Samya Pascotto, atriz de sucesso da Netflix: “Influenciadores fazem o trabalho de atores, mas é bom que estudem”


Uma das protagonistas do longa ‘Carnaval’, destaque no streaming, Samya estará em ‘Amarração do amor’, que estreia no segundo semestre e aborda a intolerância religiosa. A atriz também se prepara para iniciar a carreira como roteirista e diretora em projetos próprios, e fala sobre as dificuldades para quem deseja atuar no audiovisual: “Vivemos um período que, para além dos rostos que se repetem na TV – e não digo que quem está lá não mereça, falo de ofertas de oportunidades – existem, por exemplo, muitos influenciadores fazendo também o trabalho de atores. Não que não possam se tornar atores, mas seria bom que estudassem para isso. Não acho que exista só um tipo de escola, mas é alguém que pretende se dedicar à profissão?”

*Por Brunna Condini

Samya Pascotto, uma das protagonistas do longa ‘Carnaval’, sucesso mundial da Netflix, não foi daquelas atrizes que sonharam com a profissão, mas se recorda que a partir do momento que se emocionou ao subir em um palco, com apenas 11 anos, sentiu que era isso que gostaria de fazer para o resto da vida. Aos 29 anos, a atriz paulista vem conduzindo a carreira como acredita e trabalhou sem parar na pandemia. Tanto que estará no filme ‘Amarração do Amor‘ e também na série policial ‘Sentença’ na Amazon Prime Vídeo. Mas é o seguinte: Samya quer mais e não fica aguardando receber.

“Tenho tido fluxo de trabalho, mas estou sempre em busca da minha expressão como artista e, agora, quero me dedicar a escrever roteiros também. Acho que ainda falta espaço para as pessoas desenvolverem seu trabalho e isso é triste. Conheço tantos atores que estudam e têm muito a oferecer com suas bagagens para desenvolver um papel lindamente, mas não têm espaço. Não são chamados para trabalhar”, observa, acrescentando: “Vivemos um período que, para além dos rostos que se repetem na TV – e não digo que quem está lá não mereça, falo de ofertas de oportunidades – existem, por exemplo, muitos influenciadores fazendo também o trabalho de atores. Não que não possam se tornar atores, mas seria bom que estudassem para isso. Não acho que exista só um tipo de escola, mas é alguém que pretende se dedicar à profissão? Vai ser um ofício? Porque tem gente se dedicando, batalhando por espaço”.

"Tenho tido fluxo de trabalho, mas estou sempre em busca da minha expressão como artista e agora quero me dedicar a escrever roteiros também" (Divulgação)

“Tenho tido fluxo de trabalho, mas estou sempre em busca da minha expressão como artista e agora quero me dedicar a escrever roteiros também” (Divulgação)

Samya revela que sonha seguir carreira como roteirista e diretora também. “Sempre tive uma prazer em contar histórias. No final das contas, é isso que gosto de fazer. Gosto de elaborar todo ciclo de uma história. E acho que como atriz, você acaba dependendo muito de outras pessoas. Nem sempre os projetos dão conta da minha necessidade de expressão. Claro que é lindo contribuir em projetos como convidada, mas senti a necessidade de fazer o meu. Estava começando a querer interferir nos roteiros dos filmes que fazia (risos), então pensei que estava na hora de trabalhar nos meus projetos também”, conta.

“Não tive planos adiados na pandemia, como muitas pessoas, mas já queria escrever há muito tempo. Estava meio que emendando um trabalho no outro e não tinha tempo. Neste período, comecei a desenvolver meus projetos para poder fazer contato com os canais, tentar produzir. Escrevi um roteiro que desejo também atuar e, outro, que pretendo dirigir. Pequeno, de baixo orçamento, para minha primeira direção. São temas do universo feminino e é o território que me puxa”, detalha.

Samya revela que sonha seguir carreira como roteirista e diretora também. "Sempre tive uma pulsão de contar histórias, no final das contas, é isso que gosto de fazer. É algo primal em mim" (Divulgação)

Samya revela que sonha seguir carreira como roteirista e diretora também. “Sempre tive uma pulsão de contar histórias, no final das contas, é isso que gosto de fazer. É algo primal em mim” (Divulgação)

Samya ainda comenta: “Amo interpretar e acredito que as formas de expressão se somam. Sou atriz, porque é o jeito que consigo  elaborar o mundo. Acho que venho aprendendo muito. Ela me proporcionou tantas perguntas, que precisei  ‘rebolar’ para chegar às respostas e me tornei uma pessoa muito melhor. Essa necessidade de perguntas que o ofício dá o tempo inteiro é muito instigante. É uma profissão que permite evoluir”.

