*Por Brunna Condini
Divulgando o longa ‘Uma Família Feliz‘, que entra em circuito nacional nesta quinta-feira (4), Reynaldo Gianecchini conversou conosco sobre o filme, sobre família, vaidade, beleza e maturidade. Na produção dirigida por José Eduardo Belmonte, ele é Vicente, marido da protagonista vivida por Grazi Massafera. O casal tem três filhos e vive aparentemente uma vida perfeita, mas como se trata de um thriller psicológico, nada é exatamente o que parece.
O tema leva Giane a pensar sobre a própria família e sua forma de se relacionar com a vida, inclusive depois da fama. “O filme é sobre o que escondemos, o mundo das aparências. Já a minha família sempre foi muito pé no chão e me deu isso na vida. Todos sempre curtiram o meu trabalho, mas nunca em um lugar de deslumbramento. Pelo contrário, me puxaram muito para a realidade, para que eu não esquecesse nunca quem sou, as minhas origens, para que não pirasse com esse universo da fama. Minha família é desde o início o meu porto seguro, porque me mantém arraigado às coisas que são essenciais”. E vai além em sua reflexão:
É muito fácil a gente se perder. Trabalhamos com esse mundo do sonho, do falso glamour, das aparências. Então, se todo dia você voltar pra casa e não entender que aquilo é só um trabalho, que aquela fantasia não é parte do seu dia a dia, que você é um ser humano como outro qualquer, é perigoso, porque a mente te leva a não conseguir enxergar a realidade como é – Reynaldo Gianecchini
Completando 24 anos de carreira desde que estreou em ‘Laços de Família‘, na Globo, Giane reforça. “Venho de uma família de classe média, então sempre soubemos muito o valor das coisas, de cada conquista, com trabalho, honestidade. Isso é muito bom, porque quando você começa a lidar com questões de poder, dinheiro, ego, em uma escala muito maior do que em Birigui, de onde vim, em um universo onde isso estrapola, é muito importante ter dentro de si esses valores bem certos, assim aprende a lidar com tudo de outra forma. Porque senão nada preenche, né? Posso dizer que cada conquista minha foi muito comemorada, porque sei o valor de cada coisa que tenho. E essa noção vem muito da minha família”.
As pessoas podem até não te dar o valor que você acha que merece, mas você tem que saber valorizar suas conquistas. Só você sabe o quanto batalhou por cada coisa –Reynaldo Gianecchini
Filho de Heloisa e de Reynaldo, de quem recebeu o mesmo nome, falecido de um câncer em 2011, e irmão de Roberta e Cláudia, o ator faz questão de exaltar.” Além de ser o amor incondicional, família é para onde você pode sempre voltar, inclusive quando está ‘quebrado’. Eu tive muitas situações dessas, uma delas, foi quando estive doente ( o ator descobriu e tratou um linfoma não Hodgkin em 2011). Aí você tem a dimensão desse amor da família, onde você pode ser nutrido, cuidado. É onde você busca sua força para seguir”.
Beleza e amadurecimento
Ele não é apenas o galã na dramaturgia há muito tempo, mas sua beleza ainda o leva à imagem do ‘homem perfeito’, mesmo que aparentemente, como no longa ‘Uma Família Feliz‘. Ser olhado hoje, como representação do belo o incomoda? “Não, nunca me incomodou. Acho que você tem que jogar a favor disso. O galã também é legal, desde que não te restrinja, desde que você não fique só no estereótipo dele e não faça mais nada. Sempre busquei quebrar um pouco isso nos meus personagens no teatro e até na televisão, onde também fiz uns galãs ‘meio tortos’, uns antigalãs. Isso também fez parte das minhas escolhas e tive ótimas oportunidades”.
Ser ligado à beleza, não pode ser um fardo. Tem que se lucrar com isso, tirar proveito, e por quê, não? Só não quero que me limite. E, de certa forma, nas artes todo mundo busca o belo, que tem muitas formas. Quero que esse belo que vem de mim tenha várias camadas. Gosto de atores que não se levam tão a sério, não são vaidosos e põem a arte como uma forma generosa de oferecer para o público. Isso cria uma dimensão gigantesca como artista. É esse tipo de artista que busco ser – Reynaldo Gianecchini
Aos 51 anos, Gianecchini também fala do tempo: “Tem sido muito bonito esse processo de amadurecimento que vem com o envelhecer fisicamente. Hoje eu me gosto infinitamente mais, do que sempre me gostei. Me acho mais interessante e mais bonito. Claro que já existiu aquele apogeu da beleza, aquele frescor de ser jovem, do auge do colágeno (risos), do corpinho mais sequinho, mais em cima, mas isso é menos interessante do que o que conquista com a maturidade, quando está encaixado dentro de você. A beleza também tem a ver com se gostar, se entender, saber como pode se expressar na sua potência. Isso te torna lindo. Quando você se torna senhor da sua vida, se torna proprietário de toda a sua potência. Acho que isso tem acontecido comigo neste processo de amadurecimento, de eu gostar de mim sem fazer concessões, sem ter que agradar ninguém. Esse caminho te dá uma força, que te torna mais interessante. Para mim ficou tudo melhor depois do 40 e poucos anos”.
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