Sonia Abrão celebra 18 anos de “A tarde é sua” e não quer voltar para jornalismo policial: “Era um tsunami de dor”

*por Vítor Antunes

“Em São Paulo, ninguém sabe mais de televisão, de paz ou confusão, que a minha querida Sonia Abrão”. A frase acima destacada não é nossa. E não poderia receber maior destaque se não fosse por seu autor: Abelardo Barbosa, o Chacrinha (1917-1988), que em 1987, dedicou um de seus versinhos em homenagem à sua jurada eventual, a “jornalista Sônia Abrão, do Notícias Populares“. Desde então, Sonia Abrão se faz presente, na televisão, na paz, e na confusão, há anos. Transitou por diversas emissoras de TV e rádio, viu a transformação de seu ofício e encontrou seu lugar na Rede TV!, casa na qual chegou em 2000, logo depois de nascida a emissora, fundada em 1999. Esteve por anos no “A Casa é Sua” e ao voltar, fez um ajuste no título que perdura até hoje. Há 18 anos, “A Tarde é Sua“, dela e de todos os brasileiros. Pode-se dizer qualquer coisa da apresentadora, menos que não é uma mulher transparente e convicta, até mesmo para reconhecer os momentos importantes, sérios ou cômicos de um programa que completou a maioridade sendo relevante e a maior audiência diária da emissora que o exibe.

“Em 18 anos no ar, impossível não haver mudanças. A gente muda, o público também, a TV é cíclica e a vida é movimento! Dentro dessa dinâmica, passamos por várias fases, tivemos auditório, fomos do factual ao policial, mas sem nunca deixar de lado a cobertura artística, o mundo dos famosos, que o público ama! Acho que acertamos, porque muitos outros programas surgiram e passaram nessas quase duas décadas e nós continuamos aqui”, afirma.

Seguindo o fluxo de um jornalismo e de uma televisão continuamente em mudanças, não poderia ser diferente com o “A Tarde é Sua“. Inicialmente um programa de variedades, acabou engolfado pelo cotidiano e transformou-se em policial. A mudança de editoria acabou dando à sua apresentadora alcunhas pesadas. Como ela própria recordou, em entrevista ao Site Heloisa Tolipan em abril do ano passado: “Diziam, na internet, haver um Sonia Abrão facts [Fatos da Sônia Abrão]. Frases do tipo ‘Ela não faz programa ao vivo, mas ao morto‘, ou ‘não é Sonia Abrão, é Sonia Caixão‘. Cheguei a ser chamada de “coveira” por alguns colegas, jornalistas, assim, no ar. Para mim, o que me ancorava era o carinho do público, que não mudou. Eu fui muito mimada pelo público, que foi muito carinhoso comigo. A crítica era uma coisa da mídia e, infelizmente, dos colegas”. Hoje, ela reafirma categoricamente que jamais voltaria à cobertura de tragédias: “Foi uma época muito difícil para mim e toda a equipe, apesar da grande audiência. Terminávamos o programa sem um pingo de energia, após lidar com tanta violência, tantos crimes, tantas tragédias. Entrevistar, ao vivo, uma mãe que perdeu o filho era um tsunami de dor, não existem palavras que possam aliviar, consolar. Muitas vezes fiquei muda”.

Olhando para trás, acho que falhei por não ter forças para suportar tudo isso. Meu lado profissional perdeu para a minha fragilidade pessoal – Sonia Abrão

Perguntada sobre como vislumbra a TV para os próximos 18 anos, tal como a idade atual de seu programa, Sônia contemporiza. “Vai ser uma televisão na qual não estarei mais”. No entanto, muito possivelmente, será uma época em que seu neto, Filippo, estará, também, entrando na maioridade. Sonia enfrenta com naturalidade o passar do tempo – aliás, como deveria ser: “Vejo como a ciclos da natureza. O tempo não me assusta ou incomoda, talvez por eu ser uma mulher com 20 anos de análise. Consigo ver muita beleza em tudo, inclusive quero continuar tendo lucidez e uma história comprida, porque ainda tenho muitos sonhos. E, sobretudo, sou uma avó em pleno aprendizado, encantada e agradecida a Deus por ter chegado até aqui e poder viver essa experiência. Esse é o meu presente e a minha maior bênção”. O presente enquanto prêmio e o presente enquanto tempo. Jornalista sempre encontra uma forma de intertextualizar, nem que seja a própria vida…

