Entra hoje em cartaz “Sex Tape: Perdido na Nuvem” (Sex Tape, de Jake Kasdan, Sony Pictures, 2014), veículo perfeito para Cameron Diaz voltar no tempo, evocando os idos anos noventa, quando se consagrou em Hollywood em produções ligeiras como “O Máscara” (The Mask, de Chuck Russell, New Line Cinema e outro, 1994), “O Casamento do Meu Melhor Amigo” (My Best Friend’s Wedding, de P. J. Hogan, TriStar Pictures e outros,1997) e “Quem Vai Ficar Com Mary” (There’s Something About Mary, de Peter e Bobby Farrelly, Twenthieth Century Fox, 1998). Nesta última década e meia, a loura tem preferido se dedicar aos filmes ditos sérios (“Vanilla Sky”, “Gangues de Nova York”, “O Conselheiro do Crime”) e aos blockbusters (a franquia “Shrek”, “As Panteras” e “Encontro Explosivo”), se distanciando daquele gênero que domina de olhos fechados: a comédia romântica e despretensiosa. Parece até que, nessa busca por novos voos, ela acabou dando um tiro no pé e se esqueceu de que foi justamente nesse tipo de filme que desbancou uma Meg Ryan pré-botox no título de namoradinha da América, abrindo a guarda para que Drew Barrymore e Katherine Heigl ocupassem o trono que já foi seu.
Obviamente, a fila anda. Mas, agora quarentona, Cameron pode mais uma vez se entregar de corpo e alma à comédia rasgada, ainda que no papel de uma mãe de família que, para resgatar os arroubos do sexo juvenil, está empenhada em recuperar o tempo perdido ao lado do maridão (Jason Segel). Sim, na juventude rolou química, era sexo o tempo todo, até na biblioteca da escola. A volúpia andava solta, aquela coisa de pele. Mas aí veio o famoso pedido de casamento, a rotina, os filhos, o cansaço após a labuta, o estresse, a pizza com a prole no lugar da libertinagem a dois e, como todo casal, os dois se vêem diante daquele dilema: o que fazer, já que o amor ainda existe e ninguém pensa em se separar?
Fotos (Divulgação)
E, como estamos falando de uma comédia passada em plena sociedade da comunicação, a moça tem a brilhante ideia de, para apimentar uma noite de liberdade, filmar seus malabarismos sexuais. Naturalmente, o voyerismo contido na ideia da tal sex tape funciona como poderoso afrodisíaco e a dupla manda ver enquanto a filharada passa a noite na casa da vovó: rola de canguru perneta a tocha cubana, passando por cadeira sem fundo. De lambuja, quem ganha é o público, já que a atriz foi filmada nua pela primeira vez. Se os marmanjos da plateia não curtirem o filme, pelo menos vão poder dizer se a estrela está ou não batendo um bolão, mesmo com 20 anos de atraso.
Está armada aí a encrenca. Afinal, o casal não é tão jovem assim, se fez na era analógica, não tem a rapidez digital da Geração Y e, óbvio, a gravação vai parar na tal nuvem, enviada através de uma série de DVDs entregues por eles mesmos até ao carteiro, em pendrives e sabe-se lá mais via o quê. Confusão estabelecida e mote para uma comédia que explora, sem pretensões, a dificuldade de entender como o conteúdo pode se propagar de forma tão maciça através dos recursos da atual tecnologia da informação. Uma sucessão de gags – algumas engraçadas, outras nem tanto – repetem a fórmula da corrida contra o tempo para evitar uma saia justa daquelas.
Funciona direitinho, sobretudo se o motivo para se ir ao cinema for relaxar do cansaço após a labuta e do estresse e se, ao invés de levar a prole para comer uma pizza, o casal de espectadores tiver deixado os filhotes com a vovó e ganhado uma noite livre sem os pestinhas. Afinal, assim como os protagonistas, é mesmo duro pacas conseguir recuperar um tempo que já passou e, ao invés de investir em posições mirabolantes (sem sex tape, por favor), talvez seja melhor mesmo pegar um cineminha a dois e ver essa deliciosa bobagem, rindo de si. No mais, as participações de um Rob Lowe enxutaço e de Jack Black também valem o investimento no ingresso.
Confira o trailer oficial (Divulgação)
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