Rodrigo Simas se despede de ‘Renascer’, estreia peça, fala de escolhas mais conscientes e da atenção para vida privada


Com a morte de seu personagem, o ator sai de ‘Renascer’: “Hoje posso dizer que no Venâncio tem muito do Rodrigo. Uma crise existencial de busca artística, no meu caso. Acredito que emprestamos muito para os personagens e o Venâncio também viveu uma crise existencial”, diz o ator, que estará esse ano ainda na série ‘Vidas Bandidas’, da Star Plus e reestreia seu solo, ‘Prazer, Hamlet’. Aos 32 anos, ele fala sobre amadurecimento pessoal, dos movimentos mais conscientes na vida e na profissão, da importância da vulnerabilidade no trabalho do ator e também de como lida com a exposição e com as pressões que circundam um relacionamento longo como o seu com Agatha Moreira. Rodrigo conta se essa atenção pública para sua orientação sexual afetou o casal: “A Agatha sempre soube quem eu era, a gente se conhece muito e ela sempre esteve do meu lado. Eu realmente não tinha planejado nada disso, mas depois que falei, seguimos juntos, de mãos dadas”.

*Por  Brunna Condini

A partir de segunda-feira, Rodrigo Simas se despede de seu personagem José Venâncio em ‘Renascer’. O terceiro filho de José Inocêncio (Marcos Palmeira) morrerá na história, sendo vítima de uma emboscada planejada por Egídio (Vladimir Brichta). Elogiado por sua performance, Simas dá adeus ao folhetim e avalia: “Foi uma jornada mais rápida dessa vez, nunca tinha saído no meio de uma novela, mas estava preparado para isso, foi uma experiência incrível. Me sinto mais amadurecido como ator. Hoje posso dizer que no Venâncio tem muito do Rodrigo. Uma crise existencial de busca artística, no meu caso. Acredito que emprestamos muito para os personagens e o Venâncio também viveu uma crise existencial”, diz o ator, que estará esse ano ainda na série ‘Vidas Bandidas’, da Star Plus e reestreia seu solo, ‘Prazer, Hamlet’, em São Paulo.

Apesar de nos últimos tempos ter uma grande atenção voltada para sua vida privada, Rodrigo diz que o mergulho é no ofício e que fica honrado de ter seu trabalho reconhecido. “Mas tenho meus pés fincados no chão. Acho que isso é fruto do tempo, da dedicação, das oportunidades, da maturidade pessoal e profissional, que vem chegando cada vez mais”. Depois que falou da sua bissexualidade, sua vida pessoal tem tido mais destaque do que de costume. Você se arrepende de ter se aberto sobre o tema? “Não, de jeito nenhum. Na verdade eu só estou sendo. Não planejei falar sobre isso”.

Rodrigo Simas fala da despedida de ‘Renascer’, de escolhas mais conscientes na vida e na profissão, e de como tem lidado com a atenção para sua vida privada (Foto: Divulgação/Globo)

Ainda sobre sua bissexualidade continuar sendo assunto, ele reflete: “Em uma entrevista me perguntaram sobre isso e apenas falei. Não vou dizer que não fiquei tenso na hora, pensando se isso viraria uma pauta, mas eu estava em um momento tranquilo, sabe? O medo de que algo assim viralizasse, como acontece com tudo hoje, não se tornou uma questão, acho que isso é amadurecimento. Agora mesmo, estamos falando sobre isso e estou bem, sendo exatamente quem sou”.

Recebo muitas mensagens de meninos e meninas bissexuais, que ficam gratos por eu falar do tema com naturalidade. E falo também dessa invisibilidade da bissexualidade. Até pra mim foi difícil me entender bissexual, porque tem esse estigma de que é ficar ‘em cima do muro’. Isso tudo vai nos deixando acuados, porque achamos que temos que nos afirmar para um lado ou outro. Então, fico feliz de estar bem só em ser quem sou – Rodrigo Simas

"Estou bem, sendo exatamente quem sou” (Foto: Divulgação/Globo)

“Estou bem, sendo exatamente quem sou” (Foto: Divulgação/Globo)

E acrescenta: “Tenho certeza que ter me libertado verbalmente me ajudou no artista que estou buscando ser. E nessa peça, discutimos a sexualidade de Hamlet, o que parece ter sido em um momento muito interessante. Falando sobre isso e me entendendo também nesse lugar mais público dessa forma. A arte cura, incomoda, acolhe, enlouquece (risos), você se encontra, se perde…isso é o que mais me encanta”.

Em uma relação de quase seis anos com Agatha Moreira, Rodrigo conta se essa atenção pública para sua orientação sexual afetou o casal. “A Agatha sempre soube quem eu era, a gente se conhece muito e ela sempre esteve do meu lado. Eu realmente não tinha planejado nada disso, mas depois que falei, seguimos juntos, de mãos dadas. É muito bom você poder ser o que é, e não precisar fingir para quem está ao seu lado. Amo e admiro muitas coisas na Agatha, como o cuidado que ela tem com o próximo, a sua determinação na vida”.

