“Se me chamarem para um papel na nova versão de “Pantanal”, topo. Mas vamos deixar fluir”, diz Cristiana Oliveira


A atriz comenta a divulgação sobre o acerto de direitos para a produção de uma nova versão de “Pantanal” pela TV Globo. E a convite do site volta no tempo, relembrando a inesquecível Juma Marruá, sua personagem mais famosa. Além disso, Cristiana revela memórias e curiosidades da época, e também fala do momento atual: “Como empresária os trabalhos continuam, mesmo na pandemia. Mas adaptando, aumentamos a ação digital. Estamos trabalhando o triplo, mexeu muito com a economia. Mas tudo foi adaptado. Ter que me reinventar novamente não me assusta, sou adaptável. Parar não dá. Há alguns anos, me readaptei após 22 anos de TV Globo, que era uma espécie de segunda casa para mim. Mas fui sem medo, ressignifiquei, me tornei empresária e segui com minha carreira de atriz também. Sou do movimento. E acho que tudo que estamos vivendo, tão difícil, também vai possibilitar novos significados, individuais e gerais”

“Se me chamarem para um papel na nova versão de "Pantanal", topo. Mas vamos deixar fluir", diz Cristiana Oliveira

*Por Brunna Condini

Foi noticiado no sábado que Benedito Ruy Barbosa e sua família negociaram os diretos de “Pantanal” com a TV Globo e a ideia é mesmo a de fazer uma nova versão da trama e não uma série, como havia sido cogitado. O site que é fã da produção, entrevistou com exclusividade a eterna Juma Marruá, a atriz Cristiana Oliveira. Falamos das expectativas para o remake, e das memórias da primeira versão, um dos maiores sucessos da TV, que foi realizada pela extinta TV Manchete e completou 30 anos. E também das curiosidades dos bastidores do folhetim que narrava a saga de Jose Leôncio (Claudio Marzo – 1940-2015), Juma e Jove (Marcos Winter) e tantos outros personagens marcantes.

Cristiana Oliveira e sua inesquecível Juma Marruá (Divulgação)

Como recebeu a notícia? “Na verdade, já escutava essa história há algum tempo, mas era especulação. O fato de terem batido o martelo foi bacana demais, a TV Globo tem toda estrutura para fazer uma grande novela, não tem como não dar certo”, diz Cristiana. “Mas vai ser uma novela diferente. Quando fizemos era uma outra época, foi uma experiência dramatúrgica inédita. Ficamos mesmo no meio do mato, morávamos juntos, longe de família, uma série de acontecimentos que fez disso uma aventura. O Jayme (Monjardim) disse na época: “Vai ser uma aventura. Vamos explorar uma das riquezas mundiais”. E nós desbravamos mesmo, aquele lugar, a linguagem. Mas o texto primoroso deve ser o mesmo, talvez adaptado para os dias atuais. A novela é linda demais, e isso vai uma grande e merecida homenagem para o Bené (Benedito Ruy Barbosa). Ele teve novelas marcantes, mas “Pantanal” foi diferente. Acho que vai ser legal para uma nova geração. É um novelão”.

Personagem icônica

Antes de dar vida à famosa personagem, Cristiana havia estreado em “Kananga no Japão” (1989), na mesma emissora. “E de repente pulei para um trabalho no meio do mato, eu, totalmente urbana. Mas as pessoas estavam tão felizes de estar ali, tinha um tesão em fazer, não era só um mergulho no trabalho, era um mergulho em nós. Não havia distrações, tínhamos as serestas do Almir Sater e do Sergio Reis que eram o máximo, mas não tínhamos internet, era outro tempo. Fico pensando nesta novela hoje, com a pandemia, o mundo ainda mais digital, vai ser curioso de ver. Ela foi um marco, na minha vida. É antes e depois dela”.

A atriz como Juma Marrua, em cena da novela “Pantanal” da extinta Rede Manchete (Arquivo/Bloch)

Se a chamarem para participar da nova versão, toparia? “Topo, claro”. No entanto, destaca: “Vou ser bem sincera. Eu acredito na naturalidade da vida. Vamos deixar fluir. Se acharem que tem um papel que posso fazer bem, vou curtir. Mas claro que se me convidarem tem dois personagens que curtiria fazer: a Filó, que foi interpretada lindamente pela Jussara Freire, e a Maria Marruá, mãe da Juma, papel da Cassia Kis. Mas sem expectativas, torço para que seja lindo e que consigam ampliar as questões ambientais com a ajuda da internet”.

“Se acharem que tem um papel que posso fazer bem, vou curtir” (Divulgação)

Que atriz acredita que tenha a potência e o perfil para ser a nova Juma? “Acho que deveriam ser feitos testes com meninas novas. A Juma tem uma pureza, inocência, um primeiro olhar, um frescor, que uma atriz nova traria inevitavelmente junto”, opina. “Acho que têm atrizes que conhecemos e também que fariam bem, mas profissionais que não tenham personagens tão marcantes. Não quero citar nomes, até porque isso é só uma opinião. Mas essa alma com um primeiro olhar é algo que quem for escolhida deveria ter em mente. Eu, por exemplo, tinha 26 anos à época, a Juma era muito mais nova. Mas estava começando e busquei essa inocência de existir mesmo. Me inspirei muito no olhar da minha filha, Rafaella, que tinha 3 anos. A Juma era uma criança no corpo de adulto. Me inspirei na inocência. Até de descobrir o amor”.

