Stela Freitas: “Tive namorados mais jovens e ouvia piadas. Sexo na terceira idade é velado na sociedade machista”


O tema vai ser retratado na novela ‘Um Lugar Ao Sol’, na qual a atriz interpreta Geize. “As pessoas estão aí vivas, atuantes, com uma profissão e cheias de energia com a sexualidade. Diferente de 20, 30 anos atrás quando tinham que esconder o desejo. Como se as avós não fizessem sexo”, pontua, acrescentando que “atualmente, estou separada, mas tive dois casamentos com pessoas bem mais jovens do que eu, uns 10, 15 anos. Sempre tive namorados mais jovens”

* Por Carlos Lima Costa

Além do entretenimento, as novelas têm sido marcadas por apresentarem debates sobre temas relevantes para as mais variadas parcelas da sociedade. Em Um Lugar ao Sol, trama das 21h, a sexualidade na terceira idade será abordada através das personagens Noca e Geize, vividas, respectivamente, por Marieta Severo e Stela Freitas, que considera absolutamente normal e não vê razão para tabu. “As pessoas estão aí vivas, atuantes, com uma profissão e cheias de energia com a sexualidade. Diferente de 20, 30 anos atrás quando tinham que esconder o desejo. Como se as avós não fizessem sexo. Apaixonar-se na terceira idade acontece o tempo todo, mas é velado em uma sociedade patriarcal e machista como a nossa, principalmente a mulher não fala nesse assunto. Os homens namorando com mulheres mais jovens é comum, mas o contrário, não”, frisa.

Stela sempre foi bem resolvida sobre essa questão. “Atualmente, estou separada, mas tive dois casamentos com pessoas bem mais jovens do que eu, uns 10, 15 anos. Sempre tive namorados mais jovens. Mesmo que fosse uma diferença de 25 anos, não teria problema algum. Nunca tive preconceito de idade em relação às pessoas. Cheguei a ouvir piadas maldosas como: ‘pegou para amamentar’. Um absurdo, porque acham que a pessoa mais jovem é filho. Isso é burrice, bobagem”, assegura.

“Tive dois casamentos com pessoas bem mais jovens do que eu. Nunca tive preconceito em relação à idade”

Nem o período da menopausa tirou de Stela o interesse por amor e sexo. “Tem alguns momentos da vida, após a menopausa, inclusive, que a mulher é até um pouco privilegiada, porque se sente mais segura e tranquila para vivenciar não só o sexo, como os relacionamentos, então, para mim não foi um problema. Tive uma grande paixão depois dos 50. Isso é normal tanto com homens quanto mulheres”, diz.

"Foi vivência gostosa e divertida interpretar a Geize, essa personagem positiva e concreta”, ressalta a atriz (Foto: Globo/João Cotta)

“Foi vivência gostosa e divertida interpretar a Geize, essa personagem positiva e concreta”, ressalta a atriz (Foto: Globo/João Cotta)

Durante a pandemia, mulheres das mais variadas idades assumiram os cabelos brancos, deixando de lado um pouco da cobrança estética que recai sobre elas. “Esse é um modelo importado dos Estados Unidos. Temos muito essa visão de Hollywood, que graças a Deus está mudando. A mulher europeia nunca teve esse problema, sempre teve outro tipo de aceitação, de tratamento do próprio corpo e a noção de que envelhecimento não é doença. Já namorei homens europeus. É bem diferente do machismo brasileiro e latino. E, agora, existe um movimento de aceitar os cabelos brancos e ser feliz com isso. Eu só não deixei os meus ficarem brancos durante o isolamento social, porque já tinha começado a gravar a novela e não podia mudar, mas estou louca para deixá-los assim”, comenta.

A novela começou a ser gravada pouco antes da pandemia e teve de ser interrompida durante os primeiros meses até ser concluída. “Me senti privilegiada de estar trabalhando nesse momento tão difícil para todos. Me segurou a onda ter um trabalho nessa fase”, explica ela, encantada com a personagem: “A Geize é gente que faz. Uma pessoa totalmente do bem e solícita em ajudar as pessoas. Vizinha da Lara (Andréia Horta), vai trabalhar com a Noca (Marieta Severo) no restaurante. Foi vivência gostosa e divertida gravar com elas essa personagem positiva e concreta”, frisa a atriz.

