Repórter agredido, “arrogância” de atleta, narrador resignado e look controverso. 10 momentos polêmicos da Copa 22


De Jojo Todynho, passando por look de Deborah Secco, falas contraditórias, posicionamentos questionáveis e protesto de atletas, as polêmicas correm solto na primeira Copa no Oriente Médio. Listamos os 10 que permearam só esse início dos jogos

*Por Vítor Antunes

A Copa do Mundo é um dos eventos de maior repercussão na mídia. A grande quantidade de jogos, aliada ao enorme apelo popular do futebol transforma o evento esportivo em um dos programas mais vistos da TV. Com dois dias de transmissão, e em jogos que não são os da Seleção Brasileira, a Globo tem alcançado o triplo de audiência de suas concorrentes. Para além do sucesso comercial e de repercussão, o torneio vem cercado de polêmicas. Veja 10 situações que já deram o que falar envolvendo famosos e a Copa do Mundo:

Jojo Todynho

Escalada por sua espontaneidade para ser comentarista da Central da Copa, da TV Globo, Jojo Todynho foi uma das grandes surpresas do time global. Sua presença contempla justamente o telespectador plural, incluindo aquele que, tal como ela, não é profundo conhecedor do esporte ou das seleções e só embarca na festa esportiva por conta da grande comoção que ela provoca. No entanto, Jojo foi criticada nas redes antes mesmo de sua estreia. E o troco dela? Foi lá e fez bonito, especialmente por ela haver sido afirmativa na problemática questão LGBTQIAPN+ que envolve o Catar e pela divertida eleição dos jogadores mais galãs do torneio.

Alex Escobar e Jojo Todynho, os apresentadores da Central da Copa (Foto: João Miguel Junior/TV Globo)

Deborah Secco

O convite à Deborah Secco para e sua participação no “Tá na Copa”, da Globo, dialoga muito com a presença de Jojo Todynho. Tal como a cantora, Secco está ali presente para comentar os jogos e o evento sob a ótica do entretenimento. Deborah já foi casada com o ex-jogador, e atual comentarista da Globo, Roger Flores. O que, segundo ela, a fez entender mais sobre futebol. Porém, a estreia da atriz no segmento foi duramente criticada pelo seu look, tido por muitos internautas como excessivamente arrojado. A atriz vestia um cropped e uma calça de cintura baixa com a alça da calcinha aparecendo – um hit dos anos 90 que voltou à moda atual com a estética Y2K. Interpretada por uns como sendo uma roupa “desnecessária para a proposta do programa”, a atriz mandou às favas as críticas e postou outra foto com a legenda: “Sendo quem eu quero ser”. Cada um tem direito de ser quem quiser. Essas críticas seriam um machismo estrutural? Ou questão de dresscode? “Vou continuar comentando a Copa do Mundo do meu jeitinho, aprendendo com vocês, vibrando, rindo e me divertindo. Isso é Copa, isso é aproveitar ao máximo”, declarou em suas redes sociais.

Deborah Secco no “Tá na Copa”. Atriz foi julgada por seu look (Foto: Reprodução/Instagram)

Gustavo Villani

Gustavo Villani é um dos mais incensados narradores da nova geração, dono de vários bordões bem-humorados, como “gol de videogame”, ou “camisa que entorta o varal”, e irá assumir alguns jogos importantes junto ao time de narradores da Globo. Todavia, o locutor não está no grupo que viajou pro Catar. O jornalista fará as transmissões dos estúdios da Globo, razão pela qual, o funcionário da detentora dos direitos de transmissão da Copa se disse profundamente chateado por não ter ido ao Oriente Médio. “No meu íntimo, com os meus sonhos, na minha conversa de quem narrou a final de 2014, e que ia narrar o Brasil em 2018, eu tô p***. Me olho no espelho e penso: jamais imaginava que isso ia acontecer. Agora: estou p*** com a Globo? Não, eu entendo, eu tenho discernimento, teve uma pandemia, o câmbio explodiu. É uma Copa cara…”, ponderou, em entrevista ao canal Duda Garbi

