* Por Carlos Lima Costa
Uma notícia chocou o país nos últimos dias. Uma das divas do teatro e da TV brasileira, Suely Franco, aos 81 anos, estaria passando dificuldades e por conta disso teria deixado o apartamento aonde morava. A história não é bem assim, como ela explica adiante, mas o mal entendido tocou o coração da estrela pelo que aconteceu em decorrência dessa situação. “Ao mesmo tempo que me senti envergonhada, fiquei emocionada com o carinho das pessoas. Nunca imaginei que tanta gente gostava de mim. Falaram que se eu precisasse de algo era só falar”, ressalta.
Suely é dona de um apartamento no quarto andar de um prédio, sem elevador, na Urca. Como tem artrose, há quatro anos, operou um dos joelhos, e por recomendação médica, precisava evitar subir os quatro andares de escada. Assim, se mudou para o bairro do Catete, onde pagava aluguel. A atriz sempre foi muito ativa, atuando no teatro e na TV, mas devido a pandemia, o trabalho ficou escasso. Hoje, vive de uma aposentadoria e do salário que recebe por sua participação no seriado D.P.A – Detetives do Prédio Azul, como a vovó Berta, e quer evitar gastos excessivos. “Com essa outra situação, voltei para a Urca, em fevereiro, e agora estou enfrentando as escadas. É complicado, porque tenho artrose, mas tenho saído pouco”, explica ela, que ainda necessita operar o outro joelho.
Atividades físicas deveriam fazer mais parte da rotina dela. “Tenho sempre que fazer algo senão o corpo para. De vez em quando faço um movimento, mas nunca tive paciência para exercícios. Quando o problema fica sério, faço hidroginástica. Quando fico melhor, paro”, conta.
Suely mora com o único filho, Carlos, de 52 anos. Ambos tem se preservado e não tiveram Covid-19. No final desse mês, ela irá tomar a segunda dose da vacina da Astrazeneca. “Mas tem que continuar saindo com máscara, sem abraçar, seguindo todos os protocolos ainda”, alerta ela, que relata um pouco mais sobre como a pandemia impactou seu cotidiano. “Mudou completamente a vida da gente, que tem que ficar em casa, não podemos abraçar as pessoas. São vários amigos indo embora. Isso tem que passar, vai passar”, diz, esperançosa.
Quando tudo começou, Suely estava prestes a estrear o espetáculo Quinta-feira, Sem Falta, Lá Em Casa, onde ia dividir o palco com Nicette Bruno (1933-2020), que morreu vítima da Covid. As duas se conheciam desde que o caçula de Nicete e Paulo Goulart (1933-2014), o ator Paulo Goulart Filho, 56, tinha três, quatro anos. Essa semana, na terça-feira, dia 4, Suely perdeu outro parceiro de trabalho para a doença, o humorista Paulo Gustavo(1978-2021). Ela interpretou a tia Zélia nos dois primeiros filmes da franquia Minha Mãe É Uma Peça. “Era uma pessoa maravilhosa. A gente se divertia muito”, ressalta ela.
Antes da situação voltar a ficar difícil no Brasil, ela ia encenar o monólogo Ela e eu – Vesperal Com Chuva, adaptação de Rogéria Gomes e Rômulo Rodrigues, do conto Vesperal com Chuva, de Lúcia Benedetti. Mas igual ao início da pandemia, o desejo de voltar aos palco foi adiado. “Eu sinto muita falta quando não atuo. Para mim, a falta de trabalho é terrível, é a morte. Sinto uma falta danada de me apresentar”, assegura. Sem plateia, tem mostrado a peça de forma online.
Suely também já participou de algumas lives. Em relação as modernidades tecnológicas, internet, ela conta com ajuda do filho. “Não entendo absolutamente nada disso. Nunca consegui colocar nem um DVD para assistir na TV. Eu sou terrível para essas coisas. Quando começam a tentar me ensinar, parece que a cabeça vai ferver”, diverte-se. Mas ela até tem um Instagram, o @suelyfrancooficial. Fez depois de uma amiga insistir. “Mas eu não mexo, eu conto algo e ela coloca lá”, revela.
Presencialmente, desde março do ano passado, seu único trabalho concreto tem sido o seriado DPA – Detetives do Prédio Azul, onde interpreta a vovó Berta desde 2014. “Antes das gravações, uma enfermeira vem aqui em casa, faço o exame da Covid. Chego no estúdio, parece que estou em um CTI de hospital. Faço outro exame. São bastante cuidadosos”, aplaude ela, que grava cerca de duas vezes por mês e não contracena com ninguém, porque sua personagem vive presa em um espelho. Suely, que interpretou a Dona Benta, em O Sítio do Picapau Amarelo, está adorando trabalhar novamente para o público infantil. Ela, que não tem neto, sempre se emocionava quando as crianças a reconheciam e vinham falar com ela antes desse ‘novo normal’. E do trabalho no Sítio, baseado nas clássicos livros de Monteiro Lobato (1882-1948), Suely perdeu outro companheiro de profissão também para as complicações decorrentes da Covid-19: João Acaiabe (1944-2021), intérprete do Tio Barnabé, com quem contracenou em 2005 e 2006.
Sem poder estar no palco como gostaria, este ano, Suely completa 60 anos de sua estreia no teatro profissional com O Beijo no Asfalto, em 1961, no Teatro dos sete, companhia teatral de Fernanda Montenegro e Fernando Torres(1927-2008), entre outros. “Mas desde criança eu já fazia teatro no colégio, na igreja. Sempre tive essa paixão”, ressalta ela, que já vinha trabalhando na televisão há uns dois, três anos. Ela é do tempo que não havia videoteipe. “Estávamos habituados a fazer ao vivo. Quando começaram a gravar, se alguém errasse algo tinha que voltar tudo. Então, na época, a gente queria matar quem inventou isso (risos)”, entrega, às gargalhadas. Na TV, Suely participou de novelas como Estúpido Cupido, Mulheres de Areia, O Cravo E A Rosa, A Favorita, Joia Rara e A Dona do Pedaço, a mais recente, exibida até novembro de 2019.
Suely ainda carrega dentro de si o mesmo entusiasmo e vigor em relação ao seu ofício. “Parece que a gente está sempre começando. Para mim, é uma diversão, seja o que for, drama ou comédia eu vou me divertir”, garante. O que faltou realizar nessas seis décadas? “Nunca tive a oportunidade de encenar uma peça grega. Seria maravilhoso. Mas faço o que gosto, trabalho no que gosto, então, não tenho o que querer mais”, assegura. Agora, a essa altura da vida fica triste por ver como o setor cultural vem sendo tratado e pela forma como o país vem sendo conduzido. “O Brasil está com uma gerência de loucos. Impressionante as bobagens que escuto dos políticos. O que mais corta é da educação. A gente nunca imaginou que fosse chegar nesse ponto de um presidente pedir para trocar a bula de remédio”, lamenta.
Com o trabalho escasso, um de seus passatempos é fazer criptograma. “Eu sempre trabalhei muito. Estou aproveitando para dormir e acordar na hora que tenho vontade e estou lendo mais. É o que temos, então, vamos fazer do limão uma limonada. Venho lendo uns romances bobos de amor, porque não sou intelectual. Sempre fui romântica e acreditei no amor”, frisa ela que foi casada duas vezes. “O que faço é por paixão, seja pelo filho, pela família, pelas amizades. Tudo envolve amor”, explica. Permanecer em casa, não é um problema. “Sou tranquila. Gosto de sair para passear, mas de dia. E minhas saídas de antigamente vinham sendo mais para trabalho”, finaliza.
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