“Do Vidigal para o mundo”. Não, este não é um começo clichê para a história que vamos contar. De fato, Thiago Martins é um desses exemplos de jovem que venceu os desafios, conquistou espaço na profissão que ama e agora tem o mundo para desbravar. Dos seis anos de idade, quando entrou para o teatro para vencer a timidez no Vidigal, no Rio de Janeiro, até os recém-completados 29 anos, como protagonista de “Pega Pega” – por mais que ele não goste deste título –, o ator contou dos planos para o mundo. Depois do fim da novela, aquele jovem que cresceu nos becos da comunidade alimentando o sonho de ser jogador de futebol ou atleta de bodyboard carimba o passaporte para 45 dias na Europa colhendo os frutos da carreira como ator e músico. Ah sim, porque para chegar até aqui, ele sempre ouviu uma história de que tinha que ser dez vezes melhor que os outros. Mas isso a gente conta depois.
Em editorial exclusivo para o site HT, fotografado na suíte do Rio Othon Palace, Thiago Martins comenta o sucesso do Júlio de “Pega Pega”, a temática nada fictícia que a novela aborda, a infância na comunidade o sonho de ser pai e outros assuntos que, unindo quem gosta de falar com quem escreve sem parar, resultou em um papo plural e cheio de conteúdo. Para ilustrar esta matéria, Thiago emprestou sua verve modelo para as lentes de Prema Surya e posou com estilo para a super fotógrafa. Sem a timidez daquele menino que entrou para o teatro para vencê-la, o ator incorporou o personagem e trouxe ainda mais charme e atitude para os looks escolhidos por Tracy Rato. Como complemento, João Paulo Rodrigues ainda assinou a beleza de Thiago para o resultado incrível. Aperte o cinto e vem com a gente!
O título era para ser “Pega Ladrão”. Mas, com o peso que a palavra ladrão tem tomado nos últimos tempos aqui no Brasil, a novela das 19h da Globo foi rebatizada de “Pega Pega”. Mesmo assim, o enredo continuou sendo o roubo de R$ 40 milhões de reais. Fictício? Talvez. Afinal, o Carioca Palace, hotel onde tudo ocorre na trama, só existe dentro dos Estúdios Globo. No entanto, para criar a história, a autora Claudia Souto não teve que ir muito além. Como um dos personagens deste crime fictício, está Thiago Martins que, na novela, interpreta o garçom Júlio. “A cada dia eu venho aprendendo mais com o personagem. O Júlio me ensina muito sobre ética, moral e os erros do ser humano, mas também exige de mim. É um trabalho que cansa bastante porque ele nunca é 100% racional e está em um conflito interno constante”, disse.
Bom moço – até a oportunidade de provar o contrário –, o personagem de Thiago Martins se envolve no roubo milionário para salvar a casa que mora com as tias. “Isso é muito comum no Brasil. Existem pessoas que estão presas há anos, porque roubaram um litro de leite para dar para os filhos em casa. Ao mesmo tempo, temos pessoas que roubaram milhões de reais e estão por aí. Ou em uma casa maravilhosa com wi-fi, banho quente e água gelada”, destacou o ator que, na novela, divide o protagonismo e a participação no crime com outros três personagens: Sandra Helena (Nanda Costa), Malagueta (Marcelo Serrado) e Agnaldo (João Baldasserini). “Na novela, a gente fala de algo que está o tempo todo presente nas nossas vidas: aquele jeitinho brasileiro. A história tem um garçom que por necessidade entra em um roubo para salvar a vida dele e das tias, um cara que é malandro por natureza e tenta tirar vantagem em tudo, a mulher que ama glamour e o outro que vai na onda dos amigos”, disse.
Sendo assim, “Pega Pega” assume um protagonismo horizontal, em que a trama é guiada pela visão de quatro pessoas, com Thiago Martins como um dos integrantes. “Eu fujo do rótulo de ser o protagonista porque a novela também não é assim. Em ‘Pega Pega’ o destaque é linear e todos tem o seu momento. Não existe estrelismo. Por isso, me sinto apenas uma peça de um time que, nos bastidores, é muito unido. Nós estamos todos remando, de fato, em um mesmo barco e, com isso, estamos alcançando os números que mostram que é a melhor audiência do horário dos últimos tempos”, contou o ator que ainda destacou outra característica da novela.
Com a vida corrida dos brasileiros contemporâneos, os conteúdos audiovisuais estão ganhando ainda mais status. De uns tempos para cá, os jornais e programas de entretenimento estão se preocupando em detalhar o que ocorre na imagem para aqueles que assistem à distância. Ou melhor, apenas ouvem. “Hoje em dia, as novelas estão mais explicativas. Os personagens falam o que vão fazer e expressam o que estão pensando para que o espectador que, não necessariamente está na frente da televisão naquele momento, também entenda o que está acontecendo na história”, explicou.