Rir para refletir

Ela celebra do sucesso da comédia da Netflix, que se passa na folia de Salvador, toda gravada antes da pandemia. “Minha personagem, a Vivi, embarca em uma aventura com as amigas vividas por Giovana Cordeiro, GKay, Bruna Inocencio e Flavia Pavanelli. “A trama aborda questões sobre a fama e o cancelamento na internet. Fala da importância das amizades reais. Fazer esse filme foi uma loucura, porque foi meu último trabalho antes da pandemia e no Carnaval, um dos eventos para aglomerar, quando pudermos, que mais esperamos. É uma história leve, divertida, um escape mesmo. Tem a lembrança de juntar os amigos, de uma aglomeração boa. Até gosto mais desse filme do que já gostava, porque foi o último Carnaval que tivemos antes dessa ‘desgraça’ toda, quase um registro histórico”.

"Fazer esse filme foi uma loucura, porque foi meu último trabalho antes da pandemia e no Carnaval, um dos eventos para aglomerar, quando pudermos, que mais esperamos" (Divulgação)

“Fazer esse filme foi uma loucura, porque foi meu último trabalho antes da pandemia e no Carnaval, um dos eventos para aglomerar, quando pudermos, que mais esperamos” (Divulgação)

Com leveza e humor temas áridos na sociedade, como a intolerância religiosa, podem ser colocados para o público, como no longa ‘Amarração do Amor‘, em que Samya contracena com Cacau Protásio, Bruno Suzano e Ary França.“Faço uma personagem judia que se apaixona por um rapaz que é da umbanda. A religião vai ser um ponto de discórdia entre suas respectivas famílias. Aliás, essa é a grande questão do filme: o quanto precisamos aprender a respeitar e conviver com as diferenças”, aponta sobre a trama. “É uma história sobre aceitação do outro, fala desse olhar generoso. Precisamos, mais do que nunca falar sobre isso. Sobre esse espaço de convivência no mundo. Está ficando insustentável mesmo. E nada melhor do que a comédia para tocar em assuntos difíceis. Você chora e ri. E você só ri do que entende, não é mesmo? Abordar temas pesados e importantes para a nossa sociedade através da comédia é uma grande sacada. Acho que é quando você mais se comunica com as pessoas, porque elas ficam mais receptivas. Acredito que as pessoas vão gostar do filme e pensar sobre o assunto. O nosso país tem essa divisão religiosa muito forte”, analisa Samya, que começou a carreira na TV com as bênçãos de Denise Fraga e de Luiz Villaça na série ‘Norma’ em 2009.

Samya entre o elenco de 'Amarração do amor': "Abordar temas pesados e importantes para a nossa sociedade através da comédia é uma grande sacada. Acho que é quando você mais se comunica com as pessoas, porque ficam mais receptivas" (Divulgação)

Samya entre o elenco de ‘Amarração do amor’: “Abordar temas pesados e importantes para a nossa sociedade através da comédia é uma grande sacada. Acho que é quando você mais se comunica com as pessoas, porque ficam mais receptivas” (Divulgação)

Fé é de quem tem

A atriz também fala da sua vivência pessoal com a religiosidade. “Digo que sou evangélica para comunicação se dar, porque temos que nomear as coisas. Com muitas ressalvas a tudo que instituições fazem. Acho que temos esse grande problema nas religiões, porque elas são coordenadas pelos seres humanos”, divide. “Venho de uma família bem religiosa. Cresci na igreja. E quando fui crescendo, fui vendo o que servia para mim ou não. Tenho uma relação com Deus, acredito profundamente, mas tenho muitas críticas e observações. Como por exemplo, a igreja ser majoritariamente gerida por homens, silenciando muito as mulheres. Também silenciando violências que acontecem com mulheres lá dentro. Elas estão sempre neste lugar do segundo plano para um homem brilhar. Ou devem aceitar tudo, porque o ‘chefe’ da casa é o homem. Enfim, tenho ressalvas a esses papeis muito desenhados que parecem beneficiar muito mais um lado da história do que outro. Claro que não são todos os evangélicos que agem assim. Estou falando dos fundamentalistas”.

"Digo que sou evangélica, porque temos que nomear as coisas. Com muitas ressalvas a tudo que instituições fazem. Acho que temos esse grande problema nas religiões, porque elas são coordenadas pelos seres humanos” (Reprodução Instagram)

“Digo que sou evangélica, porque temos que nomear as coisas. Com muitas ressalvas a tudo que instituições fazem. Acho que temos esse grande problema nas religiões, porque elas são coordenadas pelos seres humanos” (Reprodução Instagram)

E finaliza sua reflexão: “Além desta questão do lugar secundário da mulher, tem também a da homossexualidade e como ela é condenada. Algo muito louco. Porque tem isso, a religião foi muito misturada com política muito tempo. Então, os conceitos vêm todos misturados. Acho que temos que falar sobre isso e de como isso perpetua violências reais até hoje”.