Rodrigo Simas e Agatha Moreira estão juntos há quase seis anos (Foto: Reprodução/Instagram)

Rodrigo Simas e Agatha Moreira estão juntos há quase seis anos (Foto: Reprodução/Instagram)

Ele também analisa os aprendizados com anos de exposição. “Aprendemos a preservar a nossa intimidade, a nossa vida de casal. Temos nossas vidas públicas, nossas profissões como atores e nossas profissões de internet. É um trabalho também, ganhamos dinheiro com isso, mas entendemos que temos uma vida à parte desse universo. Nossa vida não é em torno desse ‘mostrar’ tudo. Hoje conseguimos equilibrar isso, reservamos o que é só nosso. Já sentimos essa pressão de ficarem perguntando quando vamos casar, quando vamos ter filhos, de falarem em algumas épocas que estamos postando pouco juntos, mas aprendemos a lidar e não nos afeta mais, porque só nos diz respeito. Fora isso, escolhemos compartilhar coisas, momentos e amamos o carinho que recebemos”.

Prazer, Rodrigo

Terminando sua passagem por ‘Renascer‘, o ator já emenda a quarta temporada de ‘Prazer, Hamlet‘, em São Paulo. Rodrigo se desnuda em cena, mergulha fundo nas experimentações e descobertas, e fala de como fazer o espetáculo tem o transformado. Ser ou não ser? “Ser sempre. Sem medo de ser feliz”. E segue: “Esse espetáculo veio na hora certa. Em um momento que de certa forma eu consegui sair da ‘caixinha’ em que me coloquei, que me colocaram. Foi bom e necessário eu ter me arriscado. A peça está muito viva, acho que ainda tenho muitos anos para amadurecer em cena com esse texto”.

Esse espetáculo foi um divisor na minha vida artística e na pessoal também. Tem essa coisa de chegar aos 30, essa revolução de sair do menino para o homem. Tenho vivido isso positivamente, em um lugar de amadurecimento. Me jogar nesse espetáculo fez a virada de entender para onde quero ir. E não vou saber te responder exatamente para que direção, mas sei talvez para onde eu não queira mais ir. É uma redescoberta – Rodrigo Simas

No ar em “Renascer”, Rodrigo Simas se desnuda no palco em "Prazer Hamlet", que estreia dia 5 de maio, no Teatro Ruth Escobar (Foto: Ronaldo Gutierrez)

No ar em “Renascer”, Rodrigo Simas se desnuda no palco em “Prazer Hamlet”, que estreia dia 5 de maio, no Teatro Ruth Escobar (Foto: Ronaldo Gutierrez)

O caminho, a experiência e a maturidade

Rodrigo começou a carreira em 2007, ainda no teatro amador do colégio. “Mas ali eu já ficava maravilhado que alguém poderia viver tendo como profissão fazer aquilo. Quis isso pra minha vida”, lembra. Na TV, os galãs e bons moços gostam do ator e ele não vê nenhuma questão nisso. “Um ganho é o de não me levar tão a sério hoje. Às vezes, a gente se dá tanta importância e isso é tão chato. Estou me arriscando, ousando mais. Não me incomodo de ficar muitas vezes na ‘prateleira’ do mocinho, acho que isso também agrega, mas quero mais, quero ir além, não é o suficiente”, afirma.

“Tratei até isso na terapia. Teve um tempo em que comecei a olhar para trás e não valorizar o que eu tinha feito. E acho que hoje estou galgando um lugar de escolher os meus caminhos por conta de tudo o que já fiz. Um lugar de escolher personagens que me motivem, me tirem do lugar comum, me atravessem de alguma maneira. Estou conseguindo dizer ‘não’ quando não quero, não posso, não consigo. Antes, eu queria fazer tudo e isso as vezes atrapalha. Não me arrependo de nada que eu tenha feito. Tudo serve como experiência positiva ou negativa, aprendizado. Esse excesso de ‘sim’ para o que chegava, tem a ver com o receio de dar as costas para as oportunidades em uma profissão tão instável como a do ator, dava até uma certa culpa”.

Em 'Prazer, Hamlet': "As vezes a gente se dá tanta importância e isso é tão chato. Estou me arriscando, ousando mais" (Foto: Ronaldo Gutierrez)

Em ‘Prazer, Hamlet’: “As vezes a gente se dá tanta importância e isso é tão chato. Estou me arriscando, ousando mais” (Foto: Ronaldo Gutierrez)

Bom de papo e pensando no que está por vir, Rodrigo expõe: “O tempo na nossa profissão é algo rico. Quanto mais a gente trabalha, mais a gente se arrisca, se vulnerabiliza. Isso acrescenta para os personagens, as experiências. Para o Rodrigo do passado, diria para ele se escutar mais e não pensar tanto no que acham. Para o Rodrigo do futuro, diria para não perder o encanto com a existência, porque muitas vezes ela faz sentido e, outras, não faz sentido algum. Também diria para continuar no caminho de não se dar tanta importância, porque tudo pode acabar a qualquer momento. No presente, sofro menos. E acho que a gente se faz assim mesmo, da luz, das sombras, somos tudo. E eu escolho o mergulho com tudo isso na vida, me jogo de bungee jumping”.

"Escolho mergulhar na vida. Não me levo mais tão a sério" (Foto: Divulgação/Globo)

“Escolho mergulhar na vida. Não me levo mais tão a sério” (Foto: Divulgação/Globo)