*Por Brunna Condini
“O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem”. O trecho de ‘Grande Sertão: Veredas‘, do escritor mineiro Guimarães Rosa (1908-1967), se tornou famoso e costuma inspirar por aí nas tomadas de decisões. E também em períodos como o que vivemos, de pandemia mundial, em que precisamos ressignificar os rumos das nossas vidas com muita frequência. O ator Rodrigo Pandolfo se alimentou deste espírito. Tanto, que nos últimos meses experimentou várias versões suas no empreendimento que abriu ao lado da mãe, Lucia, e do irmão, Eric, em Tibau do Sul, no Rio Grande do Norte. O trio foi para o Nordeste no início da pandemia cumprir a quarentena e decidiu abrir uma barraca de praia por lá, a Pandoka. “Foi uma aventura maravilhosa. Chegamos em Tibau do Sul em junho de 2020 e fiquei direto por lá até março de 2021. Voltei pro Rio para gravar ‘Verdades Secretas 2’ e, por enquanto, fico entre Rio de Janeiro e Natal, de acordo com as demandas de trabalho”, conta.
“Nossa família se juntou para levantar esse empreendimento, mas desde o princípio, sabíamos que eu e meu irmão estávamos unindo forças para construir algo que minha mãe pudesse administrar pessoalmente, e, nós dois,remotamente, pois temos outras profissões. E assim aconteceu. Agora, estou no Rio e meu irmão acabou de voltar para o Mato Grosso, onde retomará a carreira de engenheiro mecatrônico. Mas, Dona Lucia está à frente da Pandoka com toda a sua garra e carisma”.
Pandolfo, que grava ‘Verdades Secretas2’ no momento, na pele de um traficante, revela que a experiência de viver um lugar, fazendo outras atividades, foi revolucionária. “E mágica, libertadora, transformadora e muito positiva em todos os sentidos. Todos botamos a mão na massa, e além de empresários, viramos pintores, pedreiros, lixeiros, garçons, faxineiros, produtores e por aí vai. Essa experiência me encheu de coragem para vários outros obstáculos da vida, além e de fortalecer o elo com a minha família”, reconhece. “Nunca havia empreendido antes, mas esse desejo estava pulsando dentro de mim há um tempo. E, nesse caso, abrir um negócio em família foi a oportunidade ideal. Tenho vontade de fazer novos empreendimentos, mas é um plano para daqui a pouco. E, certamente, vai aliar entretenimento, gastronomia e cultura, como aconteceu na Pandoka”.
Foi preciso se refugiar por lá? Qual foi o momento mais difícil emocionalmente nesta pandemia? “Sim, foi preciso. Começamos essa aventura logo no início da pandemia, então nossos planos de viajar o Nordeste inteiro foram interrompidos, de certa forma. Ficamos um mês quarentenados em Cumbuco, no Ceará, e mais um mês em Maragogi, Alagoas. Eram dois possíveis destinos para nos fixarmos, mas Tibau do Sul nos arrebatou e todos os sinais divinos apontavam que o lugar era lá”, avalia. “O momento mais difícil foi ficar tanto tempo sem atuar. Durante a pandemia, entendi que, mesmo abrindo 10 empreendimentos, a arte é que me mantém alerta, presente, em movimento, vivo por inteiro. A arte me salva”.
Por relações reais
Em ‘Verdades’ ele vive o traficante Benji, que se envolverá com um de seus clientes, Bruno (João Vitor Silva), um jovem herdeiro, filho de Pia (Guilhermina Guinle). O ator diz que além dos interesses do traficante, vai rolar sentimento. “Eles vivem uma paixão. Não deixa de ser uma relação conveniente pro Benji, meu personagem, que une o útil ao agradável. Mas tem paixão”, diz. As cenas já gravadas são no melhor estilo da trama escrita por Walcyr Carrasco com direção artística de Amora Mautner, com o intuito de mostrar ao público uma relação mais real entre dois homens. Diferente do que a TV aberta vem mostrando até agora… “A ideia é mostrar a sexualidade como ela é, sem maquiagem. Como trata-se uma obra para o público adulto, é possível sermos mais fiéis à realidade”.
No mês que celebra o orgulho LGBTQIA+, o que precisa ser exaltado e o que ainda precisa ser conquistado? “É preciso exaltar aqueles que botam a cara à tapa no esforço incansável de elucidar um povo que insiste em viver numa falsa redoma moralista. E, à contra golpe, é preciso conquistar o básico: educação escolar, cultural, ideológica, política, filosófica, onde o próprio umbigo deixa de ser o centro do mundo e se abre para caminhar junto com todos os umbigos desse mesmo mundo. Ou seja, princípios humanos mais nobres”. Trabalhando muito, Pandolfo entrega que não tem se relacionado amorosamente: “E estou sentindo uma falta danada. Alguém se habilita? (risos)”.
Pra sempre Paulo Gustavo
Eternizado como Juliano, um dos filhos de Dona Hermínia, no mega sucesso ‘Minha mãe é uma peça’, de Paulo Gustavo, morto vítima de covid no início de maio, Rodrigo ainda acha difícil acreditar na perda. O que ele deixa na sua memória pra sempre, que sentimentos ficam? “O Paulo me ensinou duas coisas fundamentais na vida: lutar com firmeza e coragem pela minha liberdade e, naturalmente, pela liberdade geral. E firmar um contrato de auto responsabilidade com a diversão, a leveza e o humor. O que fica é um sentimento de profunda gratidão e respeito”.
O filme mudou o rumo da carreira do Paulo e de vários artistas. O que significou na sua carreira? “Significou um marco profundo; não só na minha carreira, mas no cinema brasileiro. Foi um dos maiores presentes que recebi da profissão. Uma oportunidade poderosa de comunicar ao público algo tão profundo e urgente: a tolerância”, afirma o ator, que ficou sabendo da internação de Paulo Gustavo quando ainda estava no nordeste: “Sempre tivemos uma relação linda de muita admiração, carinho e respeito”.
E se diverte, lembrando que a maioria das mães têm um pouco de ‘Dona Hermínia’, e admite que a dele não é diferente: “Assim como a Dona Hermínia, minha mãe fala alto, é expansiva, é desbocada, enérgica, cheia de vida. Nossa relação é maravilhosa, baseada no amor, no respeito e no cuidado. Minha mãe me inspira, me encoraja, me liberta e me ensina a ser feliz”.
O que vem por aí? Está dando para sonhar? “Além de ‘Verdades Secretas 2’, estou em três produções de teatro à espera da vacina! Ahhh os sonhos…eles não podem acabar jamais! (risos). Sonho em trabalhar em projetos incríveis com os diretores que amo, como está acontecendo agora em ‘Verdades’, sonho em ter um casamento feliz e saudável, sonho em viajar o mundo, sonho em evoluir sempre a caminho do meu autoconhecimento e da minha felicidade, sonho em ter saúde para realizar todos os meus sonhos”.
EQUIPE FOTOS ENSAIO
Fotógrafo: Vinícius Mochizuki /Direção de estúdio: Rodrigo Rodrigues
Styling : Alê Duprat
Produção de moda: Kadú Nunnes
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