Silvero Pereira sobre viver Clodovil em série: ‘Me identifico no vencer preconceitos e infância conturbada’

*Por Brunna Condini

Um dos artistas que mais impressionam pela multiplicidade de performances em sua geração, Silvero Pereira vem se destacando na TV, no cinema – onde é super requisitado – no teatro, e… na música. Sempre plural, ele mostra isso na gravação do single ‘Anjo Querubim’, ao lado do cantor Daniel Peixoto, nome forte do movimento musical LGBTQIA+ com sua banda Montage. Os dois, nascidos no sertão do Ceará, que se conhecem de longa data, lançaram a música para exaltar o orgulho de ser quem são, celebrando raízes e a militância através da arte. “Sempre gostei de cantar e é maravilhoso quando recebo convites que me desafiam. Sou um ator que estuda para cantar, não me considero cantor, mas quando recebo esse tipo de proposta me sinto ainda mais feliz em ser artista”, diz Silvero, que está gravando uma série de mistério para Netflix e, em seguida, emenda em outra interpretando o polêmico Clodovil Hernandes (1937-2009). A série vai pegar leve ou vai colocar todas as polêmicas e contradições dele também? “Acho importante mostrar o Clodovil para além do que já sabemos, da figura pública. Será um desafio mostrar sua solidão, suas angústias e vida pessoal”.

Silvero lança single ‘Anjo Querubim’, ao lado do cantor Daniel Peixoto, pioneiro do movimento musical LGBTQIA+ com sua banda Montage (Foto: Rafael Monteiro)

“Sou de Mombaça, e o Daniel, do Cariri, no Ceará, e nos encontramos há muitos anos em um festival de teatro. Então, já o admirava e vi o crescimento dele como ator, apresentador, cantor. Essa música é especial, fez parte da nossa infância, ouvíamos muito. É um prazer cantar com um amigo, uma canção que faz parte da nossa história, do nosso forró, do nosso Nordeste. Também foi gratificante porque me tira deste lugar confortável da atuação e me leva para os desafios, que é o que mais me interessa como artista: estar sempre em movimento”.

Silvero falou ao site direto do set da nova série de mistério da Netflix – que com o perdão da comparação um tanto óbvia – continua cercada de suspense. A produção reúne um elenco de peso, como Fernanda Paes Leme, Maíra Azevedo, a Tia Má; Gkay, Marcelo Médici, Thati Lopes, Romulo Arantes Neto, entre outros nomes, e contará a história de três famílias de diferentes partes do Brasil que se envolvem em um misterioso assassinato e na trama são reunidas em um antigo casarão por um milionário. Com o crime, os suspeitos serão obrigados a conviver na casa e ajudar um detetive bem atrapalhado a desvendar o mistério. “Ainda não deram um nome para divulgarmos a série, mas posso dizer que é uma comédia com mistério e que está sendo uma delícia gravar com esse elenco maravilhoso. Acredito que a estreia será no primeiro semestre de 2022”, conta. “Meu personagem é muito divertido, com fortes tiradas cômicas, mas com um passado muito suspeito. Sempre gostei do gênero de suspense, detetive”.

O ator e o elenco da nova série da Netflix que tem suas filmagens a todo vapor para contar a história de três famílias que se envolvem em um misterioso assassinato (Divulgação)

Personagem controverso

Anunciado para viver Clodovil Hernandes (1937-2009) na série sobre sua vida, também prevista para o streaming em 2022, Silvero revela que o trabalho já está em fase de pré-produção. “O grande objetivo deste trabalho é mostrar a intimidade do Clodovil , seu passado e seus dramas pessoais”, diz, a respeito da produção sobre o estilista e deputado federal. “Ele foi bem controverso em ser das primeiras figuras públicas LGBTs com grande espaço na televisão, na arte e na política. Entretanto, cheio de discursos preconceituosos. Me identifico com ele apenas no desejo de ser artista, de vencer os preconceitos e da infância conturbada”.

Ele testa o tom do cabelo para viver Clodovil em série: “Me identifico com ele apenas no desejo de ser artista, de vencer os preconceitos e da infância conturbada” (Reprodução)

Com uma história de orgulho e representatividade LGBT+ que em nada lembra a do estilista que vai interpretar, Silvero afirma que nem sempre se sentiu tão livre. “Tenho 39 anos, mas foi apenas quando entrei no teatro, há 20, que comecei a me sentir capaz de demonstrar, sem medo, meus desejos e minha vontade de ser quem eu realmente era. A sociedade me ditou várias regras tentando me moldar e me calar, mas foi a arte que me salvou dessa violência social e me deu potência como indivíduo e como comunidade LGBTQIA+”. E acrescenta: “Tive sorte, tive uma família que me acolheu e me deu forças para lutar e acreditar em quem sou e nos meus sonhos. Mas muitos dos nossos não possuem essa sorte e acabam numa vida de mentiras ou perdem a vida, são violentados e mortos, seja por pessoas cruéis ou por não suportarem tamanha dor”.

“A sociedade me ditou várias regras tentando me moldar e me calar, mas foi a arte que me salvou dessa violência social e me deu potência como indivíduo e como comunidade LGBTQIA+” (Reprodução)

O ator também revela que está com o coração livre, leve e solto: “Continuo solteiro e está sendo ótimo esse momento porque tenho tido dedicação exclusiva ao trabalho”. E reafirma seus planos futuros, que incluem filhos, mas sem casamento. “Fui casado por 10 anos (com dramaturgo Rafael Barbosa) e foi maravilhoso, mas acho que essa experiência passou, não quero mais um relacionamento longo. Ainda tenho o desejo de ter filho e de adotar muitos bichinhos”.

O cinema o adora, o streaming está se apaixonando, o que falta? “Quero investir na escrita e no entretenimento. No momento estou desenhando projetos de roteiro para streaming e tenho também o interesse também na experiência como apresentador”, revela.

“Não quero mais um relacionamento longo. Ainda tenho o desejo de ter filho e de adotar muitos bichinhos” (Reprodução)