Gustavo Villani. O locutor resignou-se por nao haver viajado para o Catar (Foto: Leonardo Rosário/TV Globo)

Galvão Bueno

Galvão Bueno já iniciou o ano dizendo que esta seria a sua última Copa do Mundo e que ele se aposentadoria das narrações. O popular locutor da Globo, famoso pela intensidade e paixão que imprime à voz, não apenas deixaria os microfones como a Globo, a qual está contratado pela segunda vez, desde que deixou a malfadada Rede OM, que mais tarde daria origem à Rede CNT, em 1993. Porém, ao contrair Covid, Bueno foi afastado da narração do jogo de abertura do torneio, Catar x Equador, sendo substituído por Luís Roberto. O programa especial que o teria como protagonista, o “Bem Amigos” especial para a TV aberta foi cancelado em razão do coronavírus. E o sucesso comercial de Galvão, que nunca havia feito tantos anúncios, acabou por fazê-lo repensar a tal aposentaria aqui fora também.

Galvão Bueno e sua indefinida aposentadoria (Foto: Daniela Tovianski/TV Globo)

Eric Faria

O repórter Eric Faria iria comentar sobre a proibição da entrada de bebidas alcoólicas nos estádios cataris quando foi surpreendido por um torcedor que, distraidamente, trombou com o jornalista exatamente na hora de sua entrada ao vivo para o Bom Dia Brasil do dia 18/11. Abalroado, o repórter empurrou bruscamente o torcedor tirando-o do enquadramento da câmera. Rapidamente a imagem viralizou, obrigando o jornalista a desculpar-se. Algo que ele faria em sua entrada no programa “Redação SporTV”: “Obviamente que a imagem já viralizou. Eu estava de costas, preparado para fazer minha participação no Bom Dia Brasil e levei um baita esbarrão de um torcedor, que realmente estava distraído. (…) Tomei um empurrão e a minha reação foi empurrar também. Obviamente não é a melhor das reações (…) Acabei tirando esse torcedor de perto de mim de um jeito mal-educado. Tentei até pedir desculpas a ele (…). Não teve maldade da parte dele e nem da minha”, afirmou.

O jornalista Eric Faria na região do deserto do CatarEric Faria. Jornalista foi surpreendido por um torcedor e o empurrou ao vivo. O repórter desculpou-se (Foto: Divulgação/TV Globo)

Neymar

O “Menino” Ney tornou a estar nos holofotes por conta de uma postagem em suas redes sociais, que foi muito problematizada. Neymar tirou uma foto da sua bermuda oficial da Seleção, onde constam as cinco estrelas conquistadas pelo Brasil, e adicionou eletronicamente uma sexta, através de um emoji. A postagem repercutiu negativamente na Europa. O jornal alemão ‘Bild’ a classificou como sendo o “primeiro ataque de arrogância” do jogador brasileiro.

Neymar foi acusado de arrogância pelo jornal alemão “Bild” (Foto: Reprodução/Instagram)

Victor Pereira

Diante da forte política LGBT-fóbica do país islâmico que sedia a Copa do Mundo, que proíbe manifestações de afeto públicas, entre pessoas do mesmo sexo ou não, mesmo a bandeira símbolo da causa, a que traz o arco-íris, tem entrada proibida no Catar. O jornalista Victor Pereira, da TV Nova, afiliada da TV Cultura em Pernambuco, foi, truculentamente abordado pela polícia catari que atribuiu à bandeira do estado natal de Pereira, o Pernambuco, uma manifestação de apoio à causa gay. “Fomos abordados por conta da bandeira de Pernambuco, que tem um arco-íris, e acharam que era a bandeira LGBT”, afirmou o repórter em suas redes sociais. Ainda segundo ele, a polícia exigiu que o vídeo da abordagem agressiva fosse apagado. Não houve argumento que os demovesse da ação. Ainda de acordo com o publicado pelo profissional da TV Nova, os policiais pegaram “a bandeira de Pernambuco, jogaram no chão e pisaram”, queixou-se.