Antenada ao novo modo de consumir teledramaturgia e com uma narrativa coletiva comandando a história, “Pega Pega” tem conquistado bons números desde sua estreia em junho. No entanto, atrás das câmeras, Thiago Martins apontou outra razão para o sucesso do folhetim. “A gente ficou três meses em preparação antes da novela e continuamos depois exercitando esse laboratório. Para mim, uma das grandes qualidades do Luiz Henrique (Rios, diretor da atração) é que a gente não estacionou. Depois que a novela estreou, nós continuamos trabalhando o personagem e analisando o passar dos capítulos”, contou o ator que acredita que este seja um dos elementos para o bom resultado da trama. “Essa preparação diária e contínua vem sendo o diferencial para o sucesso da novela”, completou.
Mas a contemporaneidade também é uma questão importante nisso tudo. Como comentamos, “Pega Pega” é um reflexo com humor e leveza dos crimes que acompanhamos diariamente nos jornais brasileiros. Roubo, ganância e desonestidade são conceitos que não podem mais ser ignorados dentro dos programas de entretenimento, como apontou Thiago. “A gente vive um momento muito delicado no Brasil, principalmente no Rio de Janeiro com essa cidade quebrada. O Brasil não está pronto para ser país de primeiro mundo. Aqui, a corrupção ocorre em todos os lugares. Como cidadão, eu tento fazer a minha parte de diferentes maneiras. Mas é importante que este também seja um assunto abordado em uma novela com a audiência e a visibilidade da Globo”, disse o ator que destacou a habilidade da autora da trama em não fazer com que a temática fique com uma abordagem pesada para a proposta da novela do horário. “A história tem uma narrativa leve. A parte pesada desse assunto a gente deixa para depois, para quando começar o Jornal Nacional. Depois que o William Bonner der o “boa noite”, aí começa a parte podre desse país”, acrescentou.
Aliás, este é um assunto que, de fato, mexe com Thiago Martins. “O Brasil ainda é um país em que as pessoas passam fome, não têm escola e nem saúde. E, mesmo assim, tem gente que pega esse dinheiro para comprar joias ou ficar guardando montantes dentro de um apartamento. Dói muito. Ainda mais para mim, que cresci e ainda frequento uma comunidade e sei dos perrengues que as pessoas enfrentam diariamente”, desabafou o ator que confessou que empresta um pouco do seu discurso como cidadão para os questionamentos do personagem dentro da trama. “Tem um pouco do Thiago em relação à honestidade. No entanto, eu sei que o que o Júlio fez foi um crime e ele precisa ser punido por isso. Não vou defender, ele precisa ser preso. Eu acho que todo ser humano está sujeito a erro, mas precisamos assumir as consequências”, afirmou.
E assim, “Pega Pega” cumpre uma função social às vésperas da próxima eleição para Presidente da República, governadores estaduais e demais cargos que iremos eleger em 2018. De acordo com Thiago Martins, interpretar e traduzir o que ficamos sabendo nos jornais em um produto que é para entreter ajuda a fazer com que o público assimile melhor as notícias e consequências. “É muito importante que as pessoas saibam do que está acontecendo para quando chegar nas eleições ninguém venda o voto por uma camisa ou uma cesta básica. Isso acontece muito, principalmente em uma comunidade. As pessoas abraçam um candidato que promete mil maravilhas e depois nunca mais aparece lá”, destacou.
No entanto, mesmo com a posição engajada em relação aos roubos, desvios e prejuízos políticos que temos descoberto nos últimos tempos, o ator confessou que não consegue acompanhar os desdobramentos de cada caso. Apesar do interesse, Thiago contou que a rotina atarefada o atrapalha a ser um cidadão ainda mais informado. “É muita notícia e eu confesso que me perco. É claro que eu tento me manter atualizado de tudo, mas o volume de informação é muito grande e a minha vida está super corrida. Então, nem sempre dá. Parece que a vida do brasileiro virou uma novela e a cada dia que passa temos novas reviravoltas no capítulo”, comparou.
Como consequência disso tudo, a saúde, educação e arte são algumas das esferas muito prejudicadas. Sobre o atual cenário, restou a Thiago apenas lamentar e alimentar uma expectativa por melhora. “Os teatros do Rio estão fechando e os patrocínios para as peças ficando cada vez mais raros. Hoje, as pessoas que viviam de arte estão precisando fazer bicos por aí para sobreviver. É triste ver a realidade do artista brasileiro, mas eu tenho fé de que isso vai mudar. A arte que temos em nosso país é única. Nós conseguimos dar nó em gota d’água”, disse o ator que começou a carreira no teatro, uma das artes mais prejudicadas neste momento de crise. “Não há mais verba e incentivo para termos uma escola gratuita de interpretação e, com isso, acabam-se os professores, as salas e o ensino. É uma pena. A consequência é que perdemos possíveis grandes talentos e oportunidades”, lamentou.
