Um dos destaques na reprise de Verdades Secretas, o ator Reynaldo Gianecchini deixou bem claro em entrevista ao programa Conversa Com Bial, que passa longe do estereótipo criado pelo público a respeito da vida dos famosos. “Como é muito forte essa cobrança de que você tem que ser bonito o tempo todo, galã, eu amo quebrar essa questão da imagem, porque eu não sou galã nem glamourizado no meu dia a dia. Então, toda vez que tenho oportunidade de mostrar isso, eu adoro. Amo uma palhaçada, amo descontruir”, frisou ele, ao lembrar uma participação no extinto Casseta & Planeta. Inclusive, nessa pandemia começou a assumir os cabelos brancos que tem desde os 25 anos e que já pintava antes mesmo de estrear na TV, em 2000, como protagonista na novela Laços de Família. Agora, ele pretende deixar a barba na cor natural.
Giane , que vai completar 50 anos em novembro de 2022, começou a tirar um pouco essa imagem do galã, na primeira vez que foi convocado para interpretar um personagem cômico, o Pascoal, na novela Belíssima, em 2004. “O Silvio de Abreu acreditou em mim. Quando aceitei o convite, falei para ele que ali podia ser o começo ou o fim de uma grande coisa, eu podia ser talvez escorraçado. Mas acreditei na proposta e mais do que tudo acreditei que eu ia aprender a fazer comédia junto com Claudia Raia e Cacá Carvalho. Ali também eu aprendi a me divertir, acho que faltava isso. Eu tinha muito o peso da responsabilidade, de encarar um protagonista. Eu comecei assim com Laços de Família (2000/2001), onde aquele peso era maior do que tudo. Não me diverti ali. Todo dia, eu chegava em casa quase chorando. Enfim, com o Pascoal aprendi a me divertir, liguei o dane-se”, ressaltou ao jornalista Pedro Bial.
Sem contrato fixo com a Globo ele disse: “Isso me dá uma uma liberdade que tem tudo a ver com esse momento que eu quero entender também como artista, que processos eu quero passar. Sempre fui muito feliz na Globo, nunca fiz nada que eu não quisesse, mas estou me organizando, porque eu quero além de tudo, de incorporar dança, canto, tenho projetos. Desejo muito pegar mais a rédea da minha vida profissional, não quero ficar esperando um convite”, explica, contando que deve estrear, em março, sob a direção de Jorge Farjalla, uma adaptação do filme Brilho eterno de uma mente sem lembranças.
Assim, lembrou do quão difícil foi sua estreia. “Me disseram que o personagem era a minha cara, ele era um jovem do interior, apaixonado por uma mulher mais velha, que seria interpretada pela Vera Fischer. Cresci assistindo aquele mulherão. Assim, era algo tão surreal saber que eu ia estrear na televisão ao lado dela e da Marieta Severo. Já estava gravando há uns três meses, quando estreou. Eu estava nervoso demais, não tinha condição de assistir com ninguém. Assim, fui ver sozinho no hotel que eu estava hospedado. A medida que eu ia assistindo, comecei a me criticar demais, claro, era muito estranho me ver pela primeira vez, com aquela voz de criança, mal colocada. Eu era muito verde, não tinha muita noção. Paralelo a isso, o telefone foi tocando. A galera toda de Birigui estava enlouquecida, achando o máximo. Meu pai que era todo quietão estava todo orgulhoso, feliz, achando o máximo também e eu comecei a chorar, porque era uma contradição aquelas duas realidades: O que se passava dentro de mim e o que se passava na cabeça das pessoas, que viam isso como sucesso. Tinha um compromisso tão grande com essa profissão que eu estava abraçando, que eu sabia que ainda não estava bom”, enfatiza.
