*Por Brunna Condini
Recentemente perguntaram a Rita Batista se ela esperava tudo o que vem acontecendo em sua vida profissional, ou seja, os ‘louros’ que vem colhendo por sua atuação em atrações como o ‘É de Casa‘, na Globo, onde está há dois anos, e o ‘Saia Justa‘, no GNT, no qual estreou este ano, entre outras frentes, como a da escrita (ela lançou o livro ‘A Vida é um Presente: Mantras Para o Seu Dia a Dia’), e é uma das comunicadoras mais influentes do país hoje. “Primeiro a gente faz o que pode, para depois fazer o que quer. E devagar também se chega. Agarrei todas as oportunidades que me foram dadas e avaliei se poderiam me levar onde desejava chegar. Continuo fazendo isso. É preciso também distinguir o que é real, do que é ilusório. Nesse caminho televisivo é preciso enxergar que nem tudo que reluz é ouro. É um caminho que te inebria, as pessoas te amam hoje, o seu nome está na boca de todo mundo, são muitos flashes…mas é preciso esteio, pé no chão, sabendo que isso é momentâneo, e o que é duradouro, passa por isso, mas não se estabelece aí”, afirma.
À pergunta menicionada no início desta matéria, ela respondeu afirmativamente, afinal, são mais de 20 anos dedicados à comunicação. “Esperam que nós, mulheres, sejamos eternamente gratas pelas oportunidades, sem levar em consideração que trabalhamos para chegar lá. Estamos preparadas para ocupar esses lugares, mas ou parece que os lugares não estão preparados para nos receber, ou que as pessoas que estão nesses lugares não querem ceder esses espaços. E quando falo de cessão de espaços, não é caridade, é uma conquista. Se estamos nestes lugares é porque temos competência. E equipes diversas, com todos os gêneros, com pessoas negras, LGBTQIAP+, asiáticas, com deficiência, indígenas, reflete o que somos como país. A diversidade é a maioria de nós, o padrão é que é exceção”. E acrescenta:
Essa inversão social, que é de séculos, foi criada com variadas origens, mas principalmente, fomentada pelos espaços de poder, então é preciso que a gente reveja isso, porque senão não teremos a equidade que pregamos nas instituições- Rita Batista
É sobre autoestima, potência, reconhecimento do próprio valor e trajetória. Abaixo, Rita fala sobre a carreira, conquistas, o Saia Justa, compartilha aprendizados íntimos e fala da história por trás da figura pública:
“É bem como a fala “eu agradeço a mim”, que por aqui ficou famosa na boca de Anitta, mas é derivada da fala de Snoop Dogg (ao ganhar uma estrela na Calçada da Fama de Hollywood, em 2018). Temos que ser gratas mesmo! Porque às vezes fica parecendo que as conquistas não foram por um esforço nosso. Tipo: vamos ver aqui nesse ‘cardápio’ de profissionais quem vamos agora dar essa ‘estrelinha’, né? E não é assim. Sabemos exatamente onde queremos chegar e fazemos o caminho. E hoje, não caminho somente com passos largos, mas firmes. Não estou aqui brincando de ‘jogo da vida’, e vejo isso nas minhas contemporâneas, não têm ninguém se aventurando, todo mundo está trabalhando de olho nos seus objetivos”.
Voz com responsabilidade
Rita é a quinta apresentadora negra a integrar o elenco do Saia Justa, ao longo das 21 temporadas do programa, que hoje tem também no seu elenco Eliana, Bela Gil e Tati Machado. “Quando vejo esse sofá cada vez mais diverso, penso: que massa que a sociedade tem se modificado e exigido isso cada vez mais de nós, profissionais da comunicação, e que os veículos têm se moldado, entendido que Brasil é esse, que deseja se enxergar nos produtos audiovisuais. Todo mundo ganha”, analisa.
