*Por Brunna Condini
Se em ‘Fuzuê‘, trama das sete da Globo, ele é o exótico Nero, dono de uma loja de departamentos popular, nos cinemas Edson Celulari traz reflexões sobre a humanidade e a espiritualidade. O filme ‘Nosso Lar 2 – Os Mensageiros‘ já se tornou a sexta maior abertura da história do cinema brasileiro desde 2022. A produção, que é dirigida e tem roteiro assinado por Wagner de Assis, é baseada no livro “Os Mensageiros”, de Chico Xavier (1910-2002), e acompanha o médico André Luiz (Renato Prieto), que se junta a um grupo de espíritos mensageiros da cidade espiritual Nosso Lar, liderado por Aniceto, papel de Celulari, na missão de ajudar a salvar projetos de vidas que estão prestes a fracassar. Católico, o ator é uma espécie de simpatizante da doutrina espírita e fala aqui sobre algumas experiências com a espiritualidade. “É também acreditar no que não vemos, só sentimos”, frisa.
Ele também compartilha o que poderia ser uma manifestação espiritual que seu pai, Edno, teve antes de morrer de câncer. “Quando estava no hospital, já bem debilitado, com os quatro filhos e minha mãe presentes no quarto, ele ficou ausente em algum momento, e do nada falou: “Dia 9”. Era o começo do mês de novembro de 1993 e alguns dias depois ele faleceu no dia 9. Na época não tomei isso como uma manifestação, mas sem dúvida hoje vejo que foi. Foi uma manifestação de entendimento da passagem dele”, conta.
Aos 65 anos, sete anos após passar por um tratamento para um Linfoma não Hodgkin, um tipo de câncer que tem origem no sistema linfático, o ator também comenta como encara a finitude. “Lidamos mal com a morte aqui no Ocidente. Olha, é o seguinte, quero viver muito, até os 150 anos (risos). Então, até lá acho que o meu velho motor vai ter maturidade para entender a finitude. Se fosse morrer hoje acho que seria cedo. Ainda tenho muita energia, desejos, sonhos, curiosidades e inquietação em relação à vida por aqui. Mas não penso na morte com medo. Tive medo quando recebi o diagnóstico de câncer. Até saber que existia um protocolo para o tipo que tive, que costuma ser bem-sucedido. Depois que comecei o tratamento, o medo foi se diluindo. Se eu recebesse um outro diagnóstico desses hoje, lidaria de outra forma, a gente vai aprendendo a lidar com a impermanência, com os sustos”.
O ator continua pensando sobre a experiência com a doença, aprendizados e reflexões que vieram com ela. “Quando você recebe a notícia de um câncer pensa: “Chegou a minha vez”. Isso foi em 2016 e eu achava que era muito cedo pra acontecer. Parece que quando se está com mais idade e já gastou mais seu combustível, passa a ter mais condições para entender o que significa ter que partir. E falo da finitude carnal desse universo que estamos vivendo. Bom, não era a minha hora, ainda bem”, analisa. E acrescenta: “Não sei o que eu faria se soubesse que iria morrer amanhã, por exemplo. Talvez eu fosse ficar agradecendo, dizendo às pessoas que as amo, talvez fosse pedir perdão por algo que ainda não tenha pedido…tentasse entender essa passagem como algo natural”.
É difícil porque não gostamos de falar da finitude. É bom quando entendemos a morte de uma outra forma, o que ainda não é o meu caso, mas estou me aproximando disso, querendo estudar mais – Edson Celulari
Espiritualidade e amor
Celulari conta que filmou ‘Nosso Lar 2‘ logo após o nascimento da filha Chiara, há quase dois anos (o ator também é pai de Enzo, 26, e Sophia, 21), e que na época sentiu muita saudade do pai, Edno, que morreu em decorrência de um câncer em 1993. “Quando a Chiara nasceu, falava para ela que meu pai, o vovô Edno, ficaria muito feliz de conhecê-la. E, logo depois do nascimento dela, eu entrei no set e meu pai ficou muito presente na minha cabeça e nas filmagens comecei a perguntar se eu não conseguiria uma comunicação com ele. Tinha gente da Federação Espírita assistindo nossas cenas e conversava com eles sobre isso. Entendi que me comunicar com meu pai não é algo tão simples, tem que haver uma disponibilidade neste plano e no plano em que ele está. Então, quero me aprofundar mais no assunto. Quem não gostaria de se comunicar com um ente que amava e perdeu?”, questiona. “Eu gostaria”.
Sou católico, mas conhecia um pouco da doutrina espírita e fui pesquisar ainda mais. É uma filosofia extremamente generosa e inteligente para abraçar. Não me tornei espírita por causa do filme, mas acredito, respeito e aprendi muito sobre a condição humana com essa história. Sempre escutei sobre as mais diversas manifestações, mas nunca presenciei uma. Ou pelo menos penso que nunca presenciei – Edson Celulari
Exemplo de fé
Com a entrada da novela ‘Beleza Pura’ (2008) no catálogo Globoplay, Edson Celulari, que a protagonizou, recorda um episódio envolvendo a visão espírita diante do mundo e das perdas envolvendo a autora da trama, Andrea Maltarolli. “Quando a Andrea faleceu logo após ‘Beleza Pura’ (a autora da novela morreu em decorrência de um câncer de mama um ano depois da exibição do folhetim, aos 46 anos), eu e o elenco ficamos muito tocados com sua partida e escrevemos uma carta para a família. Obviamente carregada de uma carga de tristeza, de pena por aquilo ter acontecido. Dimensionando como uma tragédia, já que ela era tão jovem. E os pais, espíritas que eram, responderam nossa carta de forma madura, com um entendimento profundo sobre a passagem. Dizendo que foi serena, lúcida, consciente, uma verdadeira aula para nós de como encarar essa passagem. A partida de alguém não é um ‘nunca mais’, já que a pessoa também vive em você pra sempre. Além disso, não acho mesmo que termina aqui. Acredito que tem uma vida após a vida, só não sei exatamente qual é”.
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