete tipos diferentes de enquadramento. Está muito especial, emocionante”.

Marieta Severo faz a mãe de Suzana Pires no filme 'Câncer com ascendente em virgem' (Divulgação)

Marieta Severo faz a mãe de Suzana Pires no filme ‘Câncer com ascendente em virgem’ (Divulgação)

De olho no essencial

A atriz vê com naturalidade a mudança radical de visual para dar vida à Clara. “Tem sido um processo de desapego de muitas formas e começou por um desapego de vaidade quando fiquei sem os cabelos. Até porque a vida é bem mais que isso. Estou totalmente entregue, mergulhada e tenho certeza que vai ser um trabalho que vai tocar as pessoas”, acredita.

“Venho tendo  contato com pessoas que dividem como passaram pelo câncer e nunca é uma jornada fácil. Sou uma atriz atravessando isso na ficção, então os olhares para mim são diferentes do que para alguém que está vivendo e está com um abatimento real. E isso costuma ser mais cruel para as mulheres do que para os homens. Compreendi também, que aconteça o que acontecer, ao lidar com uma doença como essa, não existem vencedores ou perdedores, porque todos que precisam encarar algo do tipo já são vitoriosos”.

Entre Rio e Los Angeles

Há pouco mais de um ano, a atriz começou a expandir seus domínios como roteirista no audiovisual, vivendo um tempo em Los Angeles para isso. “Vim para o Brasil para fazer o filme, passo o Natal e a virada do ano aqui,  e depois volto para LA, porque minha sala de roteiro já recomeça. Estou trabalhando na Amazon americana em uma série. Já tenho uma vida em Los Angeles, mas estou lá e cá a trabalho, e aproveito para estar com a família e o amigos”. Sobre 2023 ela soma: “Foi um ano de expansão. A vida tem sempre mais a oferecer. O Instituto Dona de Si continua construindo sua história, tenho três filmes para lançar: ‘Câncer com ascendente em virgem’, ‘O Jardim dos girassóis’ e ‘O anel de Eva'”, divulga.

Continuo em Los Angeles também. Acho importante que tenha uma voz brasileira dentro de um show global. Vou continuar abrindo essa porta, não só para mim, mas para todas as manas que quiserem vir junto – Suzana Pires

"Tem sido um processo de desapego de muitas formas e começou por um desapego de vaidade quando raspei a cabeça, até porque a vida é bem mais que isso" (Foto: Gerson Lopes)

“Tem sido um processo de desapego de muitas formas e começou por um desapego de vaidade quando raspei a cabeça, até porque a vida é bem mais que isso” (Foto: Gerson Lopes)