Suzana Alves: “Amo meus cabelos brancos. Vejo muitas pessoas com depressão por causa da imagem”

* Por Carlos Lima Costa

A atriz e empresária Suzana Alves, que retorna à televisão, na novela Gênesis, na Record, sempre teve um estilo de vida saudável no que se refere a alimentação e cuidados estéticos. Dentro deste processo, aproveitou que estava confinada, em casa, sem trabalhar, para experimentar uma mudança logo no início da quarentena, quebrando um paradigma de visual que a sociedade impõe às mulheres. Ainda não tinha completado seus atuais 42 anos, quando parou de pintar a raiz dos cabelos, hábito que adotou aos 36 anos quando os fios grisalhos começaram a aparecer. “Eu me amei de cabelos brancos”, afirma.

Por uma questão de saúde, ela sempre evitou usar produtos químicos. “Sempre fui bem natural, da alimentação a estética. Somente meu cabelo levava química. Por questão profissional acabava tendo que me render. Na pandemia veio a oportunidade de me libertar das tintas, experimentei para ver como ia ficar. Era uma questão de desintoxicação, não achava que eu ia ficar assim até agora. Sei que meu cabelo é um instrumento do meu trabalho. Se precisar pintar, farei isso. Mas já decidi: Sempre que terminar qualquer trabalho, eu o deixarei voltar ao natural, pois essa liberdade é maravilhosa”, exalta.

Suzana Alves e seus cabelos naturalmente grisalhos (Foto: Reprodução Instagram)

E teve apoio do marido, o ex-tenista Flávio Saretta. “Ele fala ‘se você está feliz, é o que importa’. Isso me deixa à vontade, porque não é isso que muda a forma como ele me vê. Deve ser difícil quando o marido fala para a mulher todo dia ou mesmo de vez em quando, ‘pinta esse cabelo’. Isso faz diferença. E a beleza não é só por fora, faz parte de um todo, do ser humano. O brilho é algo que vem de dentro pra fora, essa luz chega até as pessoas”, reflete. E completa: “Só minha mãe (Lucia, 64 anos) que questiona, fala que sou muita nova para isso. É porque ela pinta os cabelos dela (risos).”

Suzana ainda não está gravando a trama da Record, com estreia marcada para o próximo dia 19. E não sabe como será o visual de sua personagem Salma, que vai aparecer em duas fases, aos 30 e aos 50 anos. “Ela é uma viúva, serva de Labão, pai de Raquel e Lia, na história de Jacó. É uma mulher espalhafatosa, divertida, não tem papas na língua”, conta.

A atriz está no elenco da novela Gênesis, da Record (Foto: Carol Ribeiro)

A nova rotina que ela adotou na vida é semelhante ao que se refere ao uso de maquiagem. “Quando trabalho, passo muito tempo maquiada para gravar. É tão bom quando você literalmente pode liberar, limpar a sua pele, estar sem essa máscara no rosto. Na questão estética, percebo que aos poucos a gente vai ficando escrava de tudo isso e vai se distanciando da nossa essência, da nossa personalidade, de coisas que vão fazer bem para a nossa saúde. Me deixava chateada ter que a cada 15 dias ir ao salão. Você fica escravo dessa demanda. Quando você vê que é bonita do jeito que é, na idade que está, que se sente bem, feliz como está. Envelhecer faz parte do processo da vida, isso é lindo. Você amadurece, cresce de dentro pra fora e vê a beleza de uma forma diferente do que só o estereótipo. No dia a dia, em casa, não uso maquiagem, nem para ir ao supermercado, por exemplo. Então, me sinto muito livre”, explica ela.

E faz um comentário em sinal de alerta: “Sempre separei bem personagem da pessoa, busco uma espiritualidade que me leva a essa naturalidade. E tenho a questão das redes sociais. Vejo muitas pessoas sofrendo com depressão por causa da imagem. Então, se você fica estimulando isso, você não está ajudando. Eu sou uma influenciadora, mas gosto de influenciar as pessoas para que se encontrem na essência delas. A gente já se maquia muito por causa do trabalho, em qualquer área, a mulher precisa estar mais arrumada. Mas no dia a dia a pele precisa respirar”, ressalta.

Plásticas tradicionais ou novos procedimentos que surgem como harmonização facial não enchem os olhos de Suzana. “Sempre busquei um padrão mais natural, é o meu estilo. Artista gosta de viver a idade que tem. Se mudar muito parece outra pessoa, não combina muito com o meio da arte que eu gosto e acho bonito. As minhas seguidoras buscam esse equilíbrio. É muito bom para a mulher ter essa vaidade também, se cuidar, estar bonita, se sentir bem, mas a gente não pode virar escrava. Cada vez mais eu me encontro feliz dentro do que eu sou, não do que as pessoas esperam que eu seja. Esse é o grande desafio da maturidade, essa busca pela essência. Mas não crítico nem julgo ninguém”, observa.

