Sucesso na reprise de O Cravo e a Rosa, Tássia Camargo vive em Lisboa e não cogita voltar ao Brasil


A atriz, que ganhou fama nos anos 80 atuando em produções como Pão Pão, Beijo Beijo, Tieta e Rabo de Saia, está radicada na capital portuguesa desde 2017. “Só retorno se for um caso de emergência total, por algo que me faça ir aí e voltar para aqui rapidamente”, explica ela, que tem cidadania italiana e em breve vai ter a portuguesa. No país europeu, Tássia continua desenvolvendo carreira de atriz e também de diretora. Em entrevista exclusiva, direto de Portugal, vibra ao relembrar a novela de 2000. “Sou grata a todos e, principalmente, ao Luís Melo, o meu eterno ‘periquito’. Marcamos muito como casal”, ressalta. E relata sobre o clima em Portugal por conta da guerra entre Rússia e Ucrânia. “Muito triste, tenso, inaceitável! A União Europeia também corre riscos e estamos atentos”, lamenta

* Por Carlos Lima Costa

Nos anos 80, atuando em novelas como Pão Pão, Beijo Beijo, Um Sonho a Mais, Tieta, e na minissérie Rabo de Saia, a atriz Tássia Camargo ganhou fama e se tornou uma das mais incensadas atrizes de sua geração. Nas décadas seguintes, teve destaque em outras produções até que em 2007, atuou pela última vez em uma trama brasileira, Vidas Opostas, na Record. Dez anos mais tarde, deixou o país para morar em Lisboa, onde permanece radicada. Graças à reprise da novela O Cravo e a Rosa, exibida originalmente entre 2000 e 2001, na qual o público foi brindado com impecável parceria entre ela e Luís Melo, os fãs matam a saudade. “Lembro-me dos grandes companheiros de cena, de alegria, união, de um elenco fantástico. Sou grata a todos e, principalmente, ao Luís Melo, o meu eterno ‘periquito’. Marcamos muito como casal. É bom quando temos sintonia com os parceiros de cena”, frisa ela, em entrevista exclusiva, direto de Portugal.

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Entre recordações e novidades profissionais nas terras lusitanas, a estrela de tantas produções, deixou claro que somente através de trabalhos antigos, ela vai marcar presença na telinha brasileira. Ela não pretende voltar a morar no país. “A não ser em um caso de emergência total, por algo que me faça ir aí e voltar rapidamente”, assegura ela, que decidiu ir embora porque vinha recebendo ameaças de morte relacionadas a questões políticas. Como nunca mais retornou, não sabe se a situação foi resolvida, mas acredita que sim. “De certa forma, há tempos eu já planejava uma vida mais tranquila, longe dos grandes centros. Minha família é de Portugal e da Itália, sou cidadã italiana e em alguns meses terei a cidadania portuguesa. Sempre tive raízes aqui. Na década de 1990, cheguei a morar alguns meses na França e Itália. Gosto muito da Europa, apesar de ela estar vivendo atualmente um momento delicado e triste por causa da guerra”, enfatiza.

E relata como está o clima em Portugal em decorrência da invasão da Rússia na Ucrânia. “Muito triste, tenso, inaceitável! Independentemente do país, a guerra é inaceitável. A União Europeia também corre riscos e estamos atentos. Espero que acabe o quanto antes”, lamenta Tássia, que em relação à política brasileira, se diz decepcionada.

"Independentemente do país, a guerra é inaceitável. A União Europeia também corre riscos e estamos atentos. Espero que acabe o quanto antes”, lamenta Tássia, sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia (Foto: Herrera Fabiano).

“Independentemente do país, a guerra é inaceitável. A União Europeia também corre riscos e estamos atentos. Espero que acabe o quanto antes”, lamenta Tássia, sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia (Foto: Herrera Fabiano).

A mudança de continente não interrompeu a carreira de Tássia. Ela segue firme e forte atuando na área artística. E relata um pouco da atual rotina profissional em Portugal. “Sou encenadora (diretora) de espetáculos, atriz no teatro, fiz uma novela pela TVI (interpretou a muçulmana Aminah, em Valor da Vida, de Maria João Costa), dou aulas na NBA (Academia Nicolau Breyner), faço anúncios de TV aqui, na Holanda e na França e viajo para descansar”, conta ela, que não vê nenhuma diferença entre as novelas portuguesas e brasileiras. “Tanto aqui quanto aí temos atores e atrizes extremamente profissionais e talentosos. Tenho muitos amigos da área de TV e do teatro. Guerreiros como os do Brasil”, observa.

