*por Vítor Antunes
Uma mulher que traduz na vida e na arte a pluralidade da experiência humana, que vai da simplicidade de Campina Verde (MG), onde nasceu, e “do Goiás”, onde morou, ao brilho dos holofotes do carnaval e do cenário artístico. Seja no desafio da dramaturgia ou nas críticas às imposições sociais sobre as mulheres. Rafa Kalimann segue firme, aprendendo com os tropeços e celebrando suas conquistas. Com sua capacidade de transitar entre mundos — da fé evangélica ao samba-enredo, da filantropia ao sertanejo. Encara os percalços com leveza e determinação, vivendo intensamente o presente e inspirando um futuro de coragem, empatia e superação.
Alinhada com o pensamento social, a atriz segue com seus projetos na África, onde atua junto à ONG Missão África. Algo que desempenha desde 2014, com a construção de escolas e provendo assistência para jovens e adultos em Moçambique por meio da educação e nutrição. Além disso, também integra a ONG SOS Pantanal, instituto sem fins lucrativos que trabalha em defesa do bioma Pantanal e na divulgação da natureza e cultura pantaneira. Rafa é madrinha da Brigada dos Pantaneiros, na prevenção de incêndios no Pantanal. Também apoia um projeto da comunidade da Rocinha, batizado “Rocinha em Cena”, que oferece aulas de teatro, dança, música e inglês. No fim deste ano haverá uma apresentação teatral dos alunos atendidos pelo projeto amadrinhado por Rafa.
Rafa é mais uma vez musa da Imperatriz Leopoldinense. A escola de Ramos fará um enredo sobre a história do orixá Oxalá, que foi ao reino de Oyó para visitar Xangô, em “Ómi Tútu ao Olúfon – Água Fresca para o Senhor de Ifón”. Para Rafa, que é evangélica, essa mistura religião-fé-e-cultura é algo muito natural. “Tenho uma relação com Deus mais ligada à religiosidade que à própria religião. Deus, para mim é o elo sagrado que me preenche e isso vai muito além dos preceitos impostos pelos homem. A minha vivência com o carnaval é de pura alegria. É o afeto, é o estar ali com as crianças da comunidade, com os idosos, com o pessoal de sorriso no rosto. Se há outra coisa além, eu não conheço. Estar no carnaval é algo tão emocionante quanto estar no Círio de Nazaré, o qual estive e me sensibilizei muito”.
Não tem como não respeitar a fé do outro, como não admirar. Fé é uma coisa muito forte. E a quem me questiona [por ser assim plural], eu não ligo. Isso vai contra o princípio básico da religião que é a fraternidade. E eu não dialogo com o julgamento, com o preconceito, com a intolerância – Rafa Kalimann
Além de “Rensga Hits“, série do Globoplay, Rafa poderá ser vista em outros projetos voltados para o sertanejo, como o “Circuito Sertanejo“, maior circuito de shows do segmento no Brasil, e apresentando o especial “Amigas“, na Globo, livremente inspirado no show “Amigos”, que a Globo exibiu nos anos 1990, com duplas sertanejas masculinas. Desta vez, Rafa recebe outras cinco mulheres: Ana Castela, Lauana Prado, Maiara e Maraisa e Simone Mendes.
Ele se tornou conhecida pelo público através das redes sociais. O Big Brother, porém, a fez revelar-se para o grande público. Rafa Kalimann é isso: carisma e brilho no olhar mesmo quando é alvo das mais duras críticas – com as que surgiram durante o programa “Casa Kalimann” e a novela “Família é Tudo“, na qual foi a vilã Jéssica. Para Rafa, o saldo na participação na novela de Daniel Ortiz foi positivo: “Esperei tanto por essa oportunidade, fiz tantos testes, procurei agir sempre dentro do melhor possível e acho que a Jéssica possuía tantas nuances, que isso me exigiu esforço e dedicação. Eu tenho a sensação que as pessoas tendem a esperar que eu diga que fui afetada de alguma maneira por conta da repercussão da novela ou da personagem. Mas, pelo contrário. Eu fui para o Pantanal e lá fui chamada pelo nome da personagem. Isso é uma conquista”.
Quanto à importância de sua participação no BBB, Rafa acredita que o programa foi fundamental: “Consegui extrair o melhor possível da experiência do Big Brother. O que eu fui lá dentro foi muito real e me trouxe uma experiência muito valiosa”. Sobre a substituição do Big Boss, a influencer é esperançosa de que Rodrigo Dourado vá manter a mesma qualidade impressa pelo antigo diretor, Boninho.
UMA FADA SENSATA
“Vim, vi e venci“. Rafa Kalimann, com coragem e resiliência, transformou derrotas em força e segue seu caminho. Sua vitória, porém, não foi apenas rápida ou incontestável, mas construída no tempo, marcada por superação e reinvenção. Passou por um reality, por um programa solo contestado e uma novela que não escapou do buzz. Ela sobreviveu a tudo isso. Sobre o “Casa Kalimann“, programa realizado para o Globoplay, ela acredita que foi fundamental para solidificar sua carreira. “Se eu não houvesse passado pelo “Casa Kalimann” eu não ia estar apresentando programa nenhum. Eu precisava passar por lá. E acho legal falar disso. Realmente a internet ficou em cima, mas era o meu primeiro trabalho vivendo aquilo e me joguei de cabeça com muita coragem vivenciando algo que era como a minha carreira de atriz, a qual eu me preparei e estudei. Recebi o convite para um programa com o meu nome e eu abracei a ideia. Todo processo é válido e a toda a experiência forma uma bagagem. E o “Casa” está ali, presente e é um momento importantíssimo na minha vida e pelo qual eu sou muito grata – mas não deixo de rir dos memes”.
