Stênio Garcia comemora 60 anos de carreira, fala de Globo e peça pós-caxumba: “Estou fazendo com um ouvido só. O outro está complexamente chumbado”


Em cartaz no Teatro dos Quatro com “O último lutador”, Stênio, nessa entrevista exclusiva ao HT, ainda falou de sua semelhança com o personagem que interpreta: “Nasci no interior, com dificuldades, meus pais se separaram, teve a batalha para ser ator, de correr atrás. Foi uma verdadeira luta”

Stênio está em cartaz com "O último lutador" (Crédito: Milton Menezes)

Stênio está em cartaz com “O último lutador” (Crédito: Milton Menezes)

Cássia Faro, primogênita de Stênio Garcia, estava às vias de vir à luz quando a extinta TV Excelsior atrasou os salários do ator em meses. “Eu tive que sair correndo atrás de dinheiro para pagar maternidade para minha filha nascer. Foi o pior momento desses 60 anos de carreira, de crise, que a profissão me levou”. É da família também que Stênio fala quando lembra, do outro pêndulo da balança, de seu melhor momento. “Mantive minha família desenvolvida por conta do meu trabalho de ator. E daí vem minha gratidão à TV Globo”. Completando seis décadas de carreira, Stênio, nascido em Mimoso do Sul, interior do Espírito Santo, hoje marca os 83 anos e comemora os feitos em cartaz no, no Shopping da Gávea, com “O Último Lutador”, de Marcos Nauer e Teresa Frota, com direção de Sergio Módena.

Surdo de um ouvido – sua audição está sendo captada apenas pelo direito – por complicações de uma forte caxumba, Stênio encarou o percalço como “inesperado”. “Aconteceu há alguns dias da estreia, quando fecharíamos o acabamento. Foi quase uma readaptação. Me recoloquei no espetáculo porque estou fazendo com um ouvido só. O outro está complexamente chumbado”, conta, caracterizado o episódio como “mais uma batalha em sua vida”. “Acho que consegui vencer mais essa. Peço para alguns colegas para falar mais ou alto ou direcionar a fala para o ouvido que está funcionando bem. É uma adaptação que conseguimos em dois, três dias de ensaio. Agora estou tirando de letra. Mas não que eu queria continuar assim”, trata de esclarecer, com bom humor, diga-se de passagem.

“O Último Lutador” há mais coincidências com a vida que se possa imaginar: Stênio, assim com seu Caleb da ribalta, tem a família como sua grande preocupação. Na peça, o universo da luta livre é o pano de fundo para mostrar que por trás de guerreiros e gladiadores modernos existe um lado humano e familiar. “Por que não comemorar meus 60 anos de carreira com um personagem que tem semelhança com aquilo que passei? Nasci no interior, com dificuldades, meus pais se separaram, teve a batalha para ser ator, de correr atrás. Foi uma verdadeira luta”, lembra. Resultado: projeto certo, para o ator certo, na hora certa. “O Caleb conduz a família a um entrosamento por meio de seu conhecimento sobre lutas. Ela está desagregada e ele usa as artes marciais como metáfora”, nos situa.

E Stênio é mais ou menos assim. Conta que sempre teve que “correr atrás das coisas” e que nada “foi muito fácil” para ele. A vontade de vencer, no entanto, foi dada “pela própria família”. Nessa entrevista, ele fala muito em “querer e poder” e também de…morte. HT chegou a noticiar aqui seus dias de sufoco no Hospital São Vicente ao lado de sua mulher, a também atriz Marilene Saade. “Encaro a morte como uma coisa natural que deverá vir a qualquer momento. Eu nem sei o que é, o que vai acontecer do outro lado. O Carlos Castaneda, em “Ensinamento de Dono Juan”, diz que quando você nasce, a morte senta no seu ombro e fica te esperando. Então ela está aqui comigo, faz parte da minha própria vida e vai surgir a qualquer momento, como um processo”, raciocina.

"O Último Lutador": Stênio Garcia e elenco (Crédito Milton Menezes)

“O Último Lutador”: Stênio Garcia e elenco (Crédito Milton Menezes)

O assunto, aliás, é desejo de virar objeto de estudo. “Tenho vontade de estudar mais, de fazer um personagem de Kant (Immanuel, filósofo), que é justamente o seguinte aspecto: o homem não só vendendo a alma ao diabo, mas com a busca entre a vida e a morte procurando um pouco de explicação sobre isso”, compartilha. Enquanto o projeto não se realiza, Stênio, há 45 anos da Rede Globo, se diz à disposição do canal, fazendo jus ao seu contrato “permanente”. “Acho que resolveram descansar minha imagem, porque fui requisitado por muito tempo. Entrava e saía do ar (de 2005 a 2013 emendou papeis anuais). Então, devem estar refrescando”, sugere. Nesse meio tempo, ganhou os holofotes quando fotos nuas, suas e de sua mulher, caíram na rede.

Se ele acha que a sociedade está careta ou foi hipócrita da forma como lidou com o episódio? “Tudo é um momento. Estou com 83 anos, 60 de carreira. A gente viveu um processo: tive meu momento de galã, de garotão, e hoje sou uma pessoa que tem lá sua idade. Então preciso me mostrar com essa idade. O meu trabalho é de ator e eu tenho essa preocupação de trabalhar com o conhecimento da sociedade. Nós temos crises, dificuldades em todos os sentidos, mas é uma sociedade que está amadurecendo”, acredita.

Serviço

“O Último Lutador”

Elenco: Stênio Garcia, Stela Freitas, Marcos Nauer, Antonio Gonzalez, Glaucio Gomes, Mari Saade, Daniel Villas e Carol Loback

Temporada: de 15 de janeiro a 14 de março – (para dia 31/01 e volta dia 12/02)

Local: Teatro dos Quatro (Rua Marquês de São Vicente, 52/2º piso Shopping da Gávea – Gávea)

Telefone: (21) 2239-1095

Horário: sexta, sábado e segunda, às 21h/ domingo, às 20h

Ingressos: Sexta e Segunda – R$70,00 | Sábado e Domingo – R$90,00

Duração: 80 minutos

Gênero: drama

Capacidade: 402 lugares

Bilheteria: de segunda a sábado das 13 às 21h, domingo das 13 às 20h

Classificação etária: 14 anos