Victor Pereira. Jornalista pernambucano foi agredido pela polícia catari (Foto: Reprodução/Twitter)

Harry Kane

Ainda sobre a questão LGBTQIAPN+, o capitão do time inglês, Harry Kane decidiu que no jogo de estreia de sua Seleção a braçadeira que o define como líder de sua equipe, seria nas cores do arco-íris, tendo como objetivo, justamente, trazer luz à intolerância que o emirado islâmico que sedia a Copa pratica junto à população homossexual. Porém, qualquer manifestação política é vetada no torneio, sob pena de o infrator receber um cartão amarelo. Desta feita, o atleta jogou em sua partida de estreia usando o acessório com a frase “Não à discriminação”, que foi liberada pela FIFA. Além disso, os jogadores ingleses, também como forma de posicionamento político se ajoelharam em combate ao racismo antes do começo do jogo.

Harry Kane e a braçadeira que lhe foi permitida usar (Foto: Divulgação/FIFA)

Delegação dinamarquesa

A delegação dinamarquesa optou por protestar contra o Catar através do seu uniforme, distribuído pela Hummel. Tanto o uniforme principal como o secundário terão apenas uma cor sólida, sem destaque tanto para o escudo da Federação de Futebol Dinamarquesa, como para a logomarca da fornecedora. Segundo a empresa, trata-se de um posicionamento contrário ao modus operandi catari no descumprimento aos Direitos Humanos, tanto na já citada intolerância à causa gay, como nas condições subumanas e análogas à escravidão às quais os operários estavam expostos para a construção dos estádios cataris. Segundo o Jornal inglês The Guardian, somados os bengalis, cingaleses, paquistaneses e indianos, são mais de 6.000 os mortos nas obras para a realização da Copa – e essa informação é reiterada por vários veículos de imprensa. A TV alemã Deutsche Welle, porém, sinalizou que esse número expressivo se refere a todos os estrangeiros mortos naquele país em toda uma década. Esse número supera a casa dos seis mil operários mortos no Catar na última década. O veículo, então, relata que os dados sobre a quantidade de mortos nas obras é inconsistente “dadas as inconsistências e deficiências nos próprios dados oficiais do Catar, é impossível chegar a uma conclusão concreta, o que, por sua vez, levanta a questão de saber por que razão exatamente as autoridades do Catar não são capazes de fornecer informações fiáveis.”

Kit de uniformes da Dinamarca. Cores sólidas para protestar (Foto: Reprodução)

Fifa

Diante de toda a controvérsia pela escolha do Catar como sede da Copa, somado ao fato de notícias sobre corrupção – segundo a BBC, “o Catar foi acusado de pagar US$ 3,7 milhões a funcionários da Fifa em subornos para garantir seu apoio. No entanto, uma investigação de dois anos inocentou os dirigentes do país” – a caótica eleição da sede fez com que o ex-presidente da Fifa, Joseph Blatter, classificasse a escolha do Catar como “um erro”. Além do líder afastado, as falas do atual mandatário da instituição Gianni Infantino, diante das críticas que o órgão recebeu, também não foram bem-vistas. Ele disse que sofria preconceito por ser ruivo: “Eu sei como é ser discriminado, como é ser tratado como um estrangeiro. Como criança na escola eu sofria bullying, porque eu tinha cabelo ruivo e sardas”. Sua fala invalida, assim, a população minorizada e subjugada do Catar – gays e mulheres. Muitas delas, aliás, estão indo aos estádios pela primeira vez, já que o acesso das moças aos ginásios é condicionada à permissão dos maridos. Toda essa diferença cultural tem sido discutida e colocam a Fifa em maus lençóis, também por conta dos problemas que jornalistas estrangeiros têm enfrentado: Um repórter holandês teve sua entrada ao vivo derrubada com a alegação que “não houve permissão para as filmagens”. A uma jornalista argentina, que havia sido furtada, a autoridade policial perguntou qual a pena que o furtador deveria tomar pelo crime. Diante dessa complexa situação, a primeira Copa no Oriente Médio tem tudo para ser, também, a mais polêmica das edições.

Gianni Infantino, presidente da Fifa (Foto: EFE/José Mendez)