“Rio 2”: o diretor Carlos Saldanha e Rodrigo Santoro revelam tudo sobre a nova saga das araras azuis!


Na entrevista, a equipe, com participação de Carlinhos Brown e Sergio Mendes, afirma: “A sonoridade brasileira é peculiar, mas ao mesmo tempo universal!”

Em coletiva realiza nesta tarde no exuberante Parque Lage, no Rio de Janeiro, Carlos Saldanha, o brasileiro diretor do longa-metragem de animação “Rio 2” – continuação do bem sucedido “Rio” (mais de 70 milhões de expectadores ao redor do globo e bilheteria de 486 milhões de dólares), produzido pela Blue Sky e distribuído pela Fox Film do Brasil – fala sobre a continuação da saga das ararinhas azuis Blu e Jade, na companhia de Rodrigo Santoro, que dubla o ornitólogo Túlio, e dos músicos Sergio Mendes e Carlinhos Brown, responsáveis pela trilha sonora. Nesta segunda parte da história, a família de raros pássaros tropicais viaja do Rio para a Amazônia, com um pit stop na Bahia, e, na floresta esmeralda, descobre que não está sozinha, mas que ainda existe uma comunidade desses pássaros encravada na imensidão da selva, longe dos olhares humanos. E, óbvio, o divertido desenho animado acaba descambando para uma aventura com tintas ecológicas, com o habitat dos pássaros sendo ameaçado por madeireiros clandestinos. Confira o que a equipe falou sobre a produção que estreia no Brasil dia 27 de março, quase três meses antes de Copa do Mundo novamente por o país no epicentro da visibilidade mundial.

Blu, Jade e sua família: além de se preservar enquanto espécie, a família de araras azuis recebe a missão de perpetuar a cultura brasileira dentro da universalidade de Hollywood (Divulgação)

Blu, Jade e sua família: além de se preservar enquanto espécie, a família de araras azuis recebe a missão de perpetuar a cultura brasileira dentro da universalidade de Hollywood (Divulgação)

Naturalmente, o fato da proximidade do filme com a Copa do Mundo não é mero acaso, embora o cineasta prefira afirmar que sua relação com o evento esportivo não foi pensada: “Queríamos produzir uma continuação que permitisse novamente a abordagem da cultura brasileira e, como o primeiro filme era muito mais centrado no carnaval e não havia futebol, achamos que essa sequência deveria conter o esporte, tão significativo para nós brasileiros. Acho importante levar um tema daqui para Hollywood, e o futebol é uma das coisas boas do Brasil.” Ainda assim, ele desconversa, mas não nega a boa oportunidade de o filme estrear a pouco tempo do início da celebração esportiva, embora afirme que, tradicionalmente, os filmes da Blue Sky costumem ser lançados em torno de abril.

Saldanha ainda ressalta que o fato de haver brasileiros na equipe (“Uns cinco, além da equipe musical”) não torna o filme menos universal. “Falamos sobre valores familiares, sobre ecologia, preservação, aspectos valiosos na hora de contar uma história e importantes para se deixar como legado para as crianças de todo o mundo – sobretudo as maiores –, já que serão elas quem poderá fazer alguma diferença no cuidado futuro com o planeta.” Mas, por outro lado o diretor alega não ser mera coincidência querer apresentar ao mundo uma deslumbrante Amazônia, além da Cidade Maravilhosa cartão postal, que comparece na primeira parte do filme, assim como na película original: “Embora o enredo tenha uma abordagem globalizada, dentro dos parâmetros hollywoodianos, considero importante mostrar nosso país ao mundo.” Dessa vez, ao invés do carnaval, o Rio de Janeiro exibido é o de outra importante manifestação cultural, o Réveillon, e, em paralelo, ele divide os holofotes, com a selva nativa da Região Norte, desvendada não só através da riquíssima interpretação da fauna e flora, mas por elementos culturais, como danças e ritmos. “Já não era fácil reproduzir elementos orgânicos, como areia, mar, vegetação e morros, no primeiro filme. Agora, com a inclusão da Amazônia, foi preciso lidar com um patamar de complexidade maior ainda no uso da computação gráfica’, afirma. E completa: “È difícil ser autêntico dentro da estilização que a história pede.”

