*Por Brunna Condini
Para a cultura e o entretenimento, 2021 foi melhor que o ano passado. Com o avanço da vacinação, teatros voltaram com seu público, mesmo que reduzido, e os cinemas reabriram, na mesma condição. Nosso país teve estreias importantes com suas produções e ganhou uma bela ‘fatia’ de espaço na programação do streaming, com diversidade de temas e a possibilidade de estar em evidência mundialmente. Pensando nisso, convidamos nosso parceiro, o autor, diretor, roteirista e pesquisador em teledramaturgia, Valmir Moratelli, para nos ajudar a montar o Top 7 de quem e o quê nos fizeram parar o olhar, refletir e nos comover através do entretenimento.
1º – Wagner Moura e seu ‘Marighela’ (Seu Jorge)
“Esse talvez tenha sido o trabalho mais importante do cinema que migrou para o streaming em 2021. Merece total destaque por ser o primeiro filme do Wagner, que mostrou um amadurecimento grande e uma compreensão de set, que somente os artistas mais sensíveis conseguem ter. ‘Marighela’ é uma história real de um personagem necessário para se entender a importância do combate da luta armada contra a ditadura militar no Brasil, do ponto de vista de um negro”, aponta Moratelli. “Há muitas camadas dentro desse filme, principalmente pelo embate que rolou entre a produção e a Ancine, que não liberava o longa. Houve uma censura prévia desse governo contra a produção e por tudo que Marighela representa e representou”.
2º Marcos Mion: o apresentador e sua reinvenção
“Ele era um apresentador mediano na Record, que conseguiu em pouquíssimo tempo na Globo, conquistar a empatia do espectador. Mion chegou com humildade, mostrando nas redes sociais toda a alegria de estar ali na emissora, criando uma conexão imediata com o público. Isso tornou fácil assimilá-lo à frente do ‘Caldeirão’. Um programa que já era consolidado na grade da Globo com a figura do Luciano Huck”, analisa o pesquisador.
“Ele tem tudo para crescer ainda mais. Foi sabiamente aproveitado nesta ‘dança das cadeiras’ que aconteceu na emissora nos cargos de apresentação. Chegou até a ser cotado para apresentar o Big Brother Brasil, mas como já está mandando muito bem à frente do ‘Caldeirão’, ficou por lá. O programa ainda precisa criar um laço afetivo com ele, mas acompanhando sua desenvoltura vemos que é questão de tempo. Marcos Mion já dá a identidade dele para a atração, trazendo uns resquícios de MTV para dentro de uma grade engessada como a da Globo”.
3º Ivete Sangalo como apresentadora
“Já sabíamos de toda a força de comunicação que Ivete tem com seu público, não à toa, durante muito tempo reinou absoluta dentro do show business brasileiro, como a grande voz. Está em todas as edições do Rock in Rio, é hit atrás de hit, e uma mulher que conseguiu com o programa The Masked Singer Brasil trazer uma versão interessantíssima de comunicação, em um programa em que o papel do apresentador nem tem tanto destaque. Ivete conseguiu com a sua personalidade trazer sua cara para a atração, que inclusive foi muito bem de audiência, um dos achados da Globo para um ano muito morno na programação. Inclusive já está confirmada na segunda edição em janeiro”.
4º Regina Casé e sua brasilidade novelesca
“Após tantos anos longe das novelas, ela voltou ao horário das 21h em ‘Amor de Mãe’, uma trama que foi interrompida no auge da pandemia, algo inédito. Regina retornou na segunda parte, gravada ainda durante a pandemia, já que todos queriam muito saber quando aconteceria o encontro entre Lourdes, sua personagem, com Domênico (Chay Suede), seu filho. E conseguiu trazer a delicadeza e a força que a maternidade propõe no imaginário nacional, carregando o título da novela à cada capítulo. Por tudo isso, queremos ver cada vez mais Regina Casé atuando em novelas e não apenas em filmes”, observa Valmir Moratelli. “Ela é uma atriz que traz muito da nossa brasilidade, coisa que desejamos ver cada vez mais presente na televisão. Não queremos atuações ‘nórdicas’, queremos ver atrizes como ela e tantas outras que nos comovem”.
5º ‘Um Lugar ao Sol’: pelo conjunto da obra e destaque para autora Lícia Manzo
“É um elenco estrelado, difícil destacar um único nome, seria injusto. Escolho destacar a Lícia Manzo, que assina a novela e se coloca como uma grande autora nessa nova geração de autores de novelas das 21h. Ela não só mostra maturidade na sua escrita, como fez um país inteiro se apaixonar e acompanhar uma novela das 21h. Muitos críticos apontavam que a pandemia tinha feito o público se ‘divorciar’ das novelas, se apaixonando cada vez mais pelo streaming”, opina.
“A Lícia mostrou a força que a telenovela ainda tem. Seu texto é forte, redondo, seco e direto, sem ‘barriga’, como dizemos no jargão de roteiro. Ela resgata o que temos de melhor na teledramaturgia. É uma história clássica. Quantas vezes já vimos irmãos gêmeos que se separam na infância, sendo que um é bom e outro mau? Isso não é novidade, mas essa é uma história muito bem amarrada, com personagens muito bem construídos e uma fotografia linda”.
6º Zezé Motta: legado e a ressignificação da velhice
“Esse é um nome das velhas gerações, e digo isso em um ótimo sentido. Um nome que veio com força total este ano, em dois projetos que são caros para mim. Até pensei muito antes de colocar o nome dela na lista para não parecer que estou puxando para o meu lado (risos), mas Zezé Motta é formidável em qualquer projeto. É uma das maiores atrizes brasileiras, tem uma voz potente, é reconhecida por toda a sua história, todo legado que construiu ao longo de uma carreira incrível”, destaca Moratelli.
“Ela esteve à frente do especial ‘Falas da Vida’, um projeto lindo que a TV Globo fez esse ano para enaltecer a questão da vida das pessoas mais velhas. E está no meu filme, disponível na Globoplay, o ‘Prateados – a vida em tempos de madureza’. Zezé é um dos grandes nomes deste ano por sua força, história e por mostrar que a velhice negra tem representantes mulheres em papeis de protagonismo. Ela que já foi protagonista em tantas obras ao longo da vida e chegar à maturidade com a lembrança do público em papeis de destaque, é para se louvar, necessário”.
7º Camila Queiroz e as novas possibilidades
“Camila foi destaque este ano não tanto pela qualidade técnica da sua atuação, mas porque questionou uma estrutura de mercado consolidada no Brasil e que se vê cada vez mais ameaçada por conta do avanço das empresas de streaming”, avalia. “Se destacou definitivamente quando saiu da gravação de ‘Verdades Secretas II’, faltando pouco para fechar a trama. Ela que era o grande símbolo da novela, toda história girava em torno da sua personagem, Angel”.
“A Camila amadureceu muito como atriz desde a primeira temporada de ‘Verdades Secretas’, é visto que tem uma experiência maior, mas ainda está em processo de formação. Não dá para falar que é uma grande atriz, tem um caminho pela frente. Essa saída da Globo pode dar a opção dela experimentar direções diferentes, textos diversos, que talvez a TV aberta não oferecesse. E teve coragem: quantas rasgariam ou não renovariam um contrato, estando em ascensão, no topo, com uma personagem consolidada? No momento em que muitos se deixam levar pela facilidade, dinheiro, status. Com essa decisão, trouxe sua potência da juventude para a personagem e também faz a gente questionar o mercado. Isso é o mais interessante. A Camila questiona o mercado do qual ela faz parte e nos faz pensar em novas possibilidades”.
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