*Com Bell Magalhães
“Depois de Pelé, ele é o brasileiro mais excepcional na história do futebol”. Assim foi apresentado Ronaldo Luís Nazário de Lima, o Ronaldo Fenômeno, durante esta madrugada no Conversa com Bial, do jornalista e apresentador Pedro Bial, na Globo. Durante a sua participação, ele falou sobre a carreira, vida pessoal e os principais desafios que enfrentou nos últimos tempos. Vivendo na Espanha desde o início do isolamento, Ronaldo contou como foi lidar do outro lado do oceano com a internação do pai, Nélio Nazário, e a mãe, Sônia dos Santos Barata, que foram infectados com o coronavírus no Brasil.
“Eles foram internados com um mês de diferença um para o outro. Fiquei muito preocupado pois eles já são idosos e são muito teimosos, então teve uma certa resistência da parte deles para cumprir o isolamento e se cuidarem. De todo modo, continuei me comunicando com eles mesmo de longe. Assim que começaram a surgir os sintomas, convenci eles a procurarem ajuda médica e irem para o hospital o mais rápido possível”. Ainda sobre a gravidade da situação do pai, que é ex-fumante, Ronaldo disse ao apresentador que passou por momentos de muita angústia: “Meu pai teve algumas complicações. Ele ficou com cerca de 75 a 80% dos pulmões tomados, e eu distante, sem poder fazer nada. Foi muito sofrido”, relembrou o ex-jogador.
Outro assunto delicado levantado pelo apresentador foi a recente internação do irmão de Ronaldo, Nélio Nazário Jr., dependente químico. “É uma doença muito séria e pouco falada no Brasil, as pessoas criminalizam qualquer vício e esquecem que isso realmente é uma doença a ser tratada, seja com medicamento, com terapia ou com muita conversa. Graças a Deus ele está ótimo, há 10 meses limpo, firme e forte”, afirma. Sobre o vício e a procura de assistência médica para tratá-lo, Ronaldo diz que é necessário falar mais abertamente sobre a dependência química para que o suporte para o adicto seja ampla e que ele possa tratar da melhor forma esse problema que é de ordem social e de saúde pública. “Existem muitos problemas sociais que ainda são tratados como tabus na nossa sociedade. As pessoas ainda têm medo de falar muitas coisas, mas estamos evoluindo e enfrentando nossos medos e os nossos problemas aos poucos enquanto sociedade”.
Do tratamento necessário do irmão, mostrou-se uma oportunidade de superarem os problemas em família. “O problema de saúde dele nos fez entender que estávamos lidando com uma questão muito maior que o vício dele. Internamos o meu irmão e logo em seguida a família se tratou com uma terapeuta, cada um em uma sessão separadamente”, compartilha Ronaldo, quando ressaltou também: “Eu tenho falado muito com a minha psicóloga, principalmente sobre a minha particularidade, que é parar de fumar. É um objetivo para esse ano, e estava conseguindo até um mês atrás, mas voltei a fumar por conta do campeonato”, contou o ex-atacante que está sofrendo com o desempenho do seu time, o Real Valladolid, que está disputando a La Liga e sofre uma sequência de derrotas.
Sobre a experiência com a psicoterapia, o empresário disse estar muito feliz com os resultados e que as sessões o tem ajudado a controlar a ansiedade e a pensar com mais clareza: “Estou adorando. Havia muito tempo que eu não fazia e eu estou me conhecendo cada vez mais. Ela tem me ajudado muito com a minha família, ainda mais com a minha ansiedade sobre os meus projetos. Com a La Liga, por exemplo, eu fico muito ansioso, mas a terapia me ajudou a reconhecer que tem coisas que eu não posso controlar… Coisas que não estão nas minhas mãos ou nos meus pés, e quem me dera! (risos)”
Carreira, polêmicas e vida pós-futebol
Durante um flashback de uma matéria do Globo Repórter sobre a Copa do Mundo de 1994, no qual Ronaldo era o protagonista ao lado de Paulo Sérgio Rosa, o Viola, Bial pergunta ao ex-jogador se agora, aposentado, com 45 anos e algumas lesões no currículo, ele não sentia compaixão por aquele menino de 17 anos que já carregava o peso da responsabilidade de um país inteiro nas costas. “Acho que eu era e ainda sou tão obcecado por futebol que eu não tenho medo de nada, principalmente se é uma coisa que eu amo fazer. Tenho muita coragem para enfrentar qualquer desafio, mas tenho muita compaixão por aquele menino que enfrentou tanto”, contou.
