O pontapé para a trama de Segundo Sol é a carreira em decadência de um cantor de axé baiano. Beto Falcão, interpretado por Emilio Dantas, fez sucesso com sua música no meio da década de 90, mas perto da virada para os anos 2000 se tornou uma personalidade esquecida. Em meio a uma viagem para levantar dinheiro, ele é dado como morto após a queda do avião que iria pegar. Com a notícia, sua música estoura novamente. Na busca de salvar a sua família da falência, ele aceita se passar por morto e se muda para uma ilha chamada Boiporã, onde conhece seu grande amor, vivida por Giovanna Antonelli. “A Luzia é meio que o porto de todos os sonhos do Beto, porque ele sempre quis morar no Boiporã e viver a esposa e filhos na beira da praia. Quando ele a conhece, no meio desta história da morte, se apaixona por esta mulher, que é uma pessoa humilde, ligada à música e alheia ao que acontece no mundo. Este encontro trás de volta o Beto do passado, artista e ser humano”, explicou o ator. Em meio a toda esta confusão, está a vilã Karola, papel de Deborah Secco, que fingiu que estava grávida para separar o casal de protagonista e ainda rouba o filho dos dois para criar como se fosse dela.
A proposta de se fingir de morto veio de dois vilões da história, a própria Karola e o irmão dele, vivido por Vladimir Brichta. Para ele, parecia ser uma boa ideia já que queria impedir que a família perdesse a casa. “Acho que ele se finge de morto porque está meio perdido. É um cara que passou por muita turbulência. Fez sucesso, entrou em decadência, foi dado como morto, se apaixonou por uma e engravidou outra. Tudo isso em um curto período de tempo. É muita coisa para assimilar”, afirmou. A trama tem muito a ver com a segunda chance que as pessoas recebem na vida, por isso, todos os erros que os personagens cometem no início irão repercutir na tentativa de alcançar novas oportunidades. Na vida real, ele comentou que gostaria de poder ir aos shows que perdeu. “Meu primo tinha um ingresso para ver os Mamonas Assassinas, duas semanas antes deles morrerem, e eu disse que não ia porque estava cansado. Me arrependo muito”, lamentou.
Beto é um novo primeiro protagonista do ator em uma novela das 9h, um posto que costuma ser muito importante e esperado no meio artístico. “Não perco muito tempo pensando nisto, pois se isto acontecer vou ficar cheio de receios e aflições. Além disso, não vou conseguir pensar em algo para melhorar a qualidade do trabalho”, afirmou. Além disso, é o primeiro mocinho depois de ter vivido dois vilões, em Além do Tempo e A Força do Querer. “Nunca tinha feito antes e acabaram vindo dois seguidos. Quando recebi este papel fiquei me perguntando como era um mocinho. No entanto, acho que esta ideia está mudando um pouco. Cada vez mais os personagens estão passeando pelos dois lados, por exemplo, pelo fato do Beto aceitar a farsa já é um grau de vilania”, explicou.
Foi a presença muito forte da musicalidade que fez Emilio Dantas aceitar este protagonismo. O artista sempre foi muito ligado à sonoridade por ter crescido investindo neste ramo, com 15 anos, inclusive, ele tinha uma banda. No entanto, esta é a primeira vez que entra neste mudo na televisão, atuando. Dessa forma, não ficou com medo de abusar do estilo caricato do axé, porque, de acordo com ele, este ritmo é colorido e muito típico. Para fazer o Beto, ele buscou inúmeras inspirações em cantores do gênero. “Minha primeira referência foi um grande amigo meu, o Léo Pinheiro, que é um músico do Tocantins. Não tem nada a ver com a Bahia, mas acho que o personagem se parece com ele. Também me inspirei em Super Homem, por causa da ideia de uma dupla identidade. Além disso, assisti ao documentário Axé, o canto do povo, que mostra um pouco da trajetória do estilo musical”, afirmou. O ator possui muita familiaridade com o ritmo por causa da lembrança de sua adolescência, apesar de ouvir muito rock atualmente.
A canção que mais fez sucesso de Beto Falcão se chama Axé Pelô. Ela é uma das músicas que fazem parte da setlist do ator para entrar no personagem. Emilio ainda contou que sempre separa uma trilha sonora para cada atuação. “Estou ouvindo algumas músicas e vou montando a lista conforme a quantidade de vezes que vou escutando. Tenho pouquíssimas até agora, mas estou tentando pegar algumas no Spotify. Já separei algumas do Saulo e Davi Moraes. Este último tem uns rifs de guitarra que trouxe, por conta própria, para o personagem. A melodia de Na Massa me lembra esse lugar confortável entre o axé e o rock da minha época”, comentou.
De acordo com o ator, a maior dificuldade que teve com o personagem, até o momento, foi ter que voltar da Bahia. O elenco passou um mês no estado passando por Porto Seguro, Salvador e Arraial D`Ajuda. ”Já tinha ido para lá antes durante a turnê do Cazuza, mas nunca senti que conhecia o lugar totalmente, já que sempre estava de passagem”, comentou. Dessa vez, ele conseguiu visitar muitos lugares e se aprofundar na prosódia, que é necessária para o personagem. “Estou treinando muito o sotaque. Tento falar sempre, porque um dia cheguei aos estúdios para fazer uma cena pequena e achei que não precisava praticar muito. Na hora, não rolou. Percebi que tenho que ir esquentando o motor, então quando entro no Projac já começo a falar ‘baianês’. Em casa, às vezes, continuo falando sem querer, ainda mais porque a Fabiula Nascimento, minha namorada, também está no elenco”, comentou.
Durante o tempo que passou na terrinha de todos os santos, Emilio Dantas ainda conseguiu tirar um tempo para passar uma pequena lua de mel com a namorada e ainda levou o cachorro dos dois, um american staffordshire. “É uma delícia. Primeiro porque a gente pode estudar em casa, segundo que ela tem uma cabeça fantástica, uma atriz que eu sempre fui muito fã. Antes mesmo de namorar, a achava inteligentíssima. Além de tudo, nós passamos dicas um para o outro e nos divertimos”, comentou.
Estar com a namorada é uma das principais coisas que o artista faz em seu tempo livre. Fora isto, ele costuma ver televisão, desenhar e brincar com o cachorro e confessa que não deixa de viver por conta da insegurança da cidade. “Não mudei nada na minha rotina, porque acho que não tem jeito, não podemos viver com medo. Quando era moleque, com 8 anos, eu morava em uma vila perto do Salgueiro e fui defender o meu irmão em uma briga. O resultado foi que a mãe do outro menino pagou 15 garotos para me bater e acabei sendo espancado. No dia seguinte, saí para brincar e minha mãe não concordou, mas argumentei com ela que a mulher não ia dar o dinheiro duas vezes. Tinha que viver. Sempre fui mais preocupado com os outros do que comigo, tenho medo quando Fabiula sai tarde do Projac, por exemplo”, desabafou.
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