*Por Junior de Paula
Aguinaldo Silva não só tem tempo para escrever a ótima trama de “Império”, um alívio depois do fracasso que foi “Em Família”, de Manoel Carlos, como também não poupa esforços para atualizar seu blog e participar ativamente das redes sociais. Ah, e sem falar na gerência de sua marca de sapatos, do hotel de Petrópolis e otras cositas más. De olho na movimentação do autor pelo Twitter e Facebook, onde sempre dispara comentários afiados e tiros certeiros, nós selecionamos algumas respostas a perguntas que todo mundo se faz quando assiste à trama em torno de José Alfredo, o comendador vivido pelo astro da novela Alexandre Nero, e sua família.
1) Por que José Alfredo usa tantas expressões em inglês?
O comendador José Alfredo Medeiros é um comerciante internacional de pedras preciosas, e neste mercado a língua oficial é o inglês. Ele teve que aprendê-la para se movimentar nos meandros do comércio legal e do contrabando. Mas a aprendeu mal, é claro, porque essa é uma característica de todo brasileiro, dizer ‘gud mornin’ e achar que já fala inglês igual a Shakespeare. As palavras em inglês que ele usa são uma prova do quanto ele é exibicionista e pernóstico. Porque ele é exibicionista sim, com aquela mania de só se vestir de preto, e pernóstico, porque se acha o máximo e é metido pra caramba. Ou seja: é um personagem maior que a vida. E pensar que ele saiu do meu ventre! Depois de Giovanni Improtta e Crodoaldo Valério, pensei que não teria mais outro filho assim, mas aí veio o comendador: meio temporão, mas tão arrasador quanto aqueles dois… E eu descobri que ainda vou ter que escrever muitas novelas antes de começar a parir, em vez de personagens, ursinhos de pelúcia.
2) Qual a principal discussão que você quer levantar com a relação de Claudio Bolgari, vivido por José Mayer, com sua mulher, interpetada por Suzy Rêgo, e seu amante, o personagem de Klebber Toledo?
Já falei e repito: o que me interessa discutir nessa história não é a sexualidade do personagem, e sim o direito que ele tem de manter sua vida privada em segredo. Ou seja – para usar a linguagem vulgar graças à qual as pessoas se apropriam das questões mais sérias – de não sair do armário. É por isso, pelo direito à privacidade, que Claudio Bolgari vai lutar até o fim dos seus dias contra o malvado e fofoqueiro Téo Pereira (Paulo Betti). Na vida real, a gente sabe que essa é uma luta perdida. A ânsia de expor a vida alheia tornou-se uma doença que, alimentada principalmente por sites e blogs, mas também por certos setores da imprensa, vem se espalhando pelo mundo mais rapidamente que o vírus Ebola.
3) Como é o seu método de criação?
Não sei quanto aos meus colegas de profissão, no caso deles deve acontecer o mesmo. Mas nas minhas novelas nada acontece por acaso. À medida que escrevo, não me deixo levar ao sabor do vento – ou daquela coisa que desconheço chamada “inspiração”. Se fizer isso, me perco. Cada momento das tramas tem que ser milimétrico para mim, rigorosamente programado para acontecer no momento certo, de modo que empurre a história, que acrescente a ela um dado novo e que a faça se mover e seguir sempre em frente. Isso, tanto quanto o ato de escrever, exige um esforço supremo. No papel – quer dizer, no computador -, porém ainda mais dentro de minha cabeça, todas as histórias já estão traçadas; existe um mapa da novela cujos itinerários devem ser obedecidos. Numa novela – pelo menos nas minhas – não pode haver improviso.
4) Tem alguma coisa contra Xerém, já que vira e mexe os personagem fazem comentários pouco elogiosos à cidade?
Frequento Xerém há anos, um amigo meu tem um sítio lá. E quem fez aquele comentário não fui eu, foi a nojenta da Téo Pereira, aquela bicha pintosa e fofoqueira, que não vale nada, e só pensa em tirar o Cláudio Bolgari do armário.
Com Aguinaldo Silva é assim: um olho na TV e outro na tela do computador para não perder nenhum capítulo. Nem o da novela, nem os dos próximos comentários do autor mais interativo – e sem papas na língua – da TV Globo.
* Junior de Paula é jornalista, trabalhou com alguns dos maiores nomes do jornalismo de moda e cultura do Brasil, como Joyce Pascowitch e Erika Palomino, e foi editor da coluna de Heloisa Tolipan, no Jornal do Brasil. Apaixonado por viagens, é dono do site Viajante Aleatório, e, mais recentemente, vem se dedicando à dramaturgia teatral e à literatura
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