*Por Brunna Condini
Um encontro raro e criativo. Que faz rir e comove com a mesma sensibilidade. Essa definição cabe bem na feliz dupla criada por Maria Eduarda de Carvalho e Eduardo Sterblicht, a Olga e Zeca de “Éramos Seis”, trama que termina sua saga no próximo dia 27, e já deixa saudades no público e na atriz. “É uma grande parceria mesmo! E essa novela é um mar de delicadeza, ela transborda o melhor dos afetos. É muito emocionante receber o carinho das pessoas nas ruas, que muitas vezes pedem para me dar um abraço e agradecem pelo “respiro” de amor que a história traz para os seus dias”, conta Maria Eduarda, que também compartilha, as “memórias afetivas”, que o trabalho suscitou: “Assisti a versão de ‘Éramos Seis” do SBT. Me lembro de ver a novela ao lado de minha avó, Laura, que não perdia um único capítulo. É curioso, porque as lembranças que tenho da trama se confundem com as lembranças da minha própria história, nesta época. Meus avós foram pessoas determinantes na minha formação, com eles aprendi a “fazer de conta” e isso sempre me salva da vida real. Por este motivo, fazer de conta que sou a Olga nesta versão da novela está sendo superiormente emocionante! ”.
Mas a saudade da dupla “Maria Eduarda- Eduardo”, não vai durar muito. A atriz celebra o projeto de mais um trabalho juntos. “Edu é um parceiro, dentro e fora de cena. Me divirto muito com suas gracinhas e imitações. Minha favorita é a de Maria Bethânia cantando “Gostoso Demais” (é perfeita!) Gravar com ele é diversão garantida. A sintonia é tão boa que pretendemos levar essa parceria para os palcos. Estamos tentando viabilizar um espetáculo nosso. É um projeto lindo e muito divertido, aliás, quem tiver interesse em patrociná-lo de alguma forma, não hesite em nos procurar”, anuncia.
Das lembranças do set, a atriz comenta a vivência de ser mãe de um prole de quatro filhos. Você é mãe da Luiza, 9, como ser mãe de tantos na ficção te impactou? “É uma delícia ser mãe de quatro “capivarinhas” tão talentosas e ultra inteligentes! Me delicio com as tiradas destes pequenos grandes atores, mas confesso que “parir” um bebê em cena foi uma experiência para lá de complexa”, confidencia. “A sequência do parto do quarto filho de Olga levou oito horas para ser gravada e me desorganizou profundamente. Precisei de um tempo e várias sessões de análise para me reorganizar. Ser artista é viver em (des)equilíbrio constante, sobre uma corda bamba de vastas emoções. Mas eu não desejo outra vida”.
Quais são os maiores desafios na criação de um filho hoje? “Acho que não existe um maior desafio. Os desafios são vários e diários. Educar é uma tarefa árdua, ininterrupta e inclui muita autocrítica, porque o discurso precisa vir na cadência de exemplos concretos. Mas talvez tenha algo que me preocupe especialmente: vivemos um tempo de muito desafeto e impessoalidade. Essa gincana esbaforida, que virou a vida contemporânea, junto com a praticidade tentadora do mundo virtual, está nos economizando como seres humanos. Com cada vez mais precisão, os algoritmos desejam nossos desejos, simplificam nossa capacidade de abstração, minimizam nossa possibilidade de concentração, nos sequestram de nossa vida real e desta forma perdemos a capacidade de nos relacionar verdadeiramente com os outros e isso inclui nossas crianças”, reflete.
Você também está em fase de captação para o seu primeiro longa, em que vai escrever o roteiro e dirigir. Que história quer contar no cinema? “Esse filme surgiu de um evento familiar, que me sensibilizou e me fez fantasiar uma trama a partir do episódio. Venho escrevendo e reescrevendo este roteiro em parceria com meu ex-marido, Snir Wine, há vários anos, e curiosamente, ele dialoga muito com nosso momento atual. O filme retrata a relação entre uma avó e um neto adolescente. Dois seres absolutamente diferentes que, por uma circunstância do destino, vão precisar conviver”, divide Maria Eduarda, que é bisneta do escritor imortal José Candido de Carvalho.
Envolvida com o novo projeto, ela fala da importância do tema do seu roteiro na atualidade. “É uma história que fala de como é possível crescer e engrandecer-se, através do diálogo com a diferença. ‘O amor é, antes de tudo, o mundo examinado, praticado e vivenciado a partir da diferença, não da identidade e o encontro amoroso é a possibilidade de fazer o outro existir em você, tal como ele é’. Salve, Alain Badiou!”, completa, citando o filósofo e dramaturgo francês.
Aos quase 38 anos, celebrados esta semana, em 11 de março, a atriz não se permite dissociar a arte do contexto em que ela é criada e consumida, e da consciência de como pode tocar a realidade ao redor. Depois de 24 anos de carreira, se pudesse determinar algo para sua trajetória artística, o que seria? “Acho que meu grande desejo é conseguir sobreviver como artista. Desejo também ter forças para seguir realizando e exemplificando, através dos meus projetos artísticos, que a arte é uma poderosa ferramenta de sensibilização e transformação da realidade”.
Depois da novela, além da peça, do longa, o que mais deseja fazer? “Segundo Guimarães Rosa, “são nas horinhas de descuido, onde a gente encontra a felicidade”. Depois de três anos emendando três novelas, três peças de teatro, e um longa, acho que o que mais planejo são horinhas de descuido”.
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