O tapete vermelho do Palácio dos Festivais, de Gramado, onde tudo acontece, continua fervendo. Na noite deste sábado, o primeiro troféu especial foi entregue e o homenageado foi o animador Otto Guerra, em um ano em que o gênero completa cem anos de existência no país. O cineasta é famoso no Brasil e no mundo por seus desenhos animados disponíveis para todo o público focando, muitas vezes, em temas caros aos dias atuais, como os direitos da comunidade LGBT e a questão da mulher na sociedade. Quase todas as suas produções foram exibidas em primeira mão no evento o que gerou um vínculo ainda maior que perdura por 33 anos, sendo que Otto possui 40 anos de carreira.
O troféu reservado a ele foi o Eduardo Abelin que geralmente é dado para diretores, cineastas ou nomes importantes do gênero. Para aumentar ainda mais a homenagem, foram capturados vídeos caseiros de familiares e amigos de Otto. O animador José Maia e o presidente da GramadoTur entregaram o prêmio, que o artista recebeu de forma bem-humorada. “Sou apaixonado pelo José Maia, estava com ele em 1984 quando ganhei O Natal do Burrinho e naquela época não tinha noção do que significava o Festival de Gramado, era o 13º. Eles me fizeram acreditar em fazer cinema. Este evento abre espaço para todo o tipo de cinema, inclusive, a animação. A minha mãe dizia que eu era louco por fazer uns bonequinhos animados, ninguém entende muito bem o que é viver de desenho animado em Porto Alegre. Por isso, espero que esta celebração complete muitos anos, é um prazer receber este troféu que leva o nome de um grande precursor do cinema gaúcho”, comemorou o cineasta que confessou que se emocionou durante a homenagem.
Antes de deixar o palco, o artista não deixou de expor sua opinião sobre os últimos acontecimentos políticos e a reação da população aos fatos. “O Brasil está em um momento muito grave porque o povo está brigando contra ele mesmo. É ridículo esta rivalidade porque todos queremos a mesma coisa. Essa ferida que abriu no meio do país precisa ser colada, temos que fazer as pazes. O nosso país está no melhor momento cinematográfico, fazendo vinte e cinco longas animados, ao mesmo tempo, e inúmeras séries. Nossa cultura é muito rica, não somos pobres. Podemos ser a saída para um mundo menos egoísta, mesquinho e monetário”, garantiu Otto sobre a divisão política entre defensores da esquerda e da direita. Além deste apelo, o cineasta pediu a libertação de Rafael Braga, ex-morador de rua, que foi preso na época das manifestações de junho de 2013.
Otto Guerra não foi o único a levantar questões políticas durante seu discurso. A roteirista e diretora do filme Como Os Nossos Pais, Laís Bodanzky expôs a pouca quantidade de mulheres na indústria cinematográfica. “Nosso time possui muitas mulheres sendo a Maria Ribeiro a nossa protagonista o que foi fundamental para a montagem. Este cenário é muito importante porque no nosso cinema brasileiro, segundo um estudo da Ancine, somente 12% ou 15% profissionais que atuam no ramo são do gênero feminino. Somos poucas, mas nós fazemos um certo barulho. O Festival deste ano está colocando o feminino em evidência e reconhecendo esta voz que precisa ser ouvida”, afirmou Laís.
Como Os Nossos Pais é um dos filmes que está concorrendo ao título de melhor longa-metragem nacional no 45° Festival de Cinema Gramado. “Esta é a primeira sessão do filme no Brasil, inclusive, será a primeira vez que algumas pessoas da equipe irão assistir, por isso é uma noite muito especial. Estou muito agradecida por concorrer ao título de melhor do festival”, garantiu Laís. A montagem já foi exibida em outros países e foi recebido com muito destaque e reconhecimento. A trama fala sobre uma mulher que está passando por um momento delicado pessoalmente pois precisa desempenhar a função de mãe, filha e esposa, ao mesmo tempo. Além de Maria Ribeiro no papel desta mulher forte, o drama traz Paulo Vilhena, Felipe Rocha, Herson Capri, Clarisse Abujamra e Jorge Mautner como parte do elenco.
Para completar a noite, dois curtas-metragens que estão concorrendo ao Kikito foram exibidos sendo o primeiro O Espírito do Bosque, de Carla Saavedra Brychcy, no qual uma menina enfrenta seus medos e se aventura em um bosque que seria dominado por um espírito. O segundo foi Postergados, de Carolina Markowicz. “É uma honra estar apresentando este curta no Festival porque o filme foi, inclusive, rodado em Porto Alegre”, comemorou Carolina. O outro longa-metragem exibido foi o estrangeiro Mirando Al Cielo, de Guzmán García, que conta a história dos bombardeios que aconteceram em Barcelona, em 1938.
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