Memórias e Curiosidades

A trama original parte da história do fazendeiro José Leôncio, que após um relacionamento frustrado se muda para o Pantanal e acaba conhecendo o filho do romance que teve no passado, Joventino, que por sua vez, encontra em Juma, cria local, o amor em sua forma mais genuína. A emoção dava o tom da trama contada em ritmo desacelerado, com uma fotografia de tirar o fôlego. “Foi tudo incrível. Me emociono com o que lembro, aprendi tanta coisa. Era muito urbana e muito careta. Não bebia, não gostava de dormir tarde. Continuo não bebendo (risos). Mas vivi aquilo ali intensamente. No início, como não tinha antena parabólica, gravávamos e eu ia dormir às 19h, até porque acordava às 4h para gravar. Mas, com o passar do tempo, quando era possível nos reuníamos para serestas, bate papos, aprendi e fui muito feliz”, relembra.

“Até do avião teco teco que viajei mais de 70 vezes não tinha medo. O piloto também fazia parte da novela, então sobrevoávamos o Pantanal observando a natureza, os animais. São lembranças tão gostosas. De pisar no rio e o jacaré sair correndo, das boiadas passando. Lembro que nunca vi um céu tão estrelado e tão próximo como o de lá. É uma emoção sem tamanho”.

“São lembranças tão gostosas. Lembro que nunca vi um céu tão estrelado e tão próximo como o de lá. É uma emoção sem tamanho” (Acervo Bloch)

Cristiana revela que, além das recordações da vivência em grupo e dos sets paradisíacos, a passagem pela trama também possibilitou um grande crescimento pessoal. “Aprendi vivendo a Juma a me conhecer melhor, não estar sempre fugindo de encarar a minha realidade e ficar comigo. Quando somos muito urbanas tendemos a não abrir esse tempo para nós. Me descobri tanto neste trabalho”, reflete. “Acordava feliz, trabalhava cheia de vontade, só o que pesava era a saudade da minha filha. Tem até uma história engraçada, porque como nos comunicávamos por rádio transmissor, muitas pessoas podiam ouvir o nosso papo. Mas, às vezes, eu esquecia disso e acabavam saindo notas na imprensa destes papos”.

Ainda a chamam de Juma nas ruas? “Sim, apesar de todos os outros personagens, ela é um marco mesmo. Chamam até pelo apelido “Ju” (risos). É a minha persona”, admite a atriz, que também está no ar na reprise de “O Clone’, no canal Viva. “Outro dia fui tirar sangue, a profissional era uma menina novinha, e disse que ia falar para mãe que tirou o sangue da Juma (risos). Várias gerações viram “Pantanal” juntas, até porque teve a reprise no SBT. Todos os países que vou tem alguém que me reconhece. Uma vez estava na França, em uma loja, e quando saio veio um grupo de uns 20 brasileiros pedir autógrafo, tirar fotos. Então, vou morrer, mas ela fica. Está na história da dramaturgia”.

“Vou morrer, mas a Juma fica. Está na história da dramaturgia” (Divulgação)

Reinventar-se é viver

Por que acha que a Juma ainda é um símbolo? A novela foi ao ar há mais de 30 anos… “Olha, eu também virei fã dela. Acho ela transmitia alguma paz para as pessoas. Para a Juma não tinha preconceito, comparação. Ela trazia o natural, nos sentimentos, nas relações, nas percepções. Acho que a força inspirava. Ela tinha uma aura natural da força feminina vir à tona. Enfrentava a onça na unha, mas protegendo os animais. O resto era sobrevivência”.

Aos 56 anos, Cristiana é mãe de Rafaella, 32, e Antônia, 21, e avó de Miguel. Como a semelhança com as filhas é grande, e Rafaella já teve experiências como atriz no passado, inevitável perguntar: se cogitassem um teste para Rafaella viver a Juma, acha que ela toparia? “Acho que não. Apesar de ela ter feito trabalhos bem-sucedidos e elogiados, como “Hoje é dia de Maria” (2005), em que fazia a filha da Fernanda Montenegro”, diz. “Hoje a área dela é outra, trabalha com marketing. Pensando aqui, seria emocionante, mas isso está no mundo das suposições e acho mesmo que ela não aceitaria. Mas vamos deixar rolar”.

Cristiana e Rafaella: “Seria emocionante, mas isso está no mundo das suposições (ela fazer um teste para Juma). Vamos deixar rolar” (Reprodução Instagram)

A atriz esteve no ar pela última vez na novela “Topíssima” (2019), na Record,  e segue desenvolvendo há alguns anos o trabalho de empresária e palestrante. “Como empresária os trabalhos continuam, mesmo na pandemia. Mas adaptando, aumentamos a ação digital. Estamos trabalhando o triplo, mexeu muito com a economia. Mas tudo foi adaptado. Ter que me reinventar novamente não me assusta. Parar não dá. Há alguns anos, me readaptei após 22 anos de TV Globo, que era uma espécie de segunda casa para mim. Mas fui sem medo, ressignifiquei, me tornei empresária e segui com minha carreira de atriz também. Sou do movimento. E acho que tudo que estamos vivendo, tão difícil, também vai possibilitar novos significados, individuais e gerais”.

Algum conselho, dica, para a nova Juma? “Não sei se é conselho, mas me veio aqui a lembrança, que quando ia começar a gravar como Juma, Jayme me pediu para ver as cenas da Cassia Kis como Maria Marruá para me inspirar. Eu disse que preferia não ver, porque achava que a personagem deveria nascer de mim. Então, acho que a “nova Juma” não deveria ver a versão original, isso gera comparações. O bom é trabalhar na própria concepção, sentimentos e criar a sua personagem, única”.

“Há alguns anos, me readaptei após 22 anos de TV Globo, que era uma espécie de segunda casa para mim. Ressignifiquei, me tornei empresária e segui com a carreira de atriz” (Divulgação)