*por Vítor Antunes
Ela está de volta à TV Globo! Não só a novela “Tieta“, mas a beleza brasileira de Isadora Ribeiro também. Musa da abertura da trama de 1989, que será reexibida na Globo, Isadora é um dos símbolos da novela tal qual Betty Faria, que interpretou a protagonista. Sua imagem é uma das marcas da trama, em razão da abertura, icônica, na qual os elementos da natureza se transformavam em uma mulher. O trabalho em “Tieta” veio logo depois de a atriz haver feito a abertura do “Fantástico”, em 1987. “O designer Hans Donner encontrou-se com o Boni, diretor-geral da Globo, para solicitar a ele que abrisse uma seleção para as modelos que ilustrariam a abertura da novela. Na época, eu era casada com o Hans. O Boni respondeu que não precisaria haver seleção, já que Hans ‘tinha a modelo em casa. ‘Eu quero quer seja a Isadora’, disse ele”.
Isadora conta um pouco mais sobre os bastidores da gravação: “Foi maravilhoso, não só marcou época como foi um trabalho incrível que diz muito sobre a minha trajetória. Eu sempre tive a preocupação de fazer uma aparição leve, de mostrar aquela mulher como uma pessoa livre, selvagem, representada pelas figuras femininas nuas – o que é a essência da própria Tieta, que desafiava convenções e vivia conforme a sua verdade, seu empoderamento, sua sensualidade. Queria que aquela fosse uma imagem leve, quase etérea, suave. Eu acho que isso contribuiu muito para virar essa opinião geral que, de fato, a vinheta era uma obra de arte. Uma ideia do Hans executada em efeito especial pelo José Dias, que demorou um tempo para ficar pronta”. Efetivamente, só a renderização do vídeo – cálculos informáticos de edição de imagem – foram duas semanas.
Além de comentar os bastidores de “Tieta“, Isadora revela que desistiu de criar conteúdos adultos para o OnlyFans. “Não tenho nada contra [quem faz]. Eu ia fazer, mas não quero mais. Não tem a ver comigo. E não tem nenhuma relação com idade ou outro fator. Cheguei até a fazer umas fotos, sempre vestida e com lingerie, mas vi que não tinha a ver”. Quanto aos seus projetos, Isadora esteve recentemente nos sets de filmagem e poderá ser vista na novela “Beleza fatal“, do Max, vai estrear um longa, “Subúrbio”, e quer voltar ao cartaz com sua peça “Diário de Bordo“. “Diário de Bordo é um espetáculo solo. São três esquetes baseados nos textos da autora Maria Sampaio que contam a estória de três viajantes, vividos por mim. O espetáculo tem a direção de Roberto Innocente, falecido em 2021”
A SERPENTE QUE ENCANTAVA O PARAÍSO
Qualquer pessoa que conheça minimamente de novela é capaz de saber que a canção de Luiz Caldas ajudou a imortalizar a novela “Tieta“. Porém, a música de abertura não era essa, mas “Vem Morena“, cantada por Nana Caymmi. Mas, se havia uma certeza, era a presença – e a nudez – de Isadora Ribeiro na vinheta da trama, que agora terá que ser ajustada para passar às 17h na Globo. “Acho que era uma abertura sensual. Não era vulgar, mas artística. Sinceramente, eu não me importo com a decisão que a emissora vai tomar sobre ela. Para mim é completamente indiferente. Mas reconheço nela uma obra de arte”
Me preocupa que em pleno 2024 ainda há gente que esteja aqui falando e discutindo censura para algo tão elegante e simbólico que foi a abertura da Tieta. A nudez está coberta por luzes e efeitos especiais. Há outras e maiores violências e apelos negativos que estão aí, por todos os lados, nas telas e em tudo. Essa novela marcou uma época e acho que a geração atual também pode se encantar com a obra, que celebra as belezas do Brasil – Isadora Ribeiro
Isadora relembra que anteriormente à “Tieta“, ela havia feito a abertura do “Fantástico”. Para a do jornalístico, houve uma seleção feita através de uma agência de modelos do Paraná. Tanto Isadora como Carolina Ferraz participaram da vinheta. “Fui escolhida em razão de eles quererem alguém que possibilitasse essa leitura de mistura de raças, de brasilidade”. A atriz conta outra curiosidade: os adereços em metal que ela levava na cabeça na abertura do Fantástico, significavam “o primeiro ser humano nascendo no mundo”.