Sonia Abrão celebra a temporada vitoriosa de “A Tarde é Sua” (Foto: Chico Audi)

A VERDADE DE CADA UMA DE MIM

A internet, erroneamente, aponta como 1983 a estreia de Sonia Abrão na TV. Uma pesquisa mais aprofundada, porém, remonta a 1982 – ainda que não se ponha a ser definitiva. Uma das primeiras aparições de Sonia na TV, pelo menos da localizada por esta reportagem, dá conta do programa “A Verdade de cada um“, show dos primórdios do SBT, ainda TVS, e época em que ainda ela era repórter do “Notícias Populares“. Neste programa entrevistou Carlos Imperial (1935-1992), Zé do Caixão (1936-2020), Wilson Simonal (1938-2000). Há 40 anos, Sonia participou pela primeira vez do programa da Hebe, ainda na Bandeirantes. Nesta época, Ferreira Netto (1938-2002) chamava-a de “coleguinha”, momento em que ambos já escreviam colunas sobre entretenimento. Em 02/03/1987, Sonia estreou na Rádio Globo. Em fevereiro de 2000, no “A Casa é Sua” e em 01/05/2006 no “A Tarde é Sua“. Quais seriam as novidades para esse momento do vespertino? “Para este ano, coisas básicas no segundo semestre, como nova abertura, vinhetas e mais dois quadros. As altas mudanças virão em 2025, mas é muito cedo [para contar]”.

Única aparição disponível da participação de Sônia em “A Verdade de Cada Um”, em 1982, na TVS/SBT (Foto: Reprodução/SBT)

Qual seria a mágica para fazer um programa de sucesso, caso haja? Para Sonia, muito se deve à criatividade e ao estímulo a ela. “Liberdade, sempre tivemos. Já a cobrança é de todos nós que fazemos o “A Tarde é Sua“, a começar pelo diretor, Elias Abrão, por mim e toda equipe, para gente não se acomodar nem perder o foco do compromisso de levar para o público um conteúdo popular, sem perder a qualidade”.

Um dos fatores que faz “A Tarde é Sua” ser autêntico é, justamente, a transparência. A host do programa relembra que um dos maiores constrangimentos, em 2016: “Teve um dia em que abandonei o programa no ar, em pânico, porque tinha alguém chorando e gritando nos bastidores, pensei que fosse minha irmã! Mas era só um garotinho, filho de um integrante da nossa equipe, de quem o pai tinha tirado o tablet! O menino fez o maior escândalo! …E eu virei meme nas redes sociais”, diverte-se.

“O que é que está acontecendo?” As repetidas vezes em que Sônia disse a frase acabaram virando meme nas redes sociais (Foto: Reprodução/Rede TV!)

Pelo menos desde 2007, ano da edição que fez de Diego Alemão o vencedor do Big Brother, Sonia deixa público o seu favorito no reality da Globo. Não deixou de ser assim nem na última edição, que revelou Davi, um participante que, ainda que controverso, movimentou o jogo e saiu dele muito popular. “Eu sou fã de reality show, mais ainda do BBB. Não peso a mão na torcida, porque não perco a perspectiva de que é apenas um jogo, mas deixo bem claro que os vilões não passarão – de Karol Konká, Nego Di à Wanessa Camargo“.

Depois de tantos anos de profissão, para a jornalista é preciso ter um olhar ponderado sobre a própria profissão. “A maior crítica ao jornalismo praticado hoje fica por conta das fake news. Ainda temos muito que aprimorar os métodos para detectar essas mentiras e alertar mais ainda a população. Já enquanto virtude, creio ser o avanço da tecnologia que conecta o mundo instantaneamente, a notícia em alta velocidade! Isso me fascina”, finaliza. Num tempo em que todos querem ser iguais, em cada palavra Sonia ressaltar que, em tempos bicudos como estes, o fundamental é ser o que se é.

Sonia Abrão e a equipe do “A Tarde é Sua”. Sucesso na Rede TV! (Foto: Divulgação)