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Fotos: Vinícius Pereira

O produtor musical Sergio Mendes comenta que é complicado passar a sonoridade nacional através do filme, lidando com músicos que não estão estreitamente familiarizados com os ritmos brasileiros, mas que foi fundamental a integração entre ele, o compositor Carlinhos Brown – responsável pelas canções adicionais – e o compositor John Powell, que compôs a trilha sonora do primeiro filme e é conhecido por desenhos como “O Lorax e Em Busca da Trúfula Perdida”, “Happy Feet – O Pinguim” e “Shrek”. Segundo o badalado compositor brasileiro, radicado há décadas nos Estados Unidos, “Rio” era sobre carnaval e passado quase inteiramente na capital carioca, por isso tinha muito samba e bossa nova. “Agora, mesmo com a musicalidade brasileira sendo mundial, foi preciso revelar a viagem das araras pelo interior do Brasil e, por isso, foram usados maracatu, ciranda, ritmos de Pernambuco e até carimbó. E, além de intérpretes internacionais como Janelle Monáe, Bruno Mars e Will.i.am, foi importante contar com talentos brazucas de Milton Nascimento, Barbatuques e Uakti, que conferem a devida brasilidade musical ao longa. “Quando o barco entra na floresta amazônica e se ouve a voz de Milton Nascimento, é a voz do Brasil”, ressalta Saldanha em sintonia com Mendes.

O diretor ainda reforça o conceito de que as coreografias das cenas musicais sejam inspiradas nesses ritmos do Norte e Nordeste, com as plumagens das aves substituindo os movimentos de panos, se bem que também admite a familiaridade do resultado final com as caleidoscópicas danças criadas pelo lendário Busby Berkeley (“Entre a Loura e a Morena”, “Sangue de Artista”, “Cavadoras de Ouro” e “A Filha de Netuno”) na Hollywood dos anos 1930 e 1940. “Existe a escala de grandiosidade do cinema americano, e a obra de Berkeley – que faz parte desse cenário – está no imaginário de todos”, confessa Saldanha.

Já Carlinhos Brown reforça a impressão de que Saldanha fez o longa pensando na música: “Esse diretor é muito musical, é pura poesia.” Tanto que acaba confessando que a música foi primeiro pensada em português para depois ser vertida para o inglês, assim como para outras 35 linguas. E Mendes destaca a importância do trabalho, ao ser traduzido por letristas para outros idiomas, conservar a sonoridade do Brasil: “Não é tarefa fácil. Há coisas que são praticamente indizíveis”. Saldanha finaliza: “Só quero ver como vai ser em russo ou em chinês. A tradução ao pé da letra não funciona, motivo pelo qual tentava passar para cada tradutor a emoção de cada cena, já que muitas vezes a mera transposição de idioma não resolve o problema.”

"Rio 2": o colorido da Amazônia está na moda (Divulgação)

“Rio 2”: o colorido da Amazônia está na moda (Divulgação)

Plenamente engajado como o sentimento nacionalista, ainda que universalizado da equipe, Rodrigo Santoro é outro que defende o seu personagem, o ornitólogo que acredita que conversa com as aves nos idiomas delas. Trazendo a questão da dificuldade de assumir a brasilidade da dublagem em qualquer idioma, ele – que faz a voz do personagem tanto na versão em português quanto na em inglês – afirma que é mais fácil, nesse tipo de filme, se expressar na língua pátria. “Mas, em contrapartida, me identifico tanto com a paixão de Tulio pelos animais, que sua inocência me comove. Ele tem muita poesia e seu lado desastrado é pueril, de uma pureza absurda!”

O ator, que chegou ao Rio nesta madrugada, vindo de mais de um mês de gravação em Copiapó, no deserto de Atacama, Chile, estava sob a batuta da diretora Patrícia Riggen, que dirige “33”, o drama real sobre os mineiros que ficaram presos dentro de uma mina durante mais de 70 dias. Santoro estrela o filme junto com Antonio Banderas e Juliette Binoche. O longa terá sua première no festival de Cannes, em maio.