“BRASILEIRAS E BRASILEIROS”
Ainda que tenha feito uma participação em “Tieta”, a primeira novela de Isadora Ribeiro, de fato, foi no SBT: Brasileiras e Brasileiros. A iniciativa do canal em investir em teledramaturgia foi um problema. A direção não sabia o que fazer ainda, exatamente por conta de um problema de infraestrutura, ainda que tenha escalado um elenco de peso e contratado um grande diretor, Walter Avancini (1935-2001). Isadora deu vida à Teresa de Ogum. Ela seria outra Teresa, a Tereza Batista, da série da Globo, que acabou sendo vivida por Patrícia França. “Avancini ia dirigir a série e queria que eu fizesse. Com sua saída da Globo, coube a mim fazer a novela do SBT. Fui super bem tratada naquela casa. A rotina de trabalho da novela era intensa, eram cerca de 12 horas por dia, os capítulos chegavam em cima da hora. Por diversas vezes, eu almoçava na comunidade onde gravávamos a novela mesmo, porque não tínhamos refeitório. Íamos à casa das pessoas, que cozinhavam para a gente, e eu fiquei tão íntima que pegava a comida da panela mesmo. Adorava aquela convivência com a família, com os filhinhos das pessoas, o cotidiano delas”. A trama do SBT teve outro inconveniente além da audiência audiência: uma enchente inundou os cenários.
A atriz revelou que os bastidores da novela “Brasileiras e Brasileiros” enfrentaram muitos desafios, incluindo falta de organização. Segundo ela, a produção não era conduzida por uma equipe experiente, e até a exibição da novela era confusa, com mudanças frequentes de horário. “Não era uma equipe experiente aquela da novela. A história, ainda que muito interessante, escrita pelo Carlos Alberto Soffredini, não era exatamente comercial. Era uma obra de arte do Soffredini, mas que não tinha apelo para o grande público. O elenco era ótimo: Edson Celulari, Ney Latorraca, Lucélia Santos… Mas era muito cult, retratava só a pobreza. Isso pode ter desinteressado os telespectadores”, comentou.
Outro trabalho de Isadora que também não foi necessariamente bem-sucedido em audiência foi “Donas de Casa Desesperadas”, da RedeTV!. Gravada na Argentina, a série tinha atores brasileiros que contracenavam com argentinos… que não sabiam falar português e eram dublados! A série “Donas de Casa” foi exibida em 2007. “Não tenho nada contra o projeto, pelo contrário. Nunca atrasaram o pagamento, pagavam direitinho. Eu tinha quatro viagens por mês para voltar ao Brasil, mas quase não voltava, já que minhas filhas ficaram por lá. Tinha toda a estrutura, uma das melhores estruturas, inclusive. Eles alugaram um prédio inteiro de flat. Algo bem confortável.”
MATERNIDADE E TEMPO
Isadora destaca sua dedicação às filhas, Maria e Valentine, e como priorizou a família ao longo da vida: “Eu sou muito mãezona. Quando tive Maria, minha filha mais velha, eu, espontaneamente, diminuí muito os meus trabalhos. Não conseguia mais fazer coisas que me afastassem dela por muito tempo. Acredito que cada mãe tem sua realidade, e não critico quem deixa o filho o dia inteiro fora, só vendo a criança à noite para dar um beijinho enquanto já dorme. Às vezes, a qualidade do tempo importa mais que a quantidade. Melhor ficar cinco minutos bem aproveitados do que o dia inteiro sem atenção. Mas eu sou uma mãe 100% mãe. Agora sou avó e continuo descobrindo muita coisa”.
Em 1995, a atriz integrou o elenco de “Explode Coração” e interpretou a personagem Odaísa, que vivia a dor de ter um filho desaparecido. Ela mergulhou na realidade de mães que enfrentam o desaparecimento de filhos: “Estive com as mães da Candelária e com ONGs das mães de crianças desaparecidas para pegar material. É muito triste. Eu chorava junto com elas enquanto me contavam suas histórias. Conversei com muitas mães que preferiam que seus filhos tivessem morrido de doença, porque assim poderiam visitar o túmulo, levar flores… Mas quando o filho desaparece, nunca mais se tem notícias, e isso é devastador. Foi uma novela muito forte, um personagem muito marcante. A Glória Perez sempre aborda temas polêmicos e importantes que precisam ser discutidos. Na época, a novela ajudou a encontrar 26 crianças desaparecidas. Fiz campanhas também em Portugal, onde a novela começou a ser exibida depois”.
Sobre o envelhecimento e o foco na saúde, Isadora comenta: “Não tenho essa vaidade de querer ser ‘forever young’. Acho que todo mundo tem duas idades: a cronológica e a biológica. Uma é a data de nascimento, e a outra é como você aparenta. Eu aparento bem menos do que tenho. Me cuido, tomo muita água e realmente foco na saúde. Meu grande sonho é envelhecer com saúde, produtiva. Hoje em dia, há um preconceito enorme contra a idade. Há cada vez menos trabalho para pessoas acima dos 40 ou 50 anos. Mas o importante, para mim, é viver bem e de forma saudável”.
Isadora Ribeiro encarna a essência da mulher brasileira: uma mistura arrebatadora de sensualidade e elegância que transcende o tempo. Sua imagem, imortalizada na abertura de Tieta, reflete não apenas beleza, mas a liberdade e a força de uma feminilidade plena. Como a natureza que a moldou na vinheta icônica, Isadora transborda arte, leveza e intensidade, tornando-se um símbolo eterno daquilo que é belo, autêntico e inesquecível.
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