“São escolhas legítimas da mulher, ter ou não filhos. Não é obrigação”, defende Letícia Birkheuer


A atriz, que relembrou o universo da moda, sendo jurada em reality português sobre o tema, se prepara para gravar a segunda temporada em abril, fala da sua estreia no cinema, dos projetos e de liberdade de escolha feminina: “Me considero feminista. Trabalho a minha vida inteira, e desde os 14 anos, sem parar. Nunca quis ou pensei em estar com alguém para me sustentar. Sempre fui muito independente. Muitos relacionamentos meus não deram certo por isso. Trilhei minha vida com independência financeira e nunca tive que dizer só “sim” para algo que não concordasse. É maravilhoso. Sou dona do meu caminho”

*Por Brunna Condini

Na sua estreia nas telonas, Letícia Birkheuer, vive Gabi, em “Solteira Quase Surtando”, que chega aos cinemas no próximo 12 de março. Vivendo uma mulher que abdicou do sonho de ser escritora para desempenhar o papel de esposa e mãe de três, com uma realidade sem glamour e trabalho de sobra, a atriz, que é mãe de João Guilherme, de 7 anos, fruto de seu relacionamento com o empresário Alexandre Furmanovich, conta que consegue realmente se colocar na pele de Gabi.A temática do filme é muito atual. Vivemos em um país caro. É caro ter filho aqui, a mulher tem que fazer um planejamento da carreira. A escola é um absurdo, aluguel, condomínio. Quando estive em Portugal e voltei para o Brasil, vi como é caro viver aqui, mesmo Portugal sendo em Euro. Temos que nos virar muito mais aqui”, conclui Letícia, que esteve ano passado entre idas e vindas ao país, quando participou como jurada do reality show “Tu Consegues”, para descobrir novos talentos no mundo da moda.

Mina Nercessian e Letícia no filme que estreia dia 12 de março (Foto: Allan Vitor)

A ex-modelo segue falando sobre os desafios encontrados por sua personagem, que dá a volta por cima com a ajuda da irmã Bia (Mina Nercessian). “A Gabi não se reconhecia mais, e não sabia fazer o caminho de volta. Por outro lado, a sua irmã só trabalhava e não conseguia ter filho. Tem muito isso, da mulher ter que batalhar a profissão antes de decidir ter filhos, e quando decide, ter que lutar contra o relógio biológico”, analisa. “Me reconheço na Gabi nesta loucura de criança em casa, da birra da criança, essa agitação. A gente fica um pouco louca com filho pequeno. Uma vez, o João Guilherme sentou no chão do shopping e eu disse que ia embora, essa coisa que todas as mães passam. É a realidade de todas as mães. É muito amor, mas uma função e uma responsabilidade para a vida inteira”.

“Tem muito isso, da mulher ter que batalhar a profissão antes de decidir ter filhos, e quando decide, ter que lutar contra o relógio biológico” (Foto: Allan Vitor)

Natural de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, Letícia recorda a época da sua separação, em que precisou se desdobrar, e reinventar o exercício da sua maternidade. “Quando me separei, o João Guilherme era pequeno, tinha 1 ano e 9 meses. Cheguei no Rio e comecei a fazer a novela “Império” (2014). Saía de manhã e chegava à noite. Vinha o sentimento de culpa, a mãe que trabalha e tem filho pequeno tem esse sentimento de culpa constante, quer tentar suprir a todo custo”, lembra. “E não tinha minha mãe perto, mas sempre que ela podia, vinha do Sul. Aí me dava um suporte maior, é importante isso. Essa ainda é minha maior dificuldade. Tem amparo da minha mãe, do pai dele, mas sempre tenho essa preocupação, não tem jeito. Minha família não é daqui, então do meu lado tive que criar o João mais sozinha mesmo. A diferença para minha personagem é que ela tem isso em relação a três filhos, então é um trabalho full time”, conta a atriz, que está namorando, mas prefere ainda não revelar com quem, e não pretende ter mais herdeiros.