“Vivo o hoje, um dia de cada vez!”, diz Tássia. E garante que vai muito bem, mesmo depois do infarto que sofreu há três anos. “Eu sempre cuidei muito da minha saúde, mesmo antes do infarto. Não como frituras e nem bebo refrigerante há muitas décadas. Por questões genéticas tive o infarto, mas cuidar da saúde ao longo da vida me ajudou a superar de maneira mais rápida esse imprevisto. Segui todos os cuidados que o médico recomendou no pós e hoje estou muito bem, sigo com meus projetos, faço atividade física”, esclarece ela, que na capital portuguesa, tem a companhia do filho Pedro. Ela é mãe ainda de Diego, pai de sua netinha, Antonella. E há 26 anos, Tássia perdeu a caçula, Maria Júlia, de rubéola congênita tardia. “Impossível explicar”, diz sobre a dor.

Em Portugal, Tássia atuou na novela Valor da Vida, da TVI, e vem atuando no teatro e também dirigindo peças (Foto: Herrera Fabiano)

Em Portugal, Tássia atuou na novela Valor da Vida, da TVI, e vem atuando no teatro e também dirigindo peças (Foto: Herrera Fabiano)

Nesses últimos dois anos em que a pandemia da Covid ceifou milhões de vidas pelo mundo, Tássia se cuidou e não teve a doença em momento algum. Mas, como todos, teve a vida impactada pela crise sanitária. “Comecei a estudar inglês com o meu filho Pedro, comprei uma passadeira (nome de esteira aqui em Portugal). Como encenadora tive que trabalhar por seis meses com o meu elenco do espetáculo Vai Ficar Tudo Louco, com o apoio de Luís Miguel Calha, do Conselho da cidade de Palmela, por videoconferência e, quando houve a flexibilização, em maio de 2021, tivemos apenas dois dias para a estreia. Aproveitei para colocar a leitura em dia e ver os filmes que amo e não tinha tempo”, enumerou.

Com entusiasmo, relembra mais sobre O Cravo e a Rosa, inspirada em A Megera Domada, de William Shakespeare (1564-1616). Para Joana, sua personagem, o pai de seus filhos se chamava Manoel e era um pobre vendedor. Mas era um disfarce para a vida dupla do banqueiro Nicanor Batista, vivido por Luís Melo, que tinha outra família. Em cena, os personagens se chamavam de ‘periquito’ e ‘periquita’. A química entre Luís e Tássia era total. Não faltaram conselhos do público que se manifestava para ela nas ruas. “Muitas mulheres me avisavam que ele tinha outra, muitas a sério e outras a sorrir. Pediam que eu o castigasse, outras emocionadas com a Joana e sempre agradeciam-me pela personagem”, conta.

Luís Melo e Tássia Camargo em cena de O Cravo e a Rosa, cuja reprise faz sucesso atualmente nas tardes da Globo: "Marcamos muito como casal", diz ela  (Foto: Cristiane Isidoro/Globo)

Luís Melo e Tássia Camargo em cena de O Cravo e a Rosa, cuja reprise faz sucesso atualmente nas tardes da Globo: “Marcamos muito como casal”, diz ela  (Foto: Cristiane Isidoro/Globo)

Para muitos, a trama remetia a Rabo de Saia, minissérie de 1984. Neste outro trabalho marcante da trajetória de Tássia, ela fez dupla com Ney Latorraca (Nicinha e Quequé). Ele interpretava um caixeiro-viajante, que tinha três mulheres em diferentes estados do país. Além de Nicinha, Eleuzinha e Santinha, vividas respectivamente por Dina Sfat (1938-1989) e Lucinha Lins. Mas Tássia não via semelhanças. “Era outra época, um novo trabalho, outro personagem. Joana é totalmente diferente da Nicinha. Ambas são genuínas, mas cada uma com sua essência. Fiz laboratórios diferentes para estudar cada uma delas”, explica.

Na década de 80, Tássia Camargo brilhou na televisão brasileira em novelas como Pão Pão, Beijo Beijo e Tieta (Foto: Herrera Fabiano)

Na década de 80, Tássia Camargo brilhou na televisão brasileira em novelas como Pão Pão, Beijo Beijo e Tieta (Foto: Herrera Fabiano)

Passados mais de 20 anos das gravações de O Cravo e a Rosa, vivemos uma época de empoderamento feminino. Será que em uma novela produzida, hoje, essa trama de O Cravo e a Rosa seria bem aceita? “Não gosto do ‘politicamente correto’. A novela é bem aceita, tanto que a audiência é alta. As pessoas sabem que se passa na década de 20 com muita influência francesa. A direção do saudoso amigo e diretor Walter Avancini (1935-2001) é impecável. Com doses de glamour e humor na medida certa”, analisa. Que Tássia saiba, ela nunca viveu situação parecida a da personagem da novela. Vítima de alguma situação machista, assédio? “Quem nunca? Mas em um relacionamento, nunca”, assegura.