Ricardo Linhares, autor limitado a salvar novelas com baixa audiência, é convocado para estancar a queda de ‘Fuzuê’


Limitado a ser supervisor de texto e a salvar a audiência de novelas que não vão bem de audiência, Globo não reconhece o talento de Ricardo Linhares. Contratado da casa há 40 anos, Ricardo teve poucas chances de voo solo na emissora carioca. Assinou apenas duas obras totalmente autorais. Sua última novela “Saramandaia” (2013) é o remake da obra original de Dias Gomes exibida em 1976. Agora éa vez de Ricardo intervir em mais uma trama problemática: Fuzuê, que desde a estreia vive instabilidades de audiência e repercussão, além de números modestos no Ibope

*por Vítor Antunes

Autor de inúmeros sucessos em projetos assinados coletivamente, como “Tieta”,Pedra Sobre Pedra” e “Fera Ferida“, e sem escrever projetos solo desde 2013, Ricardo Linhares tem sido lembrado pela Globo ultimamente por suas habilidades como “bombeiro”. Convocado pela emissora a “apagar os incêndios” e resolver tramas com baixa audiência, a Globo acaba restringindo o autor a mero supervisor, sem dar a ele chance de projetos autorais em horários mais nobres. Ricardo agora volta a por a mão na massa, a fim de tentar estancar a contínua queda de audiência de “Fuzuê”, primeira novela de Gustavo Reiz na Globo. A trama que tem Marina Ruy Barbosa parece estar padecendo do “mal da sucessora” e fracassando no Ibope, não mantendo os índices de “Vai na Fé“. Na casa desde 1983 – há 40 anos, portanto -, Ricardo está sem assinar trama há 10 anos e a Globo apequena o autor. Só assinou três novelas na emissora líder de audiência. Uma às 18h, “Agora é Que São Elas” (2003); uma às 19h “Meu Bem Querer” (1998); e uma às 23h, o remake de “Saramandaia” (2013). Esta, baseada no original de Dias Gomes. Em abril chegou a circular nos grandes portais que Ricardo escreveria para o horário das 21h, uma novela chamada “O Grande Golpe“, em parceria com Maria Helena Nascimento. Mas com a previsão do remake de “Vale Tudo“, a pré-produção de “Renascer” já acontecendo e a conformação do retorno de João Emanuel Carneiro  o horário nobre da casa, torna-se grande a possibilidade da dupla Nascimento-Linhares não ser contemplada em nenhum horário.

Quanto ao atual cartaz das 19h mudanças já estão acontecendo. O grupo de discussão, iniciativa recorrente da Globo para conhecer o público consumidor de seus produtos, apontou que a galera-do-sofá quer que o maior mistério da trama – o tesouro escondido na sede da loja que nomeia a novela – seja antecipado. Também há a reclamação que o público não compreende a trama. Estes ajustes estão acontecendo antes mesmo da chegada do autor mais experiente.

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Nicolas Prattes e Giovanna Cordeiro fazem par romântico em ‘Fuzuê’ (Foto: Divulgação/TV Globo)

DISCIPLINANDO O FUZUÊ

Desde a estreia da novela das 19h, a instabilidade tem sido uma das marcas do folhetim de Gustavo Reiz. O clima descontraído da trama, colorida e cheia de referência às novelas não tem surgido muito efeito junto ao público telespectador. A média de “Fuzuê” em suas oito primeiras semanas foi de 21,8 pontos. Abaixo da antecessora, “Vai na Fé“, que pontuou 21,3 . Pesaria a favor da novela protagonizada por Giovana Cordeiro, a condição mais favorável para estreia e, justamente, a alta audiência da antecessora. Olhando em retrospecto, das novelas anteriormente assinadas por Gustavo na Record e no SBT – “Os Ricos Também Choram“, “Dona Xepa“, Escrava Mãe” e “Belaventura”, nenhuma foi um estouro de audiência.

Ainda que já houvesse a previsão de algumas reviravoltas para a trama, como Luna e Preciosa (Marina Ruy Barbosa e Giovana Cordeiro, respectivamente) serem irmãs, o retorno do pai delas, César Montebello (Leopoldo Pacheco) e a entrada de Talita Younan dando vida à cantora sertaneja Selena Chicote, que será par de Jefinho (Micael Borges), caberá a Ricardo Linhares aparar as arestas da novela das 19h.

Ele já esteve assessorando outras tramas, ou que vinham cambaleando na audiência ou que estavam sendo capitaneadas por autores com menos experiência em voos solo. Algo semelhante ao que está acontecendo hoje com “Fuzuê” ocorreu com “Deus Salve o Rei” (2018). Ainda que não tenha tido um Ibope fabuloso após a entrada de Linhares, a trama de estreia de Daniel Adjafre recuperou o fôlego já próxima do seu fim. Outras novelas que tiveram autores estreantes contaram com Ricardo na supervisão de roteiro: “Cheias de Charme“, de Filipe Miguez e Izabel de Oliveira; “Amor de Mãe“, de Manuela Dias; e “Rock Story“, de Maria Helena Nascimento. Todas com bons resultados.  A única a não ter jeito, mesmo depois de intervenção, foi “A Lei do Amor“. A proveitosa parceria entre Ricardo e Maria Helena, inclusive, teve como fruto “O Grande Golpe“, projeto que esteve cotado para entrar no ar no horário das 21h. Não se sabe se a trama será levada ao ar mais.

Inclusive, há de se lamentar as poucas oportunidades dadas a Ricardo para assinar projetos solo. Dos treze projetos assinados por ele, apenas dois são totalmente autorais. “Meu bem Querer” (1998) e  “Agora É Que São Elas” (2003). “Saramandaia” (2013), ainda que escrita por ele, foi criada por Dias Gomes (1922-1999). As três tiveram Ibope mediano, diferente das outras que escreveu em parceria com Aguinaldo Silva. Ainda neste semestre outro sucesso a contar com a co-autoria de Linhares voltará ao ar: É “Paraíso Tropical“, que substituirá “Mulheres Apaixonadas” na faixa “Vale a Pena Ver de Novo“. Exibida em 2007, a novela foi escrita por ele e Gilberto Braga (1945-2021). Indicada ao Emmy, a trama ficou marcada por sua vilã, Bebel, vivida por Camila Pitanga.

Camila pitanga foi Bebel em “Paraíso Tropical”, novela que estará de volta no Vale a pena Ver de Novo (Foto: Acervo/Globo)