*por Vítor Antunes
Junto ao fim de uma bem sucedida reprise de “Mulheres Apaixonadas“, encerra-se também a última participação de Rodrigo Santoro numa novela completa – ainda que ele tenha se afastado da produção enquanto ela era realizada. De 20 anos para cá, Rodrigo, em TV esteve apenas em um projeto de teledramaturgia, “Velho Chico” (2016), porém, de forma pontual, em poucos capítulos, numa participação especial. Na última terça feira, o ator foi prestigiar o lançamento da série “Betinho – No Fio da Navalha“, do Globoplay. Uma presença mais que VIP, haja vista que o ator nem sempre está no Brasil e tem voltado seus esforços de trabalho para o mercado internacional. Nesta entrevista exclusiva, perguntamos ao ator se ele tem alguma pretensão imediata de voltar aos folhetins de TV e ele negou, pelo menos agora, para este formato de produção: “Hoje em dia não faz sentido na minha vida. Eu já fiz participações em novelas, em série e em formatos menores. Estou sempre avaliando e vendo. Tudo depende do que vai, da oportunidade, do projeto”. Ainda sobre esse assunto, a seu ver, ele diz que, de alguma forma “nunca saiu do ar”, e que não faz distinção entre plataformas – se TV, streaming, ou cinema. “Eu não separo as coisas. Cinema e TV são projetos, histórias com as quais posso me interessar”.
Havendo projetos que façam sentido para mim, eu os faço. E novela é sempre algo muito grande – Rodrigo Santoro
“Mulheres Apaixonadas“, como citado anteriormente, está em nova reexibição no “Vale a Pena Ver de Novo“, a segunda na faixa. Além disto, foi reexibida no Viva e encontra-se no catálogo da Globoplay. Há uma queixa recorrente entre os artistas de que não há pagamento de direitos conexos e/ou de imagem por isso. Recentemente, houve uma grande grita nos Estados Unidos, que acabou por resultar numa greve dos profissionais do audiovisual. Essa discussão tem mediado várias questões no Brasil. De forma assertiva, Rodrigo apontou que “agora chegou a vez de o Brasil [discutir isso]. Estou querendo ver o que vai acontecer. Nos Estados Unidos tivemos seis meses de greve, uma discussão importante e necessária, que precisa chegar até aqui. Acompanho com curiosidade a fim de saber os próximos passos”.
Entre seus próximos projetos, antecipa-nos ele que estará em cena na série “Bom Dia Verônica“, sucesso da Netflix, no qual será protagonista junto com Maitê Proença, além do longa “O Outro Lado do Céu” do diretor Gabriel Mascaro que está em finalização e será lançado em 2024. Neste filme, distópico, Santoro vive Cadu. E a trama aborda um plano de retomada econômica que faz o governo brasileiro criar um sistema de isolamento compulsório para idosos acima de 80 anos, confinando-os em uma colônia. O filme foi rodado na Amazônia.
Com uma experiência e uma vivência plural que transcendem as fronteiras do Brasil e dos Estados Unidos, onde tem trabalhado sequencialmente nos últimos anos, Rodrigo Santoro é gabaritado para comentar sobre o panorama atual do nosso país. Em outra ocasião, quando conversou conosco, ele destacou, as mudanças que estão ocorrendo no Brasil e que aqui seguem acontecendo. “Politicamente, socialmente e culturalmente, o mundo está em um processo de transformações constantes. Isso não é uma exclusividade do Brasil. Então, quando eu viajo, eu consigo enxergar a realidade de longe para depois, quando voltar, fazer a imersão e a vivência do cotidiano. De certa forma, eu acho que eu consigo expandir o meu ponto de vista para que ele não fique viciado, seja na minha forma de pensar, de entender as situações ou de relacionar. Sempre que eu chego aqui ou nos Estados Unidos, eu tenho o meu processo de readaptação que, para mim, é um desafio constante”, contou o ator que destacou o ponto positivo desta expansão de opinião. “Tem um lado muito bom que é o frescor que esse olhar me traz. Eu consigo me afastar e analisar a situação de longe. Isso é fundamental, porque senão a gente roda junto com a confusão. Quando a gente está no centro das transformações, eu acho que não conseguimos entender claramente o que está acontecendo”, opinou.
Quando o assunto é cultura, sua especialidade, Rodrigo Santoro foi além nas comparações e avaliações. O ator, que presencia a realidade do Brasil, dos Estados Unidos e de dezenas de outros países diariamente, afirmou que acredita que a arte brasileira está em movimento. “No cinema, por exemplo, eu acho que a gente está caminhando e buscando para que os trabalhos cinematográficos brasileiros encontrem sua própria identidade. Aos poucos, as produções foram ganhando espaço até no cenário internacional, mas estão sempre oscilando em momentos altos e baixos. A cultura, na verdade, é um dos maiores bens que o Brasil possui por causa de sua diversidade. Nosso país é muito grande e, por isso, temos expressões plurais para dar e vender”, disse Rodrigo ressaltando a pluralidade do nosso folclore, das nossas músicas e novelas, por exemplo.
BETINHO E COMBATE À FOME
Em face do lançamento da série “Betinho – No Fio da Navalha“, Santoro falou também sobre as atuais políticas de combate à fome, se hoje os programas são eficazes ou se é preciso que ações como aquelas coordenadas pelo sociólogo Herbert de Souza (1935-1997), e que resultaram no surgimento da Ação da Cidadania, são necessárias. Para Rodrigo “eficaz não seria uma palavra adequada para traduzir a política atual de combate à fome. Falar de Betinho é exaltar o seu legado e alimentar esses assuntos para que as pessoas se sintam motivadas a ajudar. E falar dele não é exatamente um resgate de sua memória. Ele é um personagem histórico que por seu tamanho nunca foi esquecido. Essa série é, sobretudo, uma homenagem”, afirma.
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