Sílvia Buarque interpreta mãe de Betinho em série do Globoplay: “Bolsa Família é importante no combate à fome”


A atriz é um dos nomes a estar na série “Betinho – no Fio da Navalha”. Pela segunda vez vive a mãe de um personagem interpretado por Julio Andrade na maturidade. Sílvia salienta que entre tantos programas sociais, o Bolsa Família é um dos mais importantes por conseguir trazer dignidade ao beneficiário, a fazê-lo sair da linha da pobreza, e, no caso das mulheres, sair de relacionamentos nos quais elas permanecem por vínculos econômicos. E a fala da atriz é amparada por dados. Pesquisas elaboradas pela FGV, Ipea e Banco Mundial demonstraram que ao menos 3 milhões da população brasileira ascendeu socialmente no que tange à segurança alimentar. Sílvia também comenta estar de volta ao teatro, estreando a peça “A Menina Escorrendo pelos Olhos da Mãe”, em janeiro, no Teatro Poeirinha, no Rio, em dupla com Guida Vianna

*por Vitor Antunes

Fruto de uma família sempe engajada nas causas sociais – já que é filha de Chico Buarque e Marieta SeveroSílvia Buarque não poderia fazer diferente ao destacar a importância de programas de amparo social. A atriz interpreta, na série “Betinho – No fio da Navalha“, a Dona Maria, mãe do protagonista na primeira fase da série, quando ele é vivido por Antonio Haddad.  O sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, faleceu em 1997. Para Sílvia é importante resgatar a memória de figuras como ele, em face de ser “um herói nacional. O Betinho foi muito pragmático, foi gente que faz, ainda que não tenha erradicado a fome. Agiu melhor que os governos e em todos os vai-e-vens deles. A gente precisa de caridade ainda. Há pessoas que falam que se deve dar a vara para pescar, mas não. Tem gente que não sabe pescar, tem que dar o peixe, sim”.

Além da série da Globoplay, Sílvia poderá ser vista no início do ano de 2024 no teatro. Ela, juntamente com Guida Vianna, estará na peça “A Menina Escorrendo pelos Olhos da Mãe” , que estreia dia 5 de janeiro, no Teatro Poerinha, no Rio de Janeiro. A encenação está em fase de ensaio. Até o fim do mês passado, Sílvia esteve na reprise de “O Sexo dos Anjos“, no Canal Viva. E pode ser vista no repeteco de “América” (2005), no mesmo canal.

Leia Mais: Sílvia Buarque está no ar em “O Sexo dos Anjos”, lança filme, peça e declara: “O mundo hoje está mais careta”

Sílvia Buarque. Atriz está de volta a teatro e, em série do Globoplay, vive mãe do sociólogo Betinho (Foto: Divulgação/TV Globo)

MULHER, MULHERES

Na série do Globoplay, Sílvia Buarque vive Maria, mãe do protagonista, na primeira fase. Depois, a personagem passa a ser de Walderez de Barros. “Eu tive um insight de procurar a Walderez sem nem mesmo conhecê-la, na cara de pau, na rede social, e a gente conversou sobre a personagem e eu me basei muito na composição dela, quando pude conhecer a mulher que ela estava compondo. É bem especial fazer uma personagem que existiu”. Concidentemente, esta é a segunda personagem da atriz a ser mãe de um que seria vivido por Julio Andrade na maturidade. Algo semelhante aconteceu no filme/série “Gonzaga, de pai pra filho”, no qual foi Dina, a mãe de Gonzaguinha (1945-1991). Estes foram “trabalhos muito intensos, muito amorosos”.

Para Sílvia, atualmente é importante falar sobre Betinho, em razão de os números da fome estarem em ascensão. “Eu acho que governos mais à esquerda, como o do Lula, são mais sensíveis a esta causa e têm um olhar mais zeloso sobre esse assunto, um olhar de mais urgência. Como através de programas como o Bolsa Família. Eu conheço pessoas que tinham perdido o direito e recuperaram. É pouco, mas o suficiente para matar a fome”.

Na época atual, aproximadamente 22 milhões de famílias recebem o apoio do programa Bolsa Família, auferindo uma média mensal de R$ 705,40. Com um histórico de duas décadas, este programa tem atingido índices satisfatórios na diminuição da desigualdade social no território brasileiro. Entre seus êxitos, ressalta-se a exclusão do país do Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas em 2014, conjuntamente com a perceptível redução da condição de extrema pobreza e da taxa de mortalidade infantil. Um estudo realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Banco Mundial, em parceria com o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, expôs que, neste ano, em específico, cerca de 3 milhões de núcleos familiares beneficiados pelo Bolsa Família deixaram a condição de pobreza. Mais de três milhões de indivíduos elevaram sua renda para além de R$ 218 por indivíduo ao mês – faixa limiar da pobreza.

Sílvia Buarque destaca que o  programa é, em especial, importante para as mulheres, “porque o Bolsa Família é dado direto nas mãos delas. Mesmo algumas que querem se separar dos maridos acabam não o fazendo por dependência econômica”. A fala de Sílvia encontra respaldo na  de uma personagem entrevistada pelo Correio Braziliense, moradora de Macapá (AP), chamada Aldenora González, que diz: “Eu sempre trabalhei, não de carteira assinada, mas era casada. Mudou drasticamente a minha vida quando me separei, em 2014, porque dependia do meu marido. Aí fiquei muito vulnerável. Passei uns dois anos criando pato, galinha, vendendo ovos… Mas chegou um momento que não era mais suficiente. Eu tinha muita vergonha de usar o cartão, dos amigos saberem que eu recebia o Bolsa Família. É muito estigmatizado. As pessoas acham que quem recebe o benefício não quer trabalhar e isso me afetava muito”. Hoje, porém, o periódico da capital federal, apontou que Aldenora conseguiu formar-se na faculdade e é socióloga. “O ser humano tem de ter dignidade”, dizia o samba do Império Serrano, de 1996, em homenagem a Betinho. Mais que nunca é preciso se construir um império de cidadania.

Meses antes de falecer Betinho foi homenageado pelo Império Serrano (Foto: Domingos Peixoto/Wikimedia)