Rafa tem mais de apresentadora, de atriz ou de influencer? “Acho que a apresentadora tem muito de mim, assim como a comunicadora das redes sociais. Eu faço isso há 13 anos, então para mim é muito natural abrir a câmera e fazer esse esse fluxo para as coisas acontecerem. De um tempo para cá, eu dei uma desacelerada para focar na minha carreira como atriz, que é algo mais desafiador, que demanda atenção, estudo, preparo dobrados. Sei que em algum momento da vida vou tender para um caminho, mas não tenho pressa para fazer isso. Sou muito feliz como estou, muito realizada”.
Quando participou do Big Brother, em 2020, ela, Manu Gavassi e Thelma Assis eram tidas como as “fadas sensatas” da edição, que também ficou marcada pela questão da pandemia. Neste ano, 2024, Manu anunciou a gravidez. Segundo Rafa, a amizade entre elas permanece a mesma. “A gente não se vê tanto como gostaria, mas quando estamos juntas, parece que estamos nos vendo todos os dias. É uma amizade bonita, confortável, completa”.
Quando alguém me diz ter vontade de ir para o BBB, eu recomendo que vá. Quem pensa muito acaba desistindo. É uma experiência importante de se ter – Rafa Kalimann
COMPOSIÇÃO
Uma das falas de Rafa no BBB20, “acho você, sim, incoerente. Você está onde te convém. Em todos seus jeitos, falas, andados, posicionamentos… Acho você uma falsa, extremamente sem educação, extremamente grossa com as pessoas e extremamente soberba”, direcionada à Flay poderia, sem muita dificuldade, definir o caráter de Jéssica, sua personagem em “Família é Tudo“. Rafa salienta que, especialmente no interior, a personagem foi abraçada pelo público e a personagem passou completa para a atriz. “Para mim foi incrível. Eu tiro grandes ensinamentos da confecção dessa personagem. Não digo que tenha sido perfeita, mas muito satisfatória. Os atores também foram muito carinhosos comigo, todos eles. Fui acolhida pelos colegas, que me defendiam dos comentários maldosos”.
A artista compartilha os desafios de comunicar-se com tanta gente através das redes sociais, ressaltando a importância de ser verdadeira e seguir a intuição: “Eu busco o ser mais verdadeira possível e, em tudo que eu vou postar, se de alguma maneira eu fico confusa, eu compartilho muito com a equipe. Mas, normalmente, eu vou muito na minha intuição mesmo, daquilo que eu sou, do que eu gosto, e compartilho. É muito comum ver nas minhas redes sociais extremos: Eu passando num tapete vermelho em Cannes e tomando minha cervejinha no boteco. Então, não tem essa de eu me preocupar em seguir um nicho, um padrão, uma estética. Eu me preocupo em ser eu mesma. Então, eu falo: se tiver alguém que se identifica comigo, que gosta de estar num super evento, num super jantar, mas também gosta de estar no boteco tomando cervejinha gelada, essa pessoa vai me entender.”
Sobre manchetes sensacionalistas que exploram a aparência femininas, ela desabafa que por vezes, esses conteúdos ignoram as realizações profissionais de mulheres. Para ela, essas situações são ofensivas e refletem uma desigualdade persistente: “Eu, sendo muito sincera, sou uma pessoa muito pacífica, mas, quando vejo essas matérias, eu fico chateada. Principalmente quando vem com títulos muito sensacionalistas, com chamadas que levam para uma matéria que não tem nada a ver com aquilo, que deixa transparecer outra coisa. Tive algumas questões bem delicadas, como paparazzi invadindo a minha privacidade quando eu estava na minha casa tomando sol”.
A mulher tem que ter o direito de expor o corpo dela quando e se ela quiser, e que isso não se torne um elemento chamativo ou principal quando se trata daquela mulher – Rafa Kalimann
Ela também reflete sobre as desigualdades entre gêneros na representação midiática: “Eu comecei a olhar de fato para isso quando percebi que, numa matéria sobre um homem, sempre citavam com muita precisão os trabalhos que ele fazia. E, quando é uma matéria sobre uma mulher, o foco era sempre o corpo.” Apesar dos avanços no debate feminista, Rafa destaca que mudanças profundas levam tempo: “Eu não tenho a ingenuidade de achar que uma sociedade consegue ser mudada em uma única geração. É uma coisa que precisa ser passada por gerações”.
Além de ser uma figura pública, Rafa mantém conexão com sua simplicidade e suas raízes “do Goiás”, equilibrando espiritualidade e filosofia em sua jornada pessoal. Inspirada por leituras como a Bíblia e obras de Mario Sergio Cortella, ela reflete sobre autolimitações e possibilidades: “Acho que não há limite para o que você pode fazer se você dá tudo de si, assume o risco e dá o seu coração. Eu não vou mais reprimir o meu talento. Eu acho que já me reprimi e me limitei muito. Por outro lado, eu sei que há muitas coisas que não posso fazer”.
Uma mulher que traduz em sua vida e em sua arte a pluralidade da experiência humana, que vai da simplicidade “do Goiás natal” ao brilho dos holofotes do carnaval e do cenário artístico nacional. Seja no reality show que a projetou, no desafio da dramaturgia ou nas críticas às imposições sociais sobre as mulheres, Rafa segue firme, aprendendo com os tropeços e celebrando suas conquistas. Com sua capacidade de transitar entre mundos — da fé evangélica ao samba-enredo, da filantropia ao sertanejo — Rafa é mais do que uma atriz, apresentadora ou influencer. É uma comunicadora com raízes profundas e sonhos tão amplos quanto sua jornada. Uma mulher de carne e osso, que encara os desafios com leveza e determinação, vivendo intensamente o presente e inspirando um futuro de coragem, empatia e superação.
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