“É um tema atemporal, sobre o que a mulher precisa equilibrar na vida” (acervo)

Letícia anuncia ainda, uma sessão especial do filme, no Dia Internacional da Mulher, 8 de março. “É um filme para as mulheres. A história central é sobre a minha irmã, que tem o start do relógio biológico e quer ter um filho, mas ela vai perceber que não tem muito tempo. É o dilema da mulher que trabalha a vida inteira e chega perto ou depois dos 40 anos, e precisa correr contra o tempo”, diz. “É um tema atemporal, sobre o que a mulher precisa equilibrar na vida. E sobre questões comuns, como: Qual é a hora certa de ter filho? Tem hora certa? Ter filho ou não? A mulher pode não querer e tudo bem. Tem que ser respeitado. São escolhas legítimas, ter ou não. Ter filho não é obrigação”.

E segue defendendo a liberdade de escolha feminina, inclusive, nos tipos de relações. “Me considero feminista. Trabalho a minha vida inteira, e desde os 14 anos, sem parar. Nunca quis ou pensei em estar com alguém para me sustentar. Sempre fui muito independente”, confidencia. “Muitos relacionamentos meus não deram certo por isso. Trilhei minha vida com independência financeira e nunca tive que dizer que dizer só “sim” para algo que não concordasse. É maravilhoso. Sou dona do meu caminho”. E conclui: “Eu faço tudo em casa, conserto sofá, instalo filtro. Mas aceito as gentilezas de um homem. Isso não é subserviência, é troca, é afeto, carinho”.

“No programa em Portugal, revivi sentimentos da minha época de modelo, foi incrível. Percebi também as mudanças na moda” (Reprodução Instagram)

Ela estará no Brasil até abril, quando retorna para Portugal para gravar a segunda temporada de “Tu Consegues”. “Esse ano vai ser gravado no Brasil e em Angola, na África. Esse programa foi um meu retorno para o universo da moda, foi bom. Dessa vez como jurada. Foi escolhido o novo rosto da moda em Portugal. E o garoto que escolhemos fez agora um desfile da Gucci. Revivi sentimentos da minha época de modelo, foi incrível. Percebi também as mudanças na moda”.

Focada na carreira de atriz, ela conta que tem mais um filme para estrear este ano. “Fiz “Coração de Leão“, com Leandro Hassum, e tenho feito testes para séries e filmes. Claro que se tiver um convite, vou analisar. Na medida do possível, porque nem sempre podemos escolher os papeis. Mas sigo aprendendo, ano passado fiz três peças. Tenho essa gana de mergulhar por outros universos”, comenta. “Quero me descontruir, improvisar. Nos últimos anos, investi nisso. Estou me preparando, fiz aulas de canto, de dança. Tenho feito essa reciclagem e acho isso importante”.

A gaúcha ficou conhecida no mundo da dramaturgia quando fez sua estreia na TV em 2005, na novela “Belíssima“, como a personagem Erica, uma modelo, nada mais, nada menos, que filha da personagem de Gloria Pires, e neta da de Fernanda Montenegro. Desde então, a atriz fez outras novelas como “Império“, “Malhação“, além de ter mergulhado no teatro. “Me vejo diferente daquela atriz que começou há 15 anos. Cresci como atriz, principalmente pelo teatro. Fiz um homem em uma montagem, e ganhei o Prêmio Nelson Rodrigues de melhor atriz. Acho interessante, você ver essa desconstrução. No teatro se pode tudo”.

“Me vejo diferente daquela atriz que começou há 15 anos. Cresci como atriz, principalmente pelo teatro” (Reprodução Instagram)

E revela sobre os planos profissionais: “Estou com o piloto de um programa de viagens, para a internet. Acho bacana a linguagem, a agilidade de alcance. Meu filho, por exemplo, não tem TV. E mesmo a televisão aberta, está fazendo coisas mais curtas. Acho que essa vai ser cada vez mais o modelo”.