Em Laços de Família, Carolina Dieckmann gravou a clássica cena em que a personagem raspava a cabeça por conta do câncer. O ator recorda que ele e Vera Fischer assistiram a gravação. “Ficamos todos tocados, no final todo mundo se abraçou”, contou. Dez anos depois, ele enfrentou um câncer agressivo no sistema linfático, passou por transplante de medula e careca retornou ao palco sete meses após o diagnóstico, quando fez um discurso emocionado ao final da peça. Ainda hoje, toda vez que assiste o vídeo desse momento ele se emociona. “Era minha volta para tudo, pra vida, para o trabalho e naquela plateia, eu convidei praticamente o hospital inteiro, os enfermeiros, meus médicos, todo mundo que eu tinha uma gratidão tão gigante e eles estavam torcendo tanto por mim. Lá estavam também minha mãe, irmãs, nem sei como consegui falar, pois quando entrei no palco começaram a bater palmas. O que mais me emociona e me faz chorar na vida, geralmente é ver a manifestação do amor”, comenta no programa global.
A partir da experiência da doença passou a ter mais coragem para enfrentar a vida. “Antes, a minha coragem estava muito voltada para as conquistas na profissão. Quando estive doente e me curei, outros departamentos começaram a ser muito importantes, como a questão do afeto. Isso precisava ser regado. Eu era muito relapso em regar as amizades e não ficar apenas na superficialidade. Aí entendi que faltava isso na minha vida”, observou.
Em 2019, após rodar o documentário Fédro, ao lado do diretor José Celso Martinez Corrêa, Gianecchini concedeu entrevista para a jornalista Ruth de Aquino, no jornal O Globo. “Começamos a falar muito de liberdade, algo que já estava reverberando muito por conta do documentário que eu tinha feito. Aí começamos a falar de sexualidade e ela falou se podia dizer que eu tinha uma fluidez, que tudo é possível mesmo, se eu já tinha tido romances com homens, mulheres. Olhei para dentro de mim e de novo olhando para a questão das amarras, pensei que estava em um ponto da minha vida que eu conquistei a liberdade de poder assumir isso pra mim e até para as pessoas. Não necessariamente estou preocupado com o que vão pensar sobre isso, falei ‘não estou em nenhuma gaveta’, quando quis dizer da fluidez da sexualidade, é que eu acho que a sexualidade é o canal da vida, tudo passa por ali. Tenho relação de muita intensidade com a vida, quero conhecer a complexidade de um ser humano vivendo com todas as nuances e fazer as minhas escolhas e, é claro, que isso reflete na minha sexualidade. Tenho tanta curiosidade pela vida, na minha sexualidade. Não quero me fechar em nenhum conceito. É isso que eu quis dizer, não quis levantar bandeira se é gay, se é hetero. Não sei em que palavras eu me encaixaria, nem quero saber. Não sou isso ou aquilo, e talvez seja tudo”, refletiu.
Fédro, do diretor Marcelo Sebá, foi apresentado em outubro, na 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Adaptado do texto de Platão (429 AC-347 AC) ‘traz reflexões filosóficas do diálogo entre Sócrates e o jovem Fédro servem de disparadores para uma aula sobre a vida, passando pelo amor, a beleza, o desejo”, explicou o ator em seu Instagram. O filme é um reencontro com a origem de Giane ao lado de José Celso Martinez Corrêa, com quem começou a trabalhar como ator no Teatro Oficina, em São Paulo. “Eu morava no exterior, era modelo em crise não queria ser só aquilo, comecei a pensar em ser ator. Acabei entrando em crise, porque quando parei, parou a fonte. Comecei a ficar sem dinheiro e eram caríssimos os cursos que eu queria fazer em Nova York. Nessa época, conheci a Marília (Gabriela), começamos a namorar e ela me deu esse impulso de falar, poxa, não sou só esse corpinho. Ela foi um espelho pra mim. Resumindo, casei com ela, comecei a fazer cursos, ganhando dinheiro com publicidade e falaram do teste com Zé Celso para fazer a peça Cacilda, que ia ser encenada”, recordou.
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