“Apesar de tudo que a gente passou e até hoje ainda está passando, acho que fiquei bem. Aproveitei para estudar filosofia, que eu amo. Joguei a minha energia nisso e tinha uma personagem na novela para fazer. Isso foi bom, tinha que ficar focada, não podia engordar, porque senão ia perder todo o figurino da novela. Fiz exercícios e o que podia para ficar o melhor possível. Agora, claro que fácil não é para ninguém, principalmente pelo momento político que vivemos. Apesar de tudo, temos um número de vacinados maior do que a maioria dos países da Europa, que tinham dinheiro e vacina”, avalia ela, que tomou três doses do imunizante e não teve a doença.

No momento, a atriz aguarda resposta do Sesc para, no primeiro semestre de 2022, encenar Teatro Decomposto ou Homem-Lixo, do romeno Matei Wisniec. E planeja ainda retomar o espetáculo As Crianças, que fez em 2019, e que conquistou 18 prêmios. Ao longo de mais de 50 anos de carreira, Stela se destacou com personagens como Dinalda, em Sassaricando, e Cícera, em Senhora do Destino, sendo que na TV, estreou em 1978, sem mostrar o rosto. Substituindo Dorinha Duval, ela brilhou como a Cuca, do Sítio do Picapau Amarelo até 1981.

Stela estreou na televisão, em 1978, interpretando a Cuca, do Sítio do Picapau Amarelo (Foto: Divulgação)

Stela estreou na televisão, em 1978, interpretando a Cuca, do Sítio do Picapau Amarelo (Foto: Divulgação)

Stela se orgulha de ter conseguido viver de arte nesses mais de 50 anos de carreira. “Não fiquei rica, mas sempre vivi da profissão, o que era meu grande desejo. Mas é uma batalha diária. Ser artista no Brasil é difícil. A revista vende o glamour, o galã, a mocinha, o dinheiro, o sucesso, as figuras que são mais celebridades do que atores. Eu sempre tive uma formação em teatro, é a  minha base, então, pra mim é a profissão, não tem a ver com glamour. Sou operária da arte, aprendi muito nessa profissão e sou grata a ela, apesar de todas as adversidades”, diz.

E prossegue: Tenho alguns colegas que falam: ‘Stela, teu nome é trabalho’. Sempre respondo que se eu tiver que ganhar algum prêmio, é o de assiduidade, porque sempre trabalhei muito, graças a Deus, primeiro porque eu gosto, depois porque preciso. Pra mim o trabalho é o prazer inenarrável na profissão”, comenta ela, que começou a fazer teatro aos 14 anos e aos 18 entrou na Escola de Arte Dramática.

“Não fiquei rica, mas sempre vivi da profissão, o que era meu grande desejo. Mas é uma batalha diária. Ser artista no Brasil é difícil", enfatiza Stela (Foto: Divulgação)

“Não fiquei rica, mas sempre vivi da profissão, o que era meu grande desejo. Mas é uma batalha diária. Ser artista no Brasil é difícil”, enfatiza Stela (Foto: Divulgação)

E ressalta alguns trabalhos. “Ter participado de Central do Brasil foi emblemático. Foi um papel mínimo, mas que tinha a Fernanda (Montenegro), o Walter Salles. Foi um privilégio estar naquele lugar. Ter trabalhado com o Chico Anysio (1931-2012) foi um aprendizado enorme com a convivência com aqueles maiores comediantes do Brasil (na Escolinha do Professor Raimundo), então, são períodos que você faz coisas e a gente sobe um degrau na escala, porque você aprende. Eu aprendo com as pessoas, sabe, em Senhora do Destino tinha o grande show da Renata Sorrah em momento único no papel da Nazaré, a novela era ótima também. Então, não sei escolher o que valeu mais a pena, mas cada momento que eu vivo, sou surpreendida por novos desafios, por pessoas que me levam para um lugar que evoluo. Ainda tenho vontade de fazer tanta coisa. A Fernanda é sempre um exemplo, a Laura Cardoso também é uma lição de vida”, finaliza.