Das batalhas para a telinha: Napoleão conquista a HBO pelas mãos de Spielberg


Vida do déspota francês pode virar minissérie de tevê com produção de Steven Spielberg e roteiro de Stanley Kubrick. Mas, com Baz Luhrmann cotado para a direção, será que a trajetória do imperador vira videoclipe?

Um encontro entre conquistadores da realidade histórica e da sétima arte: enfant terrible do cinema, o premiadíssimo Steven Spielberg escolheu o exuberante diretor australiano Baz Luhrmann, responsável por longas megalomaníacos de sucesso, como “Great Gatsby” e “Moulin Rouge”, para dirigir uma minissérie sobre Napoleão para a HBO, baseada em um roteiro inédito de Stanley Kubrick, outro diretor que era conhecido por sua mão de ferro nos sets. Tudo a ver! Ao que parece, o déspota francês tem muito em comum com a forma como cineastas, tipo Spielberg e Luhrmann, conduzem seus trabalhos e, também, com a forma estoica com que Kubrick lidava com as filmagens.

A cinebiografia do imperador francês teria levado Kubrick a juntar, segundo a lenda, 18 mil livros de referência ao longo de 30 anos. Obsessão perde. O roteiro, que conta sua vida, do nascimento à morte, foi escrito em 1961, mas o cineasta nunca conseguiu tirá-lo do papel. No fundo, deve se tratar de um caso de paixão, pois, assim como Napoleão agia com conhecida tenacidade nos assuntos de estado, o cineasta era obcecado por sua maneira de contar histórias, não abrindo mão um milímetro sequer além de suas fortes convicções.

Segundo o Deadline, site especializado em notícias de cinema, um acordo está longe de ser feito, mas Luhrmann é a principal escolha do canal norte-americano HBO para comandar esta produção. A saga do imperador da França era um velho projeto de Kubrick, que, ao propô-lo aos executivos da indústria nos idos de 1971, disse que seria o melhor filme já feito. No entanto, a reputação do longa se tornou a de “maior filme jamais feito”, pois, os estúdios de Hollywood se recusaram a financiá-lo e o mestre acabou desistindo.

Napoleão quase virou realidade nos anos 1970, mas a MGM e a United Artists não quiseram bancar a milionária produção depois do fracasso de longas históricos naquele período, como“Waterloo”, filmado em 1970 pelo russo Sergei Bondarchuk, com grande elenco que contava com Rod Steiger no papel de Napoleão, mais Christopher Plummer, Orson Welles e Jack Hawkins, além de um punhado de estrelas. Era época em que o cinema travava árdua batalha com a televisão, que lhe roubava audiência, e, ainda, com a mudança de comportamento causada pela revolução sexual. Roteiros épicos, ficção científica, musicais e fantasias andavam de bola murcha, sem levar o grande público às salas de exibição, que andavam às moscas, enquanto os produtores cortavam os pulsos. Neste período, estavam na moda dramas sociais e comédias que retratavam o dia a dia da mesma gente comum que sentava na plateia. Portanto, o pai de “Laranja Mecânica”  engavetou a ideia, que nunca mais saiu do papel, se contentando com “Barry Lyndon”, de 1975, que se passa 15 anos depois das guerras napoleônicas.

A primeira vez que Spielberg colaborou com Stanley Kubrick foi quando dirigiu “Inteligência Artificial” em 2001, a partir de uma ideia que os dois desenvolveram em parceria nos anos 1980. O cineasta novaiorquino, morto em 1999, dirigiria o filme logo após “De olhos bem vendados”, mas complicações e sua morte acabaram deixando o projeto nas mãos do amigo. Em entrevista ao Canal Plus, na tevê francesa, Steven Spielberg confirmou que “este é o projeto que Stanley sempre sonhou realizar”.

As negociações com Luhrmann ainda estariam no seu estágio inicial, mas, considerando o estilo rápido de edição do diretor, repleto de cortes frenéticos e movimentos de câmera originários da virtuose dos videoclipes, podemos esperar Napoleão descendo escadarias em cenas musicais, acompanhando de milhares de dançarinos-figurantes vestidos por Miuccia Prada.  Ou coisa parecida. Mais informações devem ser divulgadas em breve, no entanto. Entretanto, o ditador francês está nos planos de pelo menos outro estúdio: um projeto sobre Napoleão encontra-se em desenvolvimento na Warner Bros, que recentemente escolheu o diretor Rupert Sanders para comandá-lo. Vamos ver.

Spielberg

Fotos: divulgação

*Colaborou Rafael Moura