E Thiago Martins é um dos exemplos que pode comentar com propriedade a importância de iniciativas culturais para os jovens brasileiros. Além de perder a timidez, o teatro também lhe abriu as portas para os compromissos e a responsabilidade o afastou de qualquer possibilidade de caminho errado. Ainda mais quando o cenário é uma comunidade que, até 2012, não tinha a presença da Unidade de Polícia Pacificadora (projeto do governo do Rio que visa tirar o domínio do tráfico). E ele não foi o único. Do Vidigal, hoje temos outros exemplos de artistas que viram na arte uma oportunidade na vida, como Marcello Melo Junior, Roberta Rodrigues e Jonathan Azevedo, o Sabiá de “A Força do Querer”.
Coincidência ou não, o Vidigal é um celeiro de talentos. Por lá, os jovens e promissores artistas possuem um endereço certo para se descobrirem na profissão: o projeto Nós do Morro, que há 30 anos é referência dentro do cenário artístico e das comunidades. Inclusive, foi lá que Thiago Martins começou a estimular sua outra habilidade artística. Para além da atuação, ele também é cantor. “A minha música completa a minha atuação e vice-versa. O Thiago cantor não está deixando de ser ator, assim como na novela a veia musical também não tem como ser desligada. Eu sempre digo isso. Não consigo viver sem essas duas artes”, contou Thiago que defende a ideia dos artistas com talentos plurais. Aliás, tendência esta que tem ganhado espaço no mercado das artes no Brasil. “Nas peças de teatro do Nós do Morro, eu sempre era usado no personagem que cantava e atuava. Quando as pessoas me perguntavam se eu era cantor ou ator, eu respondia que sou artista. Então, a música sempre andou na minha vida. Fora que o Vidigal é um liquidificador musical. Eu lembro que o meu vizinho da frente escutava Reginaldo Rossi, o do lado Coldplay e a minha mãe Caetano Veloso e Elba Ramalho. Sem contar o funk e o pagode que tocavam em todas as ruas da comunidade. Ou seja, eu cresci com muitas referências musicais”, lembrou.
E tudo isso ganhou espaço no projeto “Balanço do TG”, show do ator e cantor que tem viajado o Brasil com um repertório para lá de variado. “Hoje eu digo que canto samba. Mas quem vai ao meu show, ouve Jorge e Mateus, Djavan, Belo e Backstreet Boys. Tem de tudo. O Balanço do TG é um projeto em que eu trago tudo o que o Vidigal me deu musicalmente”, contou Thiago Martins. No entanto, para além do sucesso nacional de seu “Balanço do TG”, o artista contou que vive um momento especial na música. Nas plataformas digitais, ele está lançando o novo álbum da carreira. A cada dois ou três meses, um single autoral ganha visibilidade e, ano que vem, será trilha para meses de dedicação ao disco. No total, Thiago já liberou duas das seis músicas que compõem o projeto. “Eu odeio me ouvir e me assistir. Nem ver as fotos que eu poso eu gosto. Mas eu estou muito orgulhoso desse meu trabalho. Eu faço questão de mostrar para todo mundo e querer saber o que as pessoas acharam, contou.
E lembra daquela história de “do Vidigal para o mundo”? Pois bem. Desde quando lançou o novo álbum, Thiago Martins coleciona elogios e comentários de fãs de todas as partes do mundo. Com a música, mais do que viajar e conhecer os cantinhos do Brasil com o show, o artista também consegue chegar a lugares ainda mais distantes com a ajuda da internet. “Eu recebi mensagens de Dubai, China, Espanha e Japão de pessoas elogiando a música e falando que eu levei um pouco da cultura brasileira para elas em outro lugar do mundo. Isso é muito legal e emocionante”, comemorou Thiago que, em relação às composições autorais, disse que a inspiração ocorre de diferentes maneiras. “Eu escrevo pensamentos. Momentos e emoções que me inspiram ou que marcam a minha vida de alguma maneira. Ontem eu estava no carro, escrevi algumas palavras de um refrão que veio na minha cabeça, gravei no celular e guardei”, disse.