“Ali somos quatro mulheres sentadas em nossos privilégios. Obviamente, com histórias e idades diferentes, que experimentaram privilégios de formas diversas em suas vidas. Quando falamos de representatividade das mulheres negras no audiovisual, apesar das mulheres negras serem a base da pirâmide social no Brasil, nós, comunicadoras, estamos no ‘camarote’ dessa base. Não somos como outras irmãs nossas, como as empregadas domésticas, por exemplo, que hoje representam 80% desse tipo de trabalhadoras no país. Somos pretas em diferentes níveis financeiros, intelectuais, de posicionamento. E se falamos de justiça social e sobre as mazelas brasileiras, que a gente fale com essa propriedade que nos foi outorgada por essas mulheres, mas atentando que não experimentamos o que a maioria da população vivencia. Então, precisamos ser porta-vozes dessas pessoas, mas neste lugar de responsabilidade. Não me desligo disso. Tenho uma clientela e é para essas pessoas que falo. Inclusive, quero estar cada vez mais perto delas”.
Autenticidade
Jornalista, apresentadora, escritora, mãe de Martim, 6, aos 45 anos, Rita vê na passagem do tempo a potencialização da mulher que vem se tornando. “Trabalho desde sempre com a coisa da assimetria, da imperfeição, hoje isso é considerado bacana, mas quando eu comecei, não era assim. Sempre cobraram muito, principalmente das mulheres, essa coisa de estar impecável, certinha, com o cabelo arrumado no padrão, as unhas feitas…no jornalismo é até mais tranquilo, mas no entretenimento essas exigências sempre foram maiores. E mesmo no jornalismo, lá atrás já havia um ‘olhar torto’ para esse meu cabelo irregular, que não é alisado, que não é uma peruca. Comecei a usar peruca agora no entretenimento e brincando, mostrando que é peruca. Mostrando exatamente o que sou”, reflete.
“Falando disso, me ocorre um episódio bacana. Irene Ravache foi no ‘É de Casa’, completando 80 anos de vida e 60 de carreira, e nas perguntas do público para ela, quiseram saber como lida com o envelhecimento, se já havia feito procedimentos ou se tinha vontade de fazer. Irene disse que só fez coisas mínimas, porque achava desonesto com quem acompanha sua carreira há tanto tempo e está envelhecendo com ela. E salientou que as rugas também contam histórias e os personagens se adequam aos sinais do tempo. Me identifiquei”.
Não travo nenhuma guerra com a indústria, acho massa o quanto avançamos na estética, principalmente a menos invasiva, mas existem coisas que quero preservar, descobrindo essa beleza com o amadurecimento. Não coloco toxinas em mim, mas passo meus cremes. E quero fazer alguma coisinha no pescoço ainda. Estou ligada – Rita Batista
Honrando a própria história
Baiana, nascida em Salvador, Rita hoje divide a vida entre seu lar de origem, onde construiu uma desejada e acolhedora casa, e o trabalho entre Rio de Janeiro e São Paulo. E honrando a própria história, divide o que começou a formar a mulher que chegou aqui. “Quando nasci, minha mãe, Joana Angélica, que é pedagoga, fez um concurso para a Pefeitura de Camaçari, que naquela época era o polo industrial do Nordeste brasileiro e, por conta disso, tinha níveis de poluição que se aproximavam aos de Cubatão e de São Paulo, já que não existia a preocupação com a responsabilidade ambiental que existe hoje. Minha avó, Valdemira, vulgo Dona Rosinha, ficou preocupada com isso e pediu que minha mãe me deixasse com ela, que me buscasse depois que se estabelecesse por lá. Claro que nunca fui, fiquei com meus avós (risos). Passava as férias com minha mãe em Camaçari. Fui criada por avó. Meu avô, Arlindo, era uma figura emblemática, tinha a principal farmácia local e era botânico. Meus avós já se foram há muitos anos e fazem muita falta, me ensinaram muito”, recorda.
Ao mirar o futuro, a apresentadora conclui: “Estou satisfeita com a minha trajetória até aqui, mas ainda falta muita coisa para realizar. É como os escritores dizem, falta o próximo livro. No meu caso, o próximo programa ou pauta. Tenho muito a fazer, só está começando”.
Tive uma infância tranquila, sem passar por necessidades, guarnecida com amor, estudo, atividades lúdicas, música e artes. Fui muito feliz – Rita Batista
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