Na família de Suzana não teve nenhum caso de Covid-19 (Foto: Carol Ribeiro)

E prossegue nas elucubrações. “O importante é a pessoa se sentir bem com ela mesma. Sei que as mulheres hoje buscam uma independência, um equilíbrio, serem felizes. O mundo está mudando, as pessoas estão mudando e eu estou aqui para buscar meu equilíbrio também. Acho que a pandemia trouxe isso para todos nós, um pé no chão, uma busca pela entrega de alma, de corpo, de mente, de espírito. A gente tem visto muito as pessoas buscando na vida dar valor as coisas que valem a pena”, reflete.

Suzana, que estourou no final dos anos 90, com a icônica personagem Tiazinha, no programa H, da Band, acredita que, hoje, seu público seja formado por muita gente que a acompanha desde aquela época e de pessoas que a viram em novelas como Topíssima, da Record. “Mas nas redes sociais aparece que 70% do público que me segue é feminino. Essa questão é forte no Instagram, por conta desse meu estilo de vida. Falo muito de alimentação e vida saudável. Percebi a influência a respeito dessa verdade que me acompanha, de ter abandonado tudo, inclusive, a fama (ela chegou a passar uns anos longe da mídia) para viver da forma mais simples e natural. Acho que tem muitas mulheres buscando esse caminho de vida mais saudável e equilibrado”, argumenta.

Suzana tem passado a quarentena em sua casa, em São Paulo, aonde mora com o marido, o filho do casal, Benjamin, 4, e o enteado, Felipe, 16, que vive com eles desde os 11 anos. A mãe do rapaz mora nos Estados Unidos. “A gente enfrentou o que todo brasileiro passou. Evitamos muito de sair e isso foi importante, porque não corremos riscos e não ficamos doentes, ninguém na nossa família teve Covid. E tentamos nos conhecer mais, aprender. O ser humano tende a aprender mais com as dificuldades. Não tinha escola, então, tinha que ajudar o Ben nesse processo dentro de casa, diminuiu o trabalho, ajudar nas demandas da casa, passar mais tempo todo mundo junto, fez parte de um amadurecimento grande, apesar de ser uma situação triste”, relata.

Suzana e Flávio, comentarista da BandSports, estão juntos há onze anos e meio, sendo dez de casamento. “A gente não tem essa coisa de metade da laranja, nem encontro de almas, nada disso. A gente acredita mesmo no amor decidido, tivemos experiências antes, tivemos filho mais velho. Vemos muito Deus na nossa relação. E a gente se ama, ama a nossa família, tudo que a gente construiu, então, é maravilhoso, não deixar os nossos medos e inseguranças destruírem a nós mesmos”, avalia.

Suzana não planeja ter outro filho (Foto: Carol Ribeiro)

Aumentar a família não está nos planos. “Deus me realizou me dando o meu sonho, que era ser mãe e considero que tenho dois filhos, então, tenho uma gratidão enorme pelos meninos. Não faço planejamento, mas também não evito, quer dizer, tem a vontade de Deus que é soberana. Se vier, será bem-vindo, eu amo crianças, mas já estou com 42 anos, acho que já deu”, diverte-se

Além de se dedicar à família, Suzana, que é formada em Jornalismo, está fazendo o segundo ano da faculdade de Psicologia, além de um curso de Naturopatia. “É uma ciência que estuda sobre a vida natural, aprende sobre como tratar a imunidade, as doenças, através de homeopatia, remédios naturais”, conta. “Eu, por exemplo, não tomo remédio, é tudo natural já há muitos anos”, acrescenta. E abriu ainda, com o marido, uma empresa de alimentação saudável, com pães de fermentação natural, comidas veganas, bolos sem açúcar e sem farinha. “Acabei me reinventando na pandemia, eu mesma cozinho no meu fogão a lenha e também treinei uma equipe. Vendi para amigos e os amigos deles, não deu tempo ainda de criar um espaço físico por causa da pandemia. É empresa pequena, não quero que cresça agora, pois estou com outras demandas, estamos na pandemia, inclusive, parei no ano passado, porque é uma coisa supercaseira. Eu e o Flávio estamos com projeto de procurar um espaço, mas só depois que eu gravar a novela”, explica ela, que como atriz participou, entre outros trabalhos, da série Mandrake, na HBO, do filme Falsa Loira, de Carlos Reichenbach (1945-2012) e da peça A Babá, dirigida por Bibi Ferreira(1922-2019).

Boas vibrações não faltam para 2021. “Espero que a vida normal volte, que esse vírus acabe. Temos que agradecer a Deus pela saúde. A tristeza não foi, ainda é grande, por pessoas próximas, parentes de amigos. A gente sofre a dor das pessoas, não tem como”, avalia.

No dia a dia, Suzana prefere não usar maquiagem (Foto: Reprodução Instagram)