Quando iremos saber desse refrão? Sem previsão. Em sua carreira musical, Thiago Martins se divide entre a agilidade de músicas inteiras em alguns minutos e letras que se arrastam por anos até ganhar a forma e a emoção que o autor quer passar. O fato é que, no fim, tudo o que Thiago Martins faz ganha o selo de qualidade do ator e cantor. Afinal, talento, estudo e força de vontade são ingredientes que Thiago traz em sua trajetória tanto na música quanto na atuação. Dedicado à carreira, ele é um daqueles exemplos que, realmente, não deixa passar uma oportunidade. Porém, a bordo de sua sinceridade, ele reconheceu que, na vida, precisamos ainda de algo além. “O talento, os estudos e a força de vontade são essenciais. Mas uma pitada de sorte é fundamental”, disse ele que, em sua vida, considera o fato de ter nascido no Vidigal e crescido entre a comunidade e a casa de Ricardo e Gisela Amaral.
Filho de doméstica, Thiago Martins tinha a casa do empresário “Rei da Noite Carioca” como um segundo endereço. No entanto, a infância do artista não foi algo simples e nem só de alegrias. “Foi uma época muito difícil e complicada. Por tudo. Pelo que cerca a vida na comunidade, a violência, a necessidade. Minha mãe foi empregada doméstica durante muitos anos para conseguir sustentar dois caras, nós morávamos em uma área de difícil acesso e tivemos um trauma que foi uma violência dentro de casa quando meu irmão tomou um tiro. Então, foi ima infância muito conturbada”, contou Thiago que garante que as lembranças desta infância e de tudo o que já viveu na comunidade do Vidigal o acompanham até hoje. “Todos os dias quando eu acordo eu agradeço por ter uma casa, meu cachorro, meu trabalho e toda a minha família estabilizada. É muito difícil, principalmente vindo de um lugar como uma comunidade. Eu cresci escutando que eu tinha que ser dez vezes melhor do que o menino do asfalto para eu conseguir algum espaço. Mas eu sempre bati na tecla que o fato de eu ter vindo do Vidigal não me faz melhor ou pior que ninguém”, apontou.
E ele conseguiu seu espaço. Hoje, no currículo, Thiago Martins tem 16 trabalhos na televisão, 16 no cinema e muita experiência no teatro. Além da música, é claro. “Eu nunca almejei nada do que eu vivo hoje. Nem sonhava em ser ator nessas proporções de televisão, fama etc. A vida me presenteou desta forma e eu sou muito grato a tudo”, confessou Thiago Martins que, agora, sonha em continuar vivendo da arte e ajudando a família. “Não é fácil entrar, é uma guerra. Até porque, nasce um novo ator a cada dia. Porém, ainda mais difícil do que entrar, é se manter”, disse.
Ah, e ainda tem mais um sonho nesta lista para o futuro de Thiago Martins. Este, não tão ligado à vida profissional, é a grande justificativa para o esforço e o trabalho intenso do artista hoje em dia. “Eu quero ser pai”, contou Thiago com brilho nos olhos. Ainda no campo da imaginação, já que o ator está solteiro, ele idealiza ter uma relação de amizade com o futuro herdeiro. Ou herdeira. “Se for pensar como eu sou com o meu cachorro, certamente serei muito babão. O meu sonho é ser um pai amigo, em que meu filho ou minha filha me veja como um parceiro. Quero que eles saibam tudo o que eu passei e proporcionar a eles uma infância que eu não pude ter lá atrás. É por isso que eu trabalho tanto”, contou o ator que não teve uma figura paterna presente em sua vida.
E quando o papo parecia ter chegado ao fim, eis que Thiago Martins surge com mais um assunto. Em janeiro, quando o ator se despedir do sucesso que está sendo o Júlio de “Pega Pega”, os textos decorados saem de cena e as malas de viagem assume a posição. Primeiro, Thiago embarca rumo ao Nordeste. Durante 15 dias, ele irá viajar para quatro destinos que marcaram a sua vida de algum jeito: Fernando de Noronha, Salvador, Fortaleza e Barra Grande do Piauí. “Foram lugares que eu conheci e me apaixonei. Barra Grande do Piauí, por exemplo, é maravilhoso. É a nova Jericoacoara. Mas são destinos que ou eu só fui uma vez, como Noronha, ou fui várias, mas não consegui aproveitar. Então, quero fazer uma viagem de uns quatro dias em cada cidade para conseguir relaxar e curtir bem o que cada uma pode proporcionar”, contou animado ele que já sabe o que vai fazer durante os dias de férias no Nordeste. “Comer caranguejo, beber cerveja, pegar sol e dormir tarde”, resumiu. Depois, o destino passa a ser a Europa. Em março, Thiago Martins viaja rumo a 45 dias de lazer e descobertas em seis pontos do continente: Paris, Londres, Amsterdam, Grécia, Portugal e Espanha. “Tá bom, né?”, brincou. Não disse que era do Vidigal para o mundo?
Agradecimentos:
Hotéis Othon
Bruno Heleno
Juliana Reis
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