O apresentador também trouxe perguntas polêmicas à tona. ‘O que foi aquela convulsão na final da Copa de 98?’, perguntou Bial. Há 23 anos, a seleção brasileiro perdia para a França por 3 a 0, em Saint-Denis. Ronaldo esclareceu que ‘a princípio foi estresse, mas não encontramos nada clinicamente que indicasse alguma coisa mais grave’: “Fiz todos os exames para saber se a minha saúde estava em ordem, mas não encontramos nada. O (Mário Jorge Lobo) Zagallo (técnico da seleção na época) não teve nem opção. Fui direto para o meu armário e não falei com ninguém. Estava disposto a jogar a partida, uma vez que tinha provado que não tinha nada de errado comigo clinicamente”.
Outra polêmica abordado foi o caso do envolvimento do então jogador do Corinthians com a travesti Andréia Albertini, em 2009. Na ocasião, Andréia alegou que Ronaldo não tinha pago o valor combinado pelo programa e levou o caso até a 16ª DP, na Barra da Tijuca, onde registrou queixa contra o ex-atacante. Sobre o episódio, Ronaldo foi perguntado se ainda se incomodava com o ocorrido, no que respondeu afirmativamente, e liga o episódio ao abuso de bebida alcoólica: “Me incomoda, mas só fiz mal a mim mesmo. Acho que precisava da minha psicóloga fazendo a minha terapia naquela época (risos). Foi um momento muito difícil, principalmente ligado ao álcool”, pondera.
Bial também lembrou o encontro do fenômeno com o religioso João Teixeira de Faria, o João de Deus, preso em 2018 e condenado a mais de 60 anos de prisão por estupro de vulnerável, violação sexual mediante fraude e posse ilegal de armas de fogo. Sobre a ocasião, o empresário explica que sempre teve curiosidade em conhecer João de Deus. “Eu soube do que ele era capaz de fazer e fiquei admirado. Vi muitas coisas acontecerem no centro espírita. Depois de saber o que ele tinha feito, dos crimes que cometeu, o meu espanto foi gigantesco”. Ronaldo também conta que, na situação, o religioso vendeu uma pedra preciosa para ele no valor de 80 mil reais: “Ele não me pediu dinheiro diretamente, mas me contou uma história de assalto, que e era garimpeiro, um homem comum, e me contou que tinha sobrado algumas pedras depois da invasão. Decidimos ajudar comprando umas pedras. Ele me apresentou uma que era ‘prima da esmeralda’ e decidi comprar. Depois que foi revelado tudo o que ele tinha feito, senti que fui enganado”, desabafa.
Pai de Maria Alice (10), Maria Sophia (12) e Alex (16), que vivem com ele durante o isolamento, Ronaldo não deixa de tecer elogios ao primogênito Ronald, de 21 anos, que seguiu o caminho da música e hoje é DJ: “Ele é muito talentoso, tem algo especial. Com 15 anos, ele estava na dúvida entre ser jogador ou DJ. Ele me pediu a opinião sobre qual caminho seguir e eu disse: ‘Você tem que fazer o que seu coração manda, mas é evidente que as pistas que você está deixando dizem que você está muito mais voltado à música que o futebol. Não pense que eu vou ficar chateado. Estou aqui para te apoiar sempre’”, contou ao apresentador. Desde 2015 em um relacionamento com a modelo paranaense Celina Locks, Bial pergunta o se ex-jogador tem desejo de ter filhos com a namorada, e ele disse, em afirmativo: “Assim que as coisas se tranquilizarem, vamos fazer um planejamento. A melhor coisa que a gente pode gerar na vida são os filhos. Por mim eu teria 15 filhos, mas a despesa seria enorme”, ri.
Natural de Bento Ribeiro, bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro, Ronaldo disse que nunca deixou de ser o ‘menino do subúrbio’, mas que aprendeu a se adaptar às ocasiões nas quais estava inserido. “Tenho vários personagens e me adapto bem. Quando estou na minha intimidade, ainda sou esse menino de Bento Ribeiro, com os meus gostos e as minhas vontades”. Apesar de anos longe do lugar no qual foi nascido e criado, Ronaldo nunca deixou de fazer planos para o bairro: “Tem muito tempo que eu não vou à Bento Ribeiro, mas pretendo voltar em breve pois tenho o desejo de fazer um centro educacional para as crianças e penso em construí-lo antes da Copa de 2022. Eles precisam de um ‘segundo tempo’ depois da escola, para poder incentivá-los a